No hospital o tempo é aquilo que se mais tem, e aquilo que mais custa a consumir. Vamos vendo o que se passa, atentos aos movimentos das enfermeiras e restante pessoal, pois na unidade de cuidados intermédios, onde estive, estão sempre presentes. As máquinas a dar alarmes por algo se ter passado, os ruídos do nosso corpo, a atenção permanente ao bater do coração, como se fôssemos num avião, com medo, atentos ao ruído do motor, e cada mudança de sonoridade nos desse um alerta. Damos atenção a conversas dos nossos vizinhos de cama, cuscamos a conversa do pessoal de enfermagem, inquietamo-nos, quando nos sentimos sós, pois esse pessosl também come, e por vezes ficamos sem companhia. Os fios saem do corpo para dar as informações necessárias a máquinas inteligentes que sabem mais de nós que nós mesmos. Somos alguém. Embora por vezes se sinta uma enorme solidão.
Numa das minhas primeiras noites na unidade acordei com o monitor, atrás da minha cabeça a dar alarme, e inscrito e a piscar um número: 168.
Queria dizer acordar pelas três da manhã com 168 pulsações, um ritmo inquietante. No silêncio da sala, ninguêm, além dos quatro companheiros. Chamei, clamei, o mais alto que pude, e aquele número ali permanecia a piscar 168, 170, 169. Após alguns minutos de aflição, e uma vez atingida a frequência de 172, o meu CDI disparou, e levei o tal "coice de cavalo" no peito, que me deixou atordoado. Mais uma vez o meu seguro de vida tinha funcionado.
As enfermeiras apareceram esbaforidas alguns minutos depois, e pediram desculpa, pois tinham ido buscar umas bolachas, e naquele silêncio sepulcral tardaram a ouvir.
Meio estremunhado, apavorado e sem ânimo aceitei as desculpas. Afinal deveriam instalar uma campaínha de chamar, coisa que não existe porque numa unidade deste tipo o pessoal de enfermagem "está sempre presente" a monitorizar os doentes.
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