terça-feira, 22 de março de 2011

A segunda casa

Após o regresso a casa, e devido a algumas complicações que entretanto foram aparecendo, o transplantado nunca está sozinho, tem vindo um sentimento de revolta, que na realidade faz pouco sentido. Mas sabe-se que o controlo por vezes se perde, e acabamos por ser injustos, pois tenho de agradecer esta oportunidade, estando preparado também, para todas as dificuldades, pois tudo tem um preço.

Fácil de dizer, mas aplicar esse controlo, quando certas tarefas simples, nos interpelam como gigantescas, obriga a uma capacidade de aceitação que temos de ir buscar ao baú da nossa humildade, do poder de persistir e resistir. Viver, mesmo assim, tem de valer a pena! Apesar de tudo, acreditar que tudo é passageiro, que o tempo, embora não resolva tudo, dá uma boa ajuda.

A minha "revolta" acaba por ser também um acto de grande injustiça para com os outros, que empenham a sua energia, na minha recuperação, e não têm qualquer retorno do seu esforço para me puxar para cima.

Como me dizia hoje a minha médica de família, terei de voltar a ser aquela pessoa que antes do transplante aceitava aquilo que lhe estava destinado, e que apesar da gravidade da situação manifestava tranquilidade. Nada de ansiedade, e mesmo que alguma coisa esteja menos bem, neste momento ter sempre presente que S.Marta é a "minha segunda casa", mesmo para algumas "estadias" de quando em vez. E ainda bem que tenho esse local para meu apoio, nem todos tiveram ou têm essa "sorte".

Obrigado por me recordarem estas verdades.

2 comentários:

  1. Bom dia Carlos,
    Explicou tão bem a conflito entre os sentimentos e a razão. Conhece bem o que se passa dentro de si e qual é o caminho que faz mais sentido escolher.
    Ainda bem que existe Santa Marta! Enquanto for para lá, é um óptimo sinal e ficar lá de vez em quando que mal lhe pode fazer?

    Ontem morreu Elisabeth Taylor, com problemas cardíacos graves, e depois de uma operação ao coração em finais de 2009, onde lhe davam 3 meses de vida, ela aguentou todo este tempo, a sofrer... o Carlos sabe bem melhor que eu o que ela deve ter passado.

    O que ela daria para estar no seu lugar Carlos!

    Um beijão
    Força!!

    Cláudia

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  2. Caro Amigo Carlos,
    As suas palavras hoje, são maravilhosas.
    Todos temos um mto bom e um mto rabujento dentro de nós.
    Hoje esta ai o Mto bom. Aquele Amigo Carlos que eu gosto mais e que admiro como uma rica Pessoa.
    Ouviu-me e escutou-me.
    Nem sempre a vida é facil, a sua e a de todos os outros, mas se conseguir, agradeça todos os dias,a quem lhe "emprestou" esse novo viver, atravès de um coração que lhe fazia tanta falta.
    Ouve uma escolha, de Deus, e você foi escolhido.
    Tem que fazer valer essa segunda hipotese e "dar aquilo, de que estão à espera".
    Um Grande Abraço,
    Ana

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