Nesta última "estadia" não estive em Cardiologia, como habitual, mas em Medicina Interna, para onde vão todos os casos que não se sabe bem do que sofrem...
Estava numa enfermaria com seis companheiros, e que companhia. Para além de mim, apenas um falava, levantava-se e tinha alguma autonomia, era o José. de cerca de quarenta anos.
Os restantes quatro teriam idades muito acima dos oitenta anos, estiveram toda a semana sem falar, sem se mexer, alimentados por uma sonda do nariz até ao estômago, todos usavam fralda, que era mudada com regularidade, recebiam familiares, mas não reagiam à sua presença, sempre na mesma posição. De vez em quando suspiravam, ou emitiam ruídos pois a sonda entupia e tinha de ser aspirada pelas enfermeiras. Um deles tomava morfina, e todos tinham, custa dizer, a morte estampada no rosto muito sofrido. Alguns encontravam-se ali há dois meses e mais, pois os familiares eram impotentes para deles se ocuparem.
Realço aqui o carinho com que eram tratados pelas enfermeiras, todas jovens de menos de trinta anos, em inicio de carreira, e que naturalmente por essa razão apanharam estes trabalhos mais duros. Mas falavam com eles, apesar da falta de resposta, faziam-lhes carícias, e procuravam sempre o seu bem estar, apesar de nada receberem em troca, nem mesmo a esperança de os ver melhorar um pouco. Chamavam-nos pelo nome próprio, João, Manuel, Fernando e Salgado, com muito respeito.
Ora estes doentes deveriam estar onde?
Numa unidade de cuidados continuados ou mesmo paliativos, coisa que em Portugal é ficção. E outros doentes a quem pode ser devolvida a saúde, arrastam-se em urgências intermináveis e em macas nos corredores dos hospitais.
Que raio de país !!!
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