Ía ter agora pela frente dois ou três dias para conhecer Paris, antes de regressar a Lisboa. Aquando da anterior passagem pouco tinha dado para ver, para além da zona de S.Michel, Quartier Latin, emblemática para qualquer jovem de 20 anos que estivesse informado acerca do mundo. Agora pocurava conhecer o que a cidade tinha para mostrar e era muito. A partir daí passou a ser uma cidade de referência para mim, e a coincidência de anos mais tarde trabalhar numa empresa francesa trouxe-me de novo a Paris muitas vezes, mas isso só se passaria dez anos mais tarde.
Assim pela primeira vez visitei aqueles locais emblemáticos que apenas conhecia dos postais, a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, as margens do Sena, as esplanadas, os alfarrabistas, que na altura eram muitas dezenas, e posteriormente quase desapareceram, o mercado dos Halles, na altura já desactivado, tudo muito limitado pelo pouco dinheiro que tinha, agora que a viagem caminhava para o fim, ainda menos. Tudo tinha de ser pensado, e o dinheiro contado, não havia multibancos, para alguma eventualidade.
Comecei por visitar o museu do Louvre, e lá passei um dia e não deu para ver tudo. Era uma sensação deslumbrante ver agora ao vivo aquilo que só conhecia dos livros de História. E de novo lá estava espantado com tanta coisa que havia para ver no Louvre. Da Gioconda, à coleção de peças do Antigo Egipto, a Victória de Samotrácia, enfim procurei retirar o maior partido desta primeira visita, pois sabia que não poderia tudo observar, tudo registar. Já nessa altura verdadeiras hordas de visitantes, percorriam as salas e amontoavam-se em frente das peças principais.
Visitei pela primeira vez Montmartre, e o Sacré Coeur, Pigalle e o Moulin Rouge (apenas por fora claro, que o dinheiro não dava para mais, só muitos anos depois lá entraria), e os ambientes boémios da cidade, a Sorbonne, as livrarias que me fascinavam por tudo o que encontrava lá, e a rua, sobretudo a rua era um espectáculo, pelo que se encontrava, pela variedade do que se via, músicos de rua, raças, vendedores, pedintes, hippies, gente de todas as proveniências. Paris já era uma cidade do Sul, quando se comparava com o ambiente organizado da Suécia, da Dinamarca ou Alemanha. Á noite vinha até aos Campos Elísios, hábito que mantinha muitos anos depois sempre que çá voltei. Aí parecia que estávamos no centro de mundo. Regressava a Place d'Ítalie para dormir e tomar o pequeno almoço, no meu albergue "de jeunesse", mas lá nada me interessava. Os dias passaram rápidamente, e amanhã dia 4 de Outubro teria de regressar, e poria fim a esta pequena aventura pelo mundo real.
Retornei á Gare de Austerlitz, para marcar o meu bilhete para Lisboa. O comboio partiria ao final da manhã, e chegaria a Lisboa pelo final da tarde, mais de 24 horas depois. Regressava ao "rame rame", de que não tinha nem saudades.
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