Faz hoje três meses que convivo com esta nova realidade de trazer, aqui mesmo dentro em local de privilégio um "novo" coração.
Foi um momento muito esperado, e desejado, com muita força. A situação que vivia na altura só podia ter uma classificação, era terminal. Ninguém tem um mínimo de qualidade de vida com um coração cujo nível de função cardíaca se situa nos 13%, o que quer dizer que apenas 13% do sangue era bombeado pelo ventrículo para a circulação, ficando os restante retido a dilatar esse ventrículo. Normalmente esse valor situa-se acima dos 70% !
Isso mostra a urgência da situação. Após o transplante a situação normal foi reposta, e a reacção tem sido positiva com uma recuperação que, sendo sinuosa, tem tido sucesso no seu essencial.
Alguns avanços e recuos, muita medicação, e um grando apoio da Maria Augusta bem como do Hospital S.Marta e do Centro de Saúde de Ourique, têm feito o resto, e procurado que o longo pós operatório se torne mais eficaz e com menos riscos.
Agora comecei a andar na rua, embora com os limites dos meus músculos em serviços mínimos, mas penso que o peso sobre as pernas, o movimento, mesmo esforçado, me têm melhorado muito a mobilidade.
Fiz agora um interregno neste blog, para repensar aquilo que aqui tenho colocado como posts. Eu chamo-lhe blog egocêntrico, pois é um blog que dada a situação, tem girado em torno do umbigo. Terei de mudar isto, pois o meu umbigo, na medida em que alguma "normalidade" possa chegar, é igual ao umbigo dos outros... Sei que alguns amigos que aqui vêm, procuram saber novas de mim. Mas cada vez mais eu não me posso confundir com a minha doença, que até já não é doença mas terapia para a cura...
Assim outros assuntos do meu tempo terei de abordar. A passagem e ocupação dos dias deixam-me tempo. O tempo é para mim demais, ao contrário da maioria das pessoas. Procuro ocupá-lo estando atento. Nos jornais, net, livros, escrita, etc. Abri página no Facebook, mas francamente ainda não percebi para que serve, pois grande parte do que lá está é lixo, de qualquer forma interessa-me explorar, entrar por terrenos ainda não calcorreados. Procurar fazer aquilo que aplico agora na minha vida: evitar que me forneçam soluções, e procurar eu próprio as formas de fazer compatíveis com o meu estado (físico, psíquico).
Três meses é pouco para tirar conclusões, mas tiro as que posso. Sou uma pessoa com outra saúde, com personalidade mais instável, mas com uma autonomia razoável, adquirida em pouco tempo. Sei que dou outro valor às coisas, sobretudo as mais simples e institivas. Gostaria de dar ainda outros rumos, mas é cedo. Faltam-me forças, que espero venham com o tempo, com o esforço que estou a fazer para me mexer, para me alimentar (que não é esforço, pois fome não me falta...) e para me tratar.
Uma nova vida para ser vivida, mas devagar...
Muito bem resumido! O Carlos escreve como ninguém! É um prazer vir aqui ler os seus posts.
ResponderEliminarConfesso que ia mesmo dizer-lhe isso, no início do blog, comentava tantos temas que entretanto abandonou (actualidade, política, personalidades, etc), espero que os possa retomar... O Carlos não se esgota na doença!
Beijinhos
Claudia