sexta-feira, 3 de julho de 2015

Crónicas de um Verão Quente (1)

Já vi muitas comemorações dos 40 anos do 25 Abril, da democracia, das eleições livres, ainda não vi comemorar os 40 anos do "Verão Quente". Talvez seja politicamente incorrecto falar desses tempos idos, que curiosamente agora relembramos ao ver imagens da Grécia, afinal um PREC retardado. Para mim o Verão Quente, associado ao que vivemos em 1975 em Portugal caracteriza-se por uma tentativa frustrada de uma ou várias forças "revolucionárias" tomarem o poder no país pois a isso se sentiam vinculadas pela interpretação que faziam dos "ideais de Abril na sua pureza original". Estamos a falar do PCP e alguns aliados, entre eles a ala militar de esquerda, dominadora na assembleia do MFA. Vou aqui evocar em vários posts as minhas recordações pessoais, sem qualquer rigor aos factos passados, numa abordagem totalmente "impressionista". Quem era eu nesses anos. Vinte e dois anos, solteiro, estudante do IST, trabalhador dos CTT em part time, mais tarde efectivo, militante da UDP, com quotas pagas, mas como a maioria dos militantes, em simultâneo de uma organização dos chamados grupos ML, vulgo maoistas, no caso algo chamado ORPC ML, era também delegado sindical do único sindicato de que fui sócio, o SNTCT. Havia milhentos grupos destes no inicio de 1975, todos caracterizados pelo extremismo radical, pela fidelidade ao ML (marxismo leninismo) e às suas práticas e teorias. Todos sabiam que no mundo apenas havia dois países perfeitos, a China de Mao e a Albânia de Enver Hoxha, o chamado "farol do socialismo na Europa". Os restantes eram os países capitalistas e o império soviético. Também cada grupo ML odiava todos os outros, a quem votava o maior desprezo, só ultrapassado pela raiva ao partido revisionista, social fascista para outros, o PCP, que dominava as estruturas de esquerda, sindicatos, municipios, estruturas militares entre outras. Para nós o PS era capitalista, e igual aos de direita. Na UDP me mantive até finais de 1978, altura em que um facto trágico me afastou definitivamente, coisa que já estava progressivamente a suceder. Feitas as apresentações logo veremos quais as recordações mais fortes, não necessáriamente as mais importantes !

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