Da minha cama prestava atenção a tudo o que se passava, via entrar e sair pessoas, pessoal de enfermagem a falar em voz alta, auxiliares a discutir futebol, médicos mais raramente, conversas entre doentes, sons no corredor, a luz das janelas, o ruído do ar condicionado, o toque de um telemóvel de uma enfermeira, atrás da qual um grande dístico vermelho indica "Proibido o uso de telemóvel", ou conversas em altos gritos no corredor, junto da placa que pede "Silêncio".
Mas o ponto comum de todas as conversas de enfermeiras e auxiliares é o mesmo: as trocas.
Fala-se de trocas todo o dia. Vou trocar com a Ana a noite, pois a Manela já disse que podia fazer a manhã, assim eu fico com dois dias, dava-me jeito fazer a tarde e a noite, mas a Joaquina não pode trocar, porque tem de pagar a troca que deve ao Zé Carlos, mas vou ver com a Dulce que vem trocar com a Maria, se não se importa, porque para ela também era bom pois está a fazer noite e assim pode juntar com a manhã e ter os dois dias, etc,etc,etc...
Dado que ninguém faz o turno que verdadeiramente lhe pertence, um dia qualquer todos se esquecem do turno que vêm fazer, pois pensam que já o trocaram com alguém, e chega-se a uma manhã em que ninguém vem trabalhar. Paciência, cuidam os doentes uns dos outros, pois de observar as enfermeiras já conseguimos aprender o essencial dos cuidados de saúde...
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