Já se percebeu que tenho uma grande paixão pela música, e tem sido um forte suporte de momentos mais íntimos em que parece que as coisas desabam. Depois ouvimos e voamos com ela para bem longe e de novo aterramos em campos menos agrestes. Gosto de todo o tipo de música, clássica, jazz, portuguesa, brasileira. Mas nos últimos tempos há um disco que tenho ouvido dezenas de vezes no meu iPod. Trata-se de um disco publicado em 1997, "Beyond the Missouri Sky", e nele participam apenas dois músicos, Charlie Haden no contrabaixo e Pat Metheny na guitarra. Tem também um terceiro instrumento, o silêncio... Raramente uns curtos recortes de orquestra.
E somos projectados para as longas planícies desérticas, os grandes espaços, onde o silêncio nos cala, e nos concentra nos acordes. É tão intimista, que ao ouvi-lo muitas vezes me vêm as lágrimas aos olhos (talvez não devesse confessar...) Não é jazz, mas também não é outra coisa, talvez música de fusão (como muitos detratores dizem para apoucar...), sei que faz voar, e não é "lounge" como hoje se diz, é música mesmo muito boa, muito forte, mas sem se impôr, entranha-se, como dizia Pessoa.
Resta ainda que vi ao vivo ambos os músicos em momentos diferentes. Charlie Haden no célebre Cascais Jazz de 1971 (o primeiro), quando após actuar foi posto na fronteira pela PIDE por dedicar uma das músicas aos movimentos de libertação das, na altura, colónias portuguesas, Pat Metheny, muito mais tarde, num excelente espectáculo no Coliseu de Lisboa. em que a meio, uma jovem espectadora, sentada na borda de um camarote, caiu da altura de 2 ou 3 andares, sobre a plateia. Acabou ferida, e Pat interrompeu o espectáculo e dedicou-lhe uma canção. Recordações que perduram.
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