Prosseguia a minha viagem pela Europa dos inicios dos anos 70. Estavamos a 1 de Outubro de 1973. Pela primeira vez saira da familia, da cidade, do país, sem rede, com pouco dinheiro, e muita esperança de ver a vida no exterior, até eventualmente encontrar uma alternativa à guerra, coisa que acabou não sendo necessária, pois esta acabou primeiro, só iria mesmo durar mais um ano, nem tanto, e eu não fazia a menor ideia, que um ano depois a guerra teria desaparecido, como a conhecíamos, embora a pacificação demorasse um pouco mais. Não poderia advinhar o futuro, embora suspeitasse que mais ano menos ano, a situação se iria resolver.
Encontrava-me em Genebra, e iria prosseguir, pois teria de chegar a Lisboa antes de 6 de Outubro, quando expirava o meu bilhete Inter Rail. Quando no inicio da viagem tinha passado por Paris, tinha pensado lá voltar antes de regressar, e assim fiz. Pensei então rumar agora de Genebra até Paris. Marquei o bilhete, e preparei-me para o regresso. Genebra, sendo uma bonita cidade, não justificava muito tempo. Tinha pela frente um dia de viagem, e desta vez de novo viajaria de dia. Teria de tomar um comboio de Genebra a Lyon, e aí tinha uma correspondência para Paris, onde chegaria no final do dia. De novo regressava ao esplendor dos Alpes Suiços, e sobretudo Franceses, pois Genebra situava-se praticamente na fronteira com França. Os comboios era confortáveis, e neles descansava-se, espreitava-se a paisagem, comia-se, enfim vivia-se no comboio. Lia-se, tiravam-se fotos, conversava-se se houvesse com quem.
Ao chegar a Paris fiquei num albergue na Place d'Italie. Deu para uma longa viagem de Metro, desde a Gare de l'Est até ao destino, que se situava já próximo dos limites da cidade. O movimento do Metro maravilhava.me, pela dimensão da rede, as composições, em especial aquelas que tinham umas rodas de borracha, que faziam pouco ruído, pois as restantes eram do inicio do século, pelo movimento das pessoas, gente de todas as cores, origens, classes. raças, e jamais uma composição franco-francesa.
As pessoas liam, o Metro andava cheio, jornais de todas as cores, direita, centro, esquerda, comunista, trotskista, tudo estava disponivel, contrariamente a Portugal onde tudo era cinzento, único, triste, opressivo, depressivo, repressivo, invariávelmente mais do mesmo durante décadas.
Ali tudo era vivo. Haveria problemas, a sociedade se calhar não era justa, os emigrantes eram explorados, havia relatos disso, viviam em condições sub humanas, mas, mesmo assim preferiam viver ali, do que no Portugal interior, cinzento e sem horizontes. E agora percebia porquê. As condições económicas eram outras, o ar era respirável, havia esperança, apesar de tudo. Enquanto ía pensando nisto tudo, o Metro parou na minha estação e rápidamente tive de sair com a minha tralha nas costas.
Procurei o albergue, era um edificio enorme, mas escuro, era um grande pavilhão, entrei e arranjei alojamento, o local era pior do que encontrara no inicio da viagem, ao qual não regressei por estar completo. As zonas de dormida eram grandes tinham muitas camas de ferro, havia uma zona de restauração que parecia a cantina universitária em Lisboa, e as preocupações de limpeza e arrumação que tinha encontrado mais a norte, ali estavam ausentes. Mas, enfim estava-se bem.
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