Porque é que alguém há-de visitar a Coreia do Norte, integrado no estimulante programa Kim Il-sung 100th Birthday Ultimate Mega-Tour , para ir procurar aquilo que já sabe que vai encontrar, pois apesar de fechado ao exterior, não custa prever o que se vai encontrar neste imprevisível destino turistico, onde tudo acontece por intervenção divina de três indivíduos, todos da mesma familia, todos de nome Kim, todos sobredotados, que desde serem campeões de golfe a escreverem ópera sem saber música, são alvo da admiração de todo o mundo, rendido a tamanho fenómeno. Talvez para escrever um livro Dentro do Segredo. É o que fez o escritor José Luis Peixoto, com a humildade de um grupo de turistas sem história, e, apesar de formalmente proibido de escrever acerca da viagem, uma das condições da visita, regra que quebrou, dedicou 3 semanas da sua vida a aturar um chorrilho de idiotices, proferidas pelos seus guias, por coincidência a menina Kim e o senhor Kim (apre.... ), e a visitar todos os locais onde os Kim`s se sentaram, visitaram, onde tocaram, onde comeram, onde urinaram, onde dormiram, onde escreveram, onde falaram (sendo que o segundo Kim nunca falou em público). E porque é que alguém há-de ler tal livro ? Eu li.
Li porque tive curiosidade acerca de qual seria a abordagem a essa visita, por um, já agora grande escritor, que de forma anónima e integrado num grupo de turistas, sem qualquer margem senão submeter-se às regras iníquas, teria para sobreviver ao universo do tédio. Sem telefone, sem internet, sempre vigiado pelos "hipersimpáticos" guias, sorridentes, respondendo apenas ao que queriam, esterotipados, imagem de um país que é um "cliché", uma invenção em banda desenhada de mau gosto, onde quase nada funciona como esperamos, tudo igual repetitivo e com o mesmo pretexto, no final do livro não entendi bem qual foi o apelo a que tal viagem deu resposta, para além do masoquismo. Nada viu que valesse a pena, que não fosse mentira, prepotência, nacionalismo irracional, estradas esburacadas, mentiras esfarrapadas, encenação, fotos dos mesmos líderes, nem sequer viu comunismo ou estalinismo, apenas demência.
Vale pelo que descreve de carinho entre as crianças e os idosos, as mulheres e os homens, os homens e os homens, gestos que seriam inapropriados aqui no Ocidente. Um pitada de humanidade, no meio de um país de robots de primeira geração, colados com "fita gomada" e pintados com "caneta de feltro". A ler, se tem curiosidade.
PS: Como será que o José Luis se derenrasca da punição por escrever este livro ? Felizmente os Kim não lhe podem lançar uma fatwa
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