sexta-feira, 14 de março de 2014
O meu 25 de Abril (20)
Nesta altura, inicio dos anos 70, liam-se jornais, ou pelo menos eu lia e muitas pessoas liam também, de manhã e à tardinha, as ruas, estações de comboios, metro ou barcos, tinham sempre ardinas com os seus pregões que lhe davam uma vida particular. Não havia os meios de hoje, a televisão não tinha credibilidade e as rádios um pouco melhor sobretudo o RCP. Nos jornais havia de tudo, desde os porta vozes do regime, "Diário da Manhã" por exemplo, jornais da situação, quase todos, dominados pela auto censura ou pela censura se a outra não funcionasse, seria o caso do Notícias, Século, Capital, Popular, havia depois outros diários que ousavam um pouco mais, caso do "Diário de Lisboa" e, a partir de 1972 o "República" que julgo que só nessa altura passou a diário, sob a direção de Raul Rego, com grande sucesso, e que era clara e assumidamente um jornal oposicionista, e que eu comprava regularmente, não todos os dias, pois para tal o dinheiro não chegava. O jornal, fundado por António José de Almeida em 1911, era de conteúdo noticioso, mas continha também artigos doutrinários, onde predominava a tendência socialista. Depois de uma vida mais ou menos larvar, até 1972, quando penso que se publicava três vezes por semana (não estou certo desta periodicidade), passa a diário e relança-se com uma nova direcção e uma redação dirigida por Mário Mesquita. Dentro dos limites da censura, e com os truques com que a tentava contornar, conseguia publicar matérias muito interessantes. Só num aspecto a censura era implacável, a guerra colonial, daí nada de noticias, nada de dados, nada de números, não era possivel ter qualquer informação não controlada, era assunto tabu em si mesmo. Quanto ao resto o jornal "Républica" era muito livre, o que naturalmente provocava problemas, cortes, atrasos na saída do jornal, fatal num jornal diário. O jornal terminou em 1976, após um caso de tomada pelo PCP, e com a democracia os partidos começarem a ter uma enome influência, no caso o velho "Républica" deu origem ao "Jornal Novo" e à "Luta", diário que pouco duraram.
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