Já vai o tempo em que seguia o Festival, o de cá e o de lá, quando lá cantavam o Tordo, o Paulo Carvalho, a Simone, entre outos, e quando lá fora sabíamos que nada era possível, era a "política", como se dizia, Portugal era perseguido pela sua politica colonial, e mesmo quando se fez representar por um negro nada mudou. Depois do 25 de Abril, passou-se para uma fase contrária, com alguns de esquerda a serem também ostracizados, talvez porque a sua mensagem era inoportuna, num Festival musical com intuitos comerciais. Então se era de comércio que se tratava vamos por aí, e durante anos Portugal esteve presente com musicas feitas por medida, tirando excepções, mas mesmo assim "o azar persegue-nos esconde-se à espera". Nessa fase eu pessoalmente não acompanhava nem cá nem lá, e sobretudo lá assistíamos a todas a piruetas, luzes, fogos de artifícios, e até uma cantora de barba tivemos. Nada feito! Agora em 2017 o Festival de cá começou por ser diferente com o convite a diversos músicos de reconhecido mérito, compositores que prezam fazer bem as coisas, e tudo parecia indicar que se iria "cair" numa música complicada, com conteúdo pensado e pesado, uma música elaborada para "não ganhar" pois ganhar já seria piroso. E apareceram os manos, a Luisa com créditos firmados, percurso a partir do jazz, e algumas produções comercialmente rentáveis, mas sempre no meio de boas prestações. O Salvador, menos conhecido, eu apenas lembrava o percurso de qualidade que teve nos Ídolos acabou por dar uma voz e imagem inesperadas. Senti que ali havia algo, uma letra de uma simplicidade tocante, uma música que remete para os grandes clássicos americanos, e uma linha melódica reconhecível sem ser "orelhuda". E afinal haveria interesse em saber qual o destino desta música icónica, pelo que o Festival para mim teve interesse cá e lá. Claro que o de lá apontei para ouvir o Salvador, e a votação, tudo o resto não tinha interesse, com gorilas em palco, cantoras deitadas no chão, ou falsos solos de saxofone, do pouco que vi. Para mim este rapaz salvou o Festival, e curioso, o público europeu recusou a intoxicação. Ele há coisas !
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