Estive cerca de uma semana em Lund. A minha intenção era exploratória, para ver as condições de vir fazer o salto, como o meu amigo. Na realidade fui tendo adiamentos militares até ao 25 de Abril e a guerra acabou por me passar ao lado. Por lá as coisas funcionavam com tranquilidade. A Suécia tinha uma activa política de apoio aos que se opunham ao colonialismo, graças à politica dos social democratas com Olaf Palme à cabeça. Assim após uma apresentação às autoridades explicando que se era perseguido no país de origem era possível obter estadia, apoio monetário e alojamento, bem como aprendizagem da língua. Não conheço os detalhes, mas aparentemente o meu amigo estava bem integrado e corria tudo bem. Claro a Suécia era outro mundo, a calma era muita, a liberdade grande, em todos os domínios, a limpeza era impecável nas ruas, o tempo era sempre muito cinzento, na altura anoitecia pelas 4 da tarde, e pelas 5 da manhã já era de dia, não havia a "bica", bebiam uns baldes de "café" de saco, mole e sem grande sabor, reconheço que nesse aspecto nada se comparava com o nosso Portugal, ao fim de semana o pessoal enfrascava-se, pois a venda do alcool era controlado e reduzida a lojas do Estado.
Estava na altura de pensar em regressar, e assim fiz. Faltava ainda mais de 15 dias para a data a que tinha de chegar, não só porque o Inter Rail caducava nos 21 anos, mas a autorização de saída também iria caducar pouco tempo depois. Planeei a viagem de regresso, coisa que o viajante deve fazer, e organizei-me para estar uns dias em Copenhaga, depois Munique, Genebra e de novo Paris, onde cheguei no inicio de Outubro de 1973. Tinha gostado tanto da cidade que pensava lá estar mais alguns dias, agora já a pensar no regresso ao rectângulo. Munique também me tinha agradado, até pela coincidência de ter passado durante a Festa da Cerveja, tradicional na Baviera, onde grandes alemães comiam salsichas gigantes, e canecas de cerveja que nunca tinha visto antes. Uma alegria indescritível. Da Gare de Austerlitz a Santa Apolónia, onde cheguei a 5 de Outubro de 1973, num comboio meio vazio, e tristonho, ao contrário da saída num comboio a atafulhar de emigrantes, crianças, panelas de sopa, cabazes com enchidos, e vinho a rodos, na alegria da saída. O regresso era sempre triste, sabíamos que voltávamos para os "oito séculos de história" regados com o vinho dos pobres e o sangue dos soldados. Uma desolação !!! Que falta fazia o 25 de Abril, nem sabíamos quanto !
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