Dia 14 de Setembro de 1973, 22h00, Gare du Nord. Estava agora de partida para Copenhague. Ainda hoje qualquer "interailer" sabe que as viagens, se possível, fazem-se de noite. Poupa-se o valor de uma noite, e quando os comboios são confortáveis, dorme-se bem. Naquela altura era assim, e os comboios, fora de Portugal, eram bons e não andavam superlotados. Tinha passado um dia inteiro de mochila carregada, pois tinha deixado o albergue pela manhã, tinha ido até S.Michel, que passou a ser, para mim, um local de eleição. Muitos anos mais tarde recordei no local, várias vezes, estes dias, em que conheci Paris pela primeira vez.
Na viagem íamos atravessar a Bélgica, Holanda, Alemanha e finalmente "aterrar" na Dinamarca. Para quem nunca tinha saído do burgo, era uma aventura, em solidão, ou com as companhias de ocasião. Não era como agora. Hoje os jovens aos vinte anos já viajaram imenso, já conhecem países de todos os lados do Atlântico, já andaram de avião, de carro, de mota, já fizeram escalada, já fumaram charros, etc, etc, naquela altura raros se encontravam a viajar, e ainda menos portugueses, que nesta idade tinham como preocupação principal a guerra, onde estavam mobilizados à força.
O trajecto ía demorar algumas horas, a chegada estava prevista para as 14h00. Por volta das 11h00 chegámos a um porto, Travemunde, ainda na Alemanha, onde o comboio foi embarcado num ferry. Fiquei banzado... Na realidade Copenhague situa-se numa ilha, a Zelândia, e na altura não existia ponte que a ligasse ao continente europeu, como existe agora, pois hoje vai-se de TGV directo.
Assim a parte final da viagem era feita de ferry e nós dentro do comboio. Durante esta parte da viagem, que demorava uma boa hora, éramos convidados a sair e visitar o ferry, que naturalmente dispunha de uma área comercial, como nunca tinha visto, foi a primeira "free shop" que visitei na vida, ainda por cima sobre as ondas. Fiz umas compritas, curtas, dado o parco orçamento, e o pouco valor que os escudos representavam na altura, ao trocar pelos marcos ou pelas coroas. Uma garrafita de whisky, que ofereci depois ao meu pai, e ainda hoje, 40 anos passados, lá anda por casa. Entretanto da amurada do ferry começava-se a ver terra e havia que voltar ao comboio. Feita a amaragem o comboio retoma a marcha e pelas 14h00 lá entrava na gare de Copenhague ( Kobenhavn ), a tarde já ía alta.
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ResponderEliminarEstou a gostar muito dos seus relatos de viagens...bem diferente dos dias de hoje, mas aposto que devem ter sido brutais.
ResponderEliminarSim este Inter Rail foi uma experiência "brutal". Feito antes do 25 Abril, há 40 anos, foi um choque, um "grito do ipiranga" libertador. O que via era de tal forma diferente do "portugalinho" que não apetecia voltar. Por isso o recordo aqui. Obrigado.
ResponderEliminarCR