domingo, 9 de março de 2014

O meu 25 de Abril (13)

Do meu 25 de Abril faz parte integrante e teve uma enorme importância para a minha formação, educação política e informação, um jornal que na altura uma alta autoridade chamou "o pasquim cor de rosa". Não sei bem como me tornei assinante, mas julgo  que veio do tempo em que estive no IIL e um dos meus amigos mostrou-mo. Passados uns tempos, talvez já em 1970, quando já tinha uma ocupação que me dava uns trocos, decidi assinar o tal pasquim. Ainda não disse o nome mas é o "Comércio do Funchal". Um jornal editado no Funchal, onde a censura estava subrepresentada, o jornal, apesar do seu impacto nacional que teve nos anos antes do 25 de Abril, era "visado" como um jornal regional, que na realidade não era. O jornal tinha um formato pequeno, era impresso em papel cor de rosa e o director era um jornalista hoje reconhecidissimo, Vicente Jorge Silva. Mas outros por lá passaram. Se calhar assinar não era uma coisa boa, pois a partir de certa altura as policias sabiam que quem lia este jornal era mais do que "cor de rosa", mas dadas as dificuldades de o encontrar, passei a assinar e mantive essa assinatura até depois do 25 Abril altura em que o MRPP tomou conta e como era hábito da casa tornaram o jornal numa porta voz sectário da sua bizarra politica, ou seja mataram-no transformando-o naquilo que alguém chamou "vómito cor de rosa". O jornal no seu formato da altura, renasceu em Janeiro de 1967 e resultou da compra de um titulo já existente. Apresentava interessantes dossiers acerca do país mas também da politica internacional, rubricas que inspiraram a imprensa nacional, e textos de intervenção política. Era "extraordinário e quase miraculoso" no dizer de Mário Sacramento, segundo julgo e foi a maior e mais engenhosa finta à censura. Quando o recebia, era semanário, lia tudo de uma ponta à outra, e para quem lia também os outros jornais, era uma leitura refrescante, como um copo de água fresca, num ar quase irrespirável. Guardei religiosamente durante muitos anos a coleção de todos os exemplares, até que as voltas da vida lhe deram descaminho e lá se foi na voragem. Fica uma enorme e grata recordação da alegria que me trazia.

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