Em Lund, na Suécia, passei alguns dias com o meu amigo, e com outros que com ele partilhavam a situação. Comia-se na residência, mas havia que cozinhar, dormia-se no saco cama, mas bem, e não paguei nada. Explorava as possibilidades, mas para mim era cedo, pois tinha ainda anos de adiamento militar, pelo que podia permanecer em Portugal sem ser mobilizado, enquanto tivesse bons resultados académicos. Por ali o meu amigo, dentro das limitações estava integrado.
Dado que tinha passado em Copenhague sem ver a cidade, decidi regressar, e passar um ou dois dias por lá. Fiz a mochila, despedi-me do meu amigo, que só veria muitos anos depois, e voltei a Malmoe, ao jetfoil que tanto tinha elogiado, e de novo me encontrei em Copenhague, onde ao final do dia, me alojei num albergue chamado "Open University", coisa fracota afinal, e onde por muito pouco se tinha um beliche e um banho. Durante dois dias vagueei por lá, visitei alguns museus, o zoo, vi a inevitável Pequena Sereia, que era bem pequenina, a quem mãos criminosas tinham cortado um braço uns meses antes e ainda se mantinha amputada.
Algo que na altura me espantou, na tal University, os quartos tinham 4 ou 5 beliches e eram mistos, coisa inimaginável para portuga, onde nem as escolas secundárias eram mistas. Respirava de facto um ar que até a mim me custava aceitar. O peso de muito preconceito inculcado.
Quanto ao mais, dias curtos, já caminhava para o fim de Setembro, céu cinzento, e pouca gente na rua após as 17 horas, tudo ía para casa. Durante o dia idosas bem vestidas e de chapéu e gabardine, gozavam as reformas nas esplanadas aproveitando a luz, fumando charutos ou até cachimbo, e bebendo uma carlsberg ou uma tuborg, O comércio parecia florescente, e a cidade era bonita, sem ser luminosa como as cidades do sul.
Estava na hora de partir, e escolher um novo destino, que eu tinha no meu plano já decidido, e que seria Munique. No ano anterior tinham sido os Jogos Olímpicos, os tais do assassinato de atletas israelitas, e tinha-se falado muito da cidade, daquilo que na altura se chamava a Républica Federal da Alemanha, por contraponto com a RDA, a Républica Democrática Alemã, comunista.
Ali havia a barreira da língua, pois na Suécia e Dinamarca o inglês era falado com a mesma facilidade das línguas nacionais, e não na Alemanha.
Fui marcar o meu trajecto, pois havia um comboio directo, pelas 21horas, entre Copenhague e Munique, que chegava no dia seguinte pelas 11 da manhã. Eram 14 horas de viagem, mas a dormida era garantida.
À hora aprazada lá estava, escolhi um compartimento vazio, e eram muitos, e preparei-me para mais uma noite ferroviária. Já fazia algum frio quando o comboio partiu.
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