16 de Setembro de 1973, chegava à primeira paragem desta viagem, Lund. Tinha entretanto procurado e encontrado o meu amigo. Não adiantando muitos pormenores, posso acrescentar que ele vivia já há cerca de um ano naquelas paragens, como muitos outros portugueses na mesma situação, que não se confundiam com os outros emigrantes, eram individuos com a situação militar não regularizada, pelo que se regressassem ao país, e fossem apanhados, seriam de imediato presos, incorporados na tropa e enviados para a guerra nas colónias, e foi a fazer "erros" destes que tudo acabou no 25 de Abril.
Felizmente que os cometeram... pois desta forma encheram de oposicionistas as forças armadas, pois a mesma receita também era usada com os universitários mais contestatários.
Não precisavam de trabalhar, para já, pois o estado sueco tinha-lhes atribuído uma bolsa, que lhes permitia estudar na Universidade, após aprendizagem da língua, e comprovação de habilitações. Residia numa residência universitária, onde dispunha de um belo quarto, que era pago, e de cozinha colectiva. Tudo estava arranjado, limpo, conservado, ajardinado, e as condições eram as melhores. Lund era uma cidade universitária, uma das mais antigas da Suécia, o meu amigo estudava Comunicação (coisa que em Portugal não se sabia o que era em termos universitários... e se se soubesse seria proibido), e podia partilhar o quarto com quem quisesse. Na cidade o uso da bicicleta era generalizado, em Portugal eram os pobres, operários, agricultores, leiteiros, amola tesouras, gente simples, que a utilizavam, jamais se imaginaria ir para a universidade usando tal transporte, e para mais eram públicas, pegava-se num local e deixava-se noutro, e ninguém as roubava !!! mas que país extraordinário. Depois sabia-se que na altura, a Suécia era conhecida por aqui como um país hostil ao regime, e era, mas também pela sua "ampla" liberdade, nomeadamente no domínio dos costumes, e julgo que também era.
Na altura, que coincidência, estavam a decorrer as eleições legislativas no país, tive assim a possibilidade de assistir ao que era uma campanha eleitoral séria, mas limpa e sem exageros, fotografei cartazes, pequenos comícios, o ambiente calmo e sem dramas. Havia apenas uma coisa de que não gostava, não havia sol ! O céu cinzento era permanente, e na altura perlas 4 da tarde já começava a anoitecer. O ambiente geral era de acordo com o tempo, frio, o que não impedia as pessoas de conviverem nas esplanadas ao fim de semana, a beber grandes canecas de um café que era uma mixórdia, segunda coisa que não apreciava. Durante a semana não se via ninguém, casa trabalho e nada mais. Foi nesta cidade que passei 2 ou 3 dias, e conheci o maior contraste. Não se viam pobres, não se viam cães na rua, e aos que os passeavam era imposto uma luva para apanharem os excrementos, os caixotes do lixo públicos eram forrados com saquinhos de plástico, não se via lixo no chão, diziam-me que o povo não era feliz por excesso de cuidados por parte do estado, sim talvez, mas se calhar antes assim, pois em Portugal ninguém se ocupava de nada, as pessoas só tinham deveres e os direitos estavam escritos num papel que tinha sido apreendido pela polícia.
Sem comentários:
Enviar um comentário