quarta-feira, 2 de abril de 2014
O meu 25 de Abril (33)
Passo agora a explicar como se transforma uma escola numa prisão, e foi o que aconteceu ao meu Técnico nos anos 73 e 74 até ao 25 de Abril. De facto tudo era permitido para manter a fachada da normalidade, para um sistema que tinha tudo de anormal. Comecemos pelo principio. Para ser prisão tinha de ser fechada, e foi isso que o director Sales Luis montou. Primeiro, como se considerava um democrata, convocou todos os estudantes por carta para uma RGA, que se realizou no estádio universitário, no pavilhão, pois o IST estava encerrado, e onde "propôs" o seu esquema, claro limitou-se a informar o pessoal. A escola estaria sempre de portões encerrados, para evitar a entrada de agitadores exteriores à esscola ( a velha tese dos agitadores a soldo de interesses inconfessáveis), e a entrada far-se-ía pelo portão da Alameda, onde se abria uma barraquinha onde quem entrasse tinha de se identificar e só entravam os portadores de um cartão especial que foi criado e entregue. O cartão era retido, e na saída era devolvido. Assim sabia-se sempre quem estava na escola, e para evitar problemas, foram retirados, ou não foram entregues cartões a determinadas pessoas, os tais "agitadores a soldo". A qualquer momento o cartão podia ser retido o que impedia o aluno de entrar. Este sistema foi implantado no reinicio do ano lectivo em Outubro de 1973, em troca a polícia de choque deixava de estar em permanência estacionada na escola, o que não impediu ainda algumas chamadas da polícia. Reconheça-se que não era o Sales que a chamava, pois parte do poder já não estava nas suas mãos. Elementos de outras escolas não podiam entrar, pois não dispunham do cartão mágico. Assim em Outubro recomecei o terceiro ano de novo, pois o ano lectivo anterior não tinha chegado ao seu termo, no entanto as cadeiras já feitas nesse ano eram consideradas. Os alunos expulsos ficaram de fora, e só o 25 de Abril os reintegrou. Entretanto quase todos os dias havia incidentes, apupos, protestos, meetings, afixação de cartazes, e outras actividades mais ou menos contestatárias. Isto sob os olhos de alguns vigilantes que tomavam as suas notas, o que podia levar a "reter" o cartão e assim impedir a entrada dos mais activos. Foi isso que me tramou !!!
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