Hoje de manhã ao ler as notícias na net, soube da morte, hoje, do realizador de cinema francês Claude Chabrol. O nome dirá pouco a muita gente, mas quem é da geração 60/70, este nome diz muito por estar associado à Nouvelle Vague do cinema françês, cinema de que muito gosto, embora pouco a pouco esmagado pelas produções de Holywood. Morreu aos oitenta anos, foi um realizador prolixo, e talvez o mais popular dessa geração. Mestre nos filmes acerca das mulheres, filmou-as talvez como só Truffaut o tenha feito. Relembro o último filme que vi dele, já de 1988, "Un affaire de femmes", onde contava a história de coragem, luta, e frieza, da ultima mulher a ser condenada à guilhotina na França ocupada, em 1943, acusada de fazer abortos, Marie-Luise Giraud. O papel é soberbamente desempenhado por Isabelle Huppert. Vamos rever os seus filmes e saberemos muito mais acerca das mulheres... e do mundo que as rodeia.
Desconhecido para mim, efectivamente. Quando vejo estas suas publicações, dá-me logo vontade de pesquisar um pouco. Ficam aqui algumas curiosidades sobre esta personalidade:
ResponderEliminar- A primeira longa-metragem "Le Beau Serge, Nas Garras do Vício", foi feito em 1958, com parte do dinheiro que sua mulher havia recebido como herança.
- Apesar da fama de preguiçoso, ele foi um dos diretores mais prolíficos revelados pela nouvelle vague - 50 e tantos longas, sem contar os curtas e esquetes.
- Em meados dos anos 1960, Chabrol, em crise autoral, começou a fazer filmes comerciais (aventuras policiais com os personagens Tigre e Marie Chantal). Mais tarde, ele definiria esta fase - "Sempre filmei não importa o quê, mas nunca não importa como."
- Gourmet - ele próprio gostava de dizer que situava suas locações perto de onde podia comer bem.
Compôs o que não deixa de ser, no cinema, o equivalente da Comédia Humana de Balzac na literatura.
Tinhas de ir mais longe, e isso são detalhes que eu desconhecia. São muito interessantes os seus filmes, agora só em DVD, deu grandes papéis a Isabelle Huppert, entre eles aquele que cito no post, e que é de uma grande crueza. No pior da segunda guerra mundial os franceses foram mobilizados para lutar ao lado dos nazis, e as mulheres ficavam com os filhos sem meios de subsistência, e tinham de inventar para dar de comer aos filhos. Esta a história de "Uma questão de mulheres" que citei. O resto não conto.
ResponderEliminarOlá!
ResponderEliminarMas eu também investiguei um pouquinho sobre a Mdme Giraud. O que contou impressionou-me, guilhotinada por fazer abortos??
Então descobri que a Sra Giraud nasceu em frança em 1903. Oriunda de uma familia pobre, casou com um marinheiro, de quem teve 2 filhos. Trabalhava como empregada doméstica e lavadeira. Devido à falta de dinheiro, começou a alugar quartos a prostitutas. E terá sido por essa altura, e com o intuito de ajudar aquelas mulheres, que começou a fazer abortos. No total efectuou cerca de 27 abortos.
Agora vejamos o impressonante enquadramento legal:
- Em 1920, e essencialmente para cobrir o buraco populacional que a 1ª guerra mundial deixou, o aborto foi proibido em França.
- Em 1942, em plena 2ª Guerra Mundial, a pena a aplicar passou a ser de morte - a prática do aborto passou a ser considerado um crime contra a segurança do Estado. A privação económica, a falta de comida e medicamentos mantinham a taxa de natalidade muito baixa. Na mesma altura, a elevada taxa de divórcios (devido à separação causada pela guerra) também contribuiu para baixar ainda mais a taxa de natalidade, que historicamente, na França, já costumava ter níveis muito baixos.
- No mesmo ano, em 1942 o aborto passou a ser legal em caso de perigo para a saude da mulher (!!?!?)
- Em 1945 a lei foi revogada!
- Em 1975 o aborto passou a ser legal.
- Em 2004, os abortos passaram a ser acompanhados pelos médicos franceses, como qualquer outra intervenção.
Mdme Giraud foi guilhotinada em 1943 aos 39 anos de idade, por ajudar quem precisava, por tentar pôr comida na mesa, e essencialmente, devido à falta de visão de quem fez aquela lei.
É sempre mais fácil proibir o aborto, do que criar condições para as pessoas terem filhos.
Mdme Giraud estava no sitio errado à hora errada!
Comentário completo de cinco estrelas.Que mais acrescentar é a história dos homens, e como tudo muda tão depressa. Só falta ver o filme mas agora já não será preciso...
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