segunda-feira, 21 de abril de 2014

Ainda maior ausência

Dado que vou ficar sem computador durante alguns dias, por internamento na minha "segunda casa", a partir de amanhã até, não sei dizer, talvez 5 ou 6 dias para exames. Mais tarde se verá. Assim será "o meu 25 de Abril" quarenta anos depois, será passado no hospital.  Já estou habituado e quando se sente o risco por perto é o melhor sítio para estar. Antes isso do que na prisão, não é ?

sábado, 19 de abril de 2014

Ausência

Desde segunda feira até hoje, uma longa ausência com visita à minha "segunda casa" e alguma indisposição e indisponibilidade associada ao fim de semana "santo" em que estamos virados para outras coisas mais terrenas, apesar da santidade dos dias. Basta ter visto um pouco de televisão para nos apercebermos que o grande tema do fim de semana de Páscoa é a comida. Doçaria, borregos, cabritos, assados, estufados, amêndoas, chocolates, doçaria regional, folares, esta a temática que entra pela casa a dentro de um país com alguma fome, poucos rendimentos e muitos diabético. Chega a ser tortura assistir a tal despautério. O consumo também chegou ao fim de semana pascal, como já tinha tomado conta do Natal. Uma ausência que termina aqui, mas será retomada na próxima semana pois já tenho estadia marcada por uns dias num hotel em S.Marta.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

O meu 25 de Abril (40)

Saiu em 1967 comprei em 1972 (a edição que está na foto e ainda guardo), na Livrelco, onde de vez em quando emergia da profunda escuridão e via a luz funesta da ditadura. Trata-se de O canto e as armas de Manuel Alegre, é o Livro dos tempos do fascismo, e contém todos os cânticos que fizeram a liberdade, Este por exemplo. Boa parte estão na antologia que saiu agora. Mais vale tarde do que nunca.

As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

domingo, 13 de abril de 2014

Regresso a Alcarias

Infelizmente não se trata de um regresso fisico. A saúde está a tirar-me a vontade de ir por aí, e levanta-me muitas dificuldades dificeis de descrever sem cair na queixa e na lamúria. No entanto restam os esboços e as fotos e voltei ao tema das chaminés. Penso que já fiz algo de parecido mas não me recordo nem tenho comigo. Fica aqui mais um registo desta localidade tão bonita.

sábado, 12 de abril de 2014

O meu 25 de Abril (39)

A lista de livros "fora do mercado" era enorme, alguns eram os autores que eram banidos, independente do que escrevessem, outros casos eram temas inabordáveis, caso da guerra colonial, ou então os livros eram retirados pelo seu conteudo. Editoras e livrarias eram vigiadas e as rusgas e apreensões eram frequentes, mas muitas vezes encontrava-se aquilo que queríamos debaixo dos balcões ou guardados para certos clientes. Também a visita aos alfarrabistas permitia encontrar muitas obras proibidas. Eu por exemplo visitava muito o "Ás do Livro", nas Escadinhas do Duque, junto à Estação do Rossio, onde se encontrava um pouco de tudo, sendo que os livros retirados do mercado eram novos, embora à venda num alfarrabista. Ninguém percebia bem qual era o critério, pois livros de inspiração marxista, uns estavam à venda outros eram apreendidos, talvez pelo título. Eram tudo uma grande idiotice, e estavamos nas mãos desta gente sem caco !!!  Um local mitico onde encontrava tudo à venda era a Livrelco, uma "cooperativa livreira de universitários" de que era sócio, e onde encontrava livros cientificos para estudar, mas sobretudo muitos dos livros proibidos, pelo que ali as visistas da PIDE eram frequentes, ao que parece tinham locais onde guardavam os livros e mudavam de local com frequência. Mas esta porta em breve iria fechar-se, pois foi encerrada pela PIDE no inicio de 1973. A partir daí tudo se tornou mais dificil. De qualquer forma o avanço do marcelismo tornou as editoras mais corajosas, e a quantidade de livros a proibir já era tão grande que era dificil controlar. Apareceram novas editoras como a Estampa, a Afrontamento, a Nosso Tempo, que se juntaram à D.Quixote, Seara Nova, que procuravam editar livros que nunca chegariam ao publico sem um pouco de arrojo. O meu 25 de Abril não seria o mesmo sem estas leituras.

Nervosa

A presidente da Assembleia tem aparecido em comentários televisivos entre duas portas e um corredor sempre apressada e nervosa o que não é bom conselheiro. A forma como está a gerir as comemorações dos 40 anos do 25 Abril na AR é negligente. Afinal porque razão os militares que trouxeram a democracia ao país não podem falar na sessão comemorativa do 25 de Abril ?  Ainda não foi dada uma explicação convincente. Terão medo daquilo que vão dizer, mas nem todos os que vão falar terão a mesma opinião. Isto envergonha-me, e roça a má consciência. Cortar a palavra a quem nos deu o direito à palavra é no minimo uma falta de vergonha.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

VMER

Estas quatro letras iniciais de Viatura Médica de Emergência e Reanimação podem fazer a diferença entre a vida e a morte, e eu sei do que falo pois fui 3 vezes socorrido por estes profissionais e fez a diferença, dado que ainda hoje aqui estou a escrever este post coisa que talvez não ocorresse se nesses dias a VMER estivesse inoperacional. Só se fala quando há um acidente de automóvel e não se é socorrido como aconteceu agora em Èvora mas, por exemplo, naquela noite de Fevereiro de 2009 estava em casa na cama e a arritmia atacou e a morte súbita ficou por minutos. E são muitas as intervenções que estas viaturas e os profissionais que as utilizam fazem todos os dias . Assim o ter esta viatura inoperacional é uma grande perda de eficácia na emergência médica, muito para além do que não assistir a um acidente com impacto mediático. É no dia a dia que se deve notar a falta, pois a reanimação é sempre um problema de tempo e de competência. Ter a tempo meios eficazes, quando deles se necessita é fundamental e nada onde se possa poupar, dispensar ou menorizar. Falo por mim !!!

terça-feira, 8 de abril de 2014

O meu 25 de Abril (38)

Tiveram uma efectiva influência no inicio dos anos 70, e ficaram conhecidos por ala liberal. Foram eleitos em 1969 e mantiveram-se até 1973, mas nas "eleições" desse ano os que ainda restavam, pois foram-se demitindo de deputados, foram expurgados da lista da ANP. Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Miller Gurra, Mota Amaral, Magalhães Mota entre outros, foram convidados a integrar as listas da ANP, novo nome dado por Marcello à antiga União Nacional, como independentes num total de 30 deputados em 1969. E durante cerca de 3 anos, com as suas intervenções, e com o impacto que tiveram, nomeadamente no jornal Républica, mostraram o quanto a "evolução na continuidade" era uma mistificação. Em 1970, no debate da revisão constitucional, proposeram o que na prática seria a entrada num regime democrático, só que o regime não estava para aí virado, e todas as propostas da ala liberal foram chumbadas e ridicularizadas pela "carneirada". Ficaram célebres as polémicas entre Sá Carneiro e o deputado ultra nacionalista Francisco Cazal Ribeiro. Eu acompanhava muito estes debates que eram publicados com grande destaque, e sendo debates parlamentares a censura tinha algum pejo em cortar o seu conteúdo, pelo que o impacto publico era excecional, numa classe média que lia jornal e que não se identificava nem com o regime, nem com a oposição de influência comunista e terá sido esse um grande contributo para um 25 de Abril em que não se disparou um tiro e em que a unanimidade era total. A ala liberal ajudou muito a desacreditar Marcello Caetano, que no inicio ainda tinha a imagem de liberalizador, e para esse fim muito ajudaram com as suas intervenções. A maioria deles depois dos 25 de Abril criaram o que hoje é o PSD, outros aderiram as PS mas o seu contributo estava dado.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Passado

Cada vez gosto mais do cinema iraniano, e Ashgar Farahdi um dos seus interpretes. Claro que agora já está numa lógica internacional e os seus filmes reflectem essa realidade sendo menos iranianos. Falo de "O passado" que vi este fim de semana, mais um grande filme do iraniano, e que foi nomeado nos Globos de Ouro deste ano. Um filme intenso, com um argumento que evoca os laços com que se tecem as novas famílias, os filhos que não se reconhecem nos pais, as relações cruzadas em que as pedras não encaixam, a dúvida, o amor que faz sofrer, e finalmente a morte. Saiu em DVD e vale a pena. Apenas aviso que é um filme pouco feliz.

domingo, 6 de abril de 2014

Queridas feras

Pois a partir de uma foto disponivel no Face achei por bem fazer esta composição sem pretensões que mostra o lado rebelde destas meninas que por acaso são netas, embora por afinidade. O método utilizado é mais uma vez o transfer que permite fazer alguns "milagres". Caso agrade é para oferecer às figurantes, as tais queridas feras. Só ousei colocar em rede porque a foto já lá estava, nem acrescentei qualquer valor. Que medo !!!

O meu 25 de Abril (37)

É por estas e por outras que a partir do 25 de Abril votei sempre em todos os actos eleitorais não falhando um unico. Não votei sempre do mesmo modo, mas votei. Não gostei de muito do que ouvi mas acompanhei todas as campanhas eleitorais, e apesar de todas as diatribes, aldrabices, aproveitamentos, disparates, incompetências, irresponsabilidade, conversa fiada, continuo a respeitar a política e os políticos, onde há gente boa e gente má como em todas as actividades da vida. Eu que acompanhei as eleições de 28 de Outubro de 1973, e sei bem o que eram as eleições desse tempo, e o que terá custado dar ao povão a liberdade de voto tenho dificuldade em deitar tudo borda fora. Foram as primeiras eleições totalmente realizadas pelo regime de Marcello Caetano e onde se poderia "testar" a sua política que chamava de "evolução na continuidade", que era afinal o salazarismo com uma pitada de conversa fiada. Desde o acesso aos cadernos eleitorais limitado, e sabe-se a importância que tinham pois os boletins eram enviados aos eleitores, a exclusão de candidatos, o periodo limitado de campanha, durante o qual havia uma abertura limitada a outras opiniões, mas essas quase não tinham expressão pública, pelas imposições da censura, as perseguições, as detenções por delito de opinião, as sessões vigiadas, canceladas, e o risco que corria quem se expressasse de forma livre. Participei nalgumas, estive algumas vezes na sede local da CDE na Cova da Piedade, trouxe e distribuí alguns comunicados, mas tudo era semi clandestino, apesar de se estar em "período eleitoral". Que diferente do que tinha observado um mês antes na Suécia, onde tinha estado a fazer o Inter Rail. No final as dificuldades eram tantas e os obstáculos postos de tal ordem que os responsáveis acharam, e bem, que não poderiam validar tais procedimentos participando nas eleições e como tal colaborar numa aparente normalidade com os desacatos de uma sistema repressivo, ditatorial e totalmente incapaz de fazer coisa tão simples e tão vulgar na Europa dessa época, eleições livres. Assim os candidatos da CDE, uma Comissão Democrática Eleitoral, que tinha por detrás o acordo do PCP com o PS, e que não podiam surgir pois os partidos estavam ilegalizados no país, acharam por bem desistir e deixar o regime a falar sozinho, o que foi celebrado pelos candidatos da ANP, de onde já tinham sido expurgados os deputados da ala liberal, como reconhecimento de derrota. Elegeram assim os 150 deputados da Assembleia Nacional  e tiveram 1393294 votos em mais de 8 milhões de portugueses a maioria deles de pobres funcionários públicos que tinham mesmo de votar senão seriam apontados a dedo, de legionários e outras "forças vivas" . Coitados, poucos meses mais tarde veriam a dimensão da sua "vitória" !!!

sábado, 5 de abril de 2014

Blue Jasmine

Um Woody Allen ao nível dos seus melhores dias, apesar de muitos o acusarem de senilidade, violação e outras coisas feias, mas que a mim não me interessam nem retiram a genialidade do mestre, do alto dos seus 78 anos marcou-me desde o dia já longe, em 1973 em que vi "Inimigo Público" no cinema Berna, quem se lembra... A vida de Jasmine, é uma radiografia dos nossos dias de mentira, faz  de conta, ilusão, mas tudo tem uma ironia, naquela dose em que Woody Allen é admirável. Servida pela interpretação de Kate Blanchett que ganhou o Óscar deste ano para melhor actriz principal um desempenho tão credível que nos faz ver o filme mais de uma vez, pois vale a pena ver a forma como vive a sua ilusão, a forma como mente, a forma como chora, mantendo uma dignidade que nunca existiu. Nos tempos da crise Jasmine é a esposa dourada de uma "investidor" milionário que acaba na cadeia e no suicídio. Jasmine é arrastada nesse vórtice mas insiste em manter uma vida de ilusão que a vai levar ao beco sem saída. Muito bom !

O meu 25 de Abril (36)

Estive cerca de uma semana em Lund. A minha intenção era exploratória, para ver as condições de vir fazer o salto, como o meu amigo. Na realidade fui tendo adiamentos militares até ao 25 de Abril e a guerra acabou por me passar ao lado. Por lá as coisas funcionavam com tranquilidade. A Suécia tinha uma activa política de apoio aos que se opunham ao colonialismo, graças à politica dos social democratas com Olaf Palme à cabeça. Assim após uma apresentação às autoridades explicando que se era perseguido no país de origem era possível obter estadia, apoio monetário e alojamento, bem como aprendizagem da língua. Não conheço os detalhes, mas aparentemente o meu amigo estava bem  integrado e corria tudo bem. Claro a Suécia era outro mundo, a calma era muita, a liberdade grande, em todos os domínios, a limpeza era impecável nas ruas, o tempo era sempre muito cinzento, na altura anoitecia pelas 4 da tarde, e pelas 5 da manhã já era de dia, não havia a "bica", bebiam uns baldes de "café" de saco, mole e sem grande sabor, reconheço que nesse aspecto nada se comparava com o nosso Portugal, ao fim de semana o pessoal enfrascava-se, pois a venda do alcool era controlado e reduzida a lojas do Estado.
Estava na altura de pensar em regressar, e assim fiz. Faltava ainda mais de 15 dias para a data a que tinha de chegar, não só porque o Inter Rail caducava nos 21 anos, mas a autorização de saída também iria caducar pouco tempo depois. Planeei a viagem de regresso, coisa que o viajante deve fazer, e organizei-me para estar uns dias em Copenhaga, depois Munique, Genebra e de novo Paris, onde cheguei no inicio de Outubro de 1973. Tinha gostado tanto da cidade que pensava lá estar mais alguns dias, agora já a pensar no regresso ao rectângulo. Munique também me tinha agradado, até pela coincidência de ter passado durante a Festa da Cerveja, tradicional na Baviera, onde grandes alemães comiam salsichas gigantes, e canecas de cerveja que nunca tinha visto antes. Uma alegria indescritível. Da Gare de Austerlitz a Santa Apolónia, onde cheguei a 5 de Outubro de 1973, num comboio meio vazio, e tristonho, ao contrário da saída num comboio a atafulhar de emigrantes, crianças, panelas de sopa, cabazes com enchidos, e vinho a rodos, na alegria da saída. O regresso era sempre triste, sabíamos que voltávamos para os "oito séculos de história" regados com o vinho dos pobres e o sangue dos soldados. Uma desolação !!! Que falta fazia o 25 de Abril, nem sabíamos quanto !

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O meu 25 de Abril (35)

Setembro de 1973 embarcava em Santa Apolónia para o meu primeiro e único Inter Rail. Já aqui publiquei diversos posts relativos a essa viajem inesquecível, mas no contexto do meu 25 de Abril, não poderia deixar de a referir aqui. Estava a um mês de completar os 21 anos, na altura idade limite para se usufruir deste bilhete, que permitia viajar em toda a Europa, ou pelo menos na Europa Ocidental, pois nestes tempos, havia uma coisa que se chamava Europa de Leste, que era inacessível a estas benesses, com os seus regimes comunistas, em que o "povo" governava (está-se mesmo a ver...) A viagem foi a minha primeira saída fora deste rectangulo cinzentissimo. Assim de comboio até Vilar Formoso, onde a PIDE passava a pente fino o pessoal, sobretudo os que estavam na "idade militar". Daí a Irun/Hendaye e mais tarde Paris, onde cheguei dia 12 de Setembro, o dia seguinte ao Golpe Pinochet no Chile. Aí fiquei admirado com as repercussões públicas deste evento, coisa impensável em Portugal. Dormi três noites, num "auberge de jeunesse", e visitei algumas coisas que tinha imaginado. O Louvre, o Jardim Luxembourg, a Notre Dame e sobretudo o Quartier Latin, onde o Maio tinha ocorrido há 5 anos, a animação era muita, manifs permanentes na Place S. Michel, e a livraria Joie de Lire, onde comprei algumas obras que jamais chegariam a Portugal, pensava eu. Paris era e facto, coisa que ainda hoje se mantem, uma cidade espetacular, de dia e à noite. Gente por todo o lado, um ar que se respirava em pleno, e uma sensação de liberdade que contrastava com as cidades portuguesas, acabrunhadas, cinzentas e cadavéricas. Este meu primeiro contacto mostrava que a liberdade era possível, e não era o "fim do mundo", o "deboche", de que os politicos fascistas referiam em Portugal. E lá andavam os portugueses nas ruas, a trabalhar nas obras, nas limpezas, nos táxis, a fazer pela vida que lhes era negada em Portugal. Mas o meu destino era Lund, na Suécia, onde o meu amigo e vizinho, tinha combinado receber-me e já era candidato a refractário, onde estava desde 1972, pelo que não poderia regressar a Portugal. Assim depois deste primeiro banho de cosmopolitismo, meti-me de novo no comboio na Gare du Nord, rumo a Copenhaga, onde cheguei depois de uma viagem nocturna de 16 horas, pela França e Alemanha. De Copenhaga iria rumar de barco a Malmoe e Lund distaria uns 30 quilómetros, coisa rápida, e acabaria por encontrar o meu amigo numa residência universitária, rodeado de verde, de bicicletas, já a estudar na Universidade local. Tudo ali me espantava, estavamos em campanha eleitoral na Suécia ( coisa que iria ocorrer em Portugal em Outubro de 1973) e ali pude ver o que era uma campanha em liberdade, coisa de que só ouvira falar. Que pacóvio !!!

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O meu 25 de Abril (34)

A situação da escola, acabaria por ter as suas consequências sobre as pessoas. Uns acabaram por ser incorporados no serviço militar, outros inscreveram-se em outras escolas, pois nada os impedia, em Coimbra, no Porto, ou mudaram de curso, houve mesmo alguns que foram inscrever-se em Lourenço Marques, hoje Maputo, onde abrira a Universidade. Outros desistiram, um ou outro terá sido preso. Comigo também tinha de haver impacto. Embora não sendo "primeira linha", como dizia o Sales Luís, apoiava e participava. As novidades vieram pelo correio, agora o meio privilegiado para o Sales "falar" com os alunos do Técnico. Dia 3 de Janeiro de 1974, o ano acabava de começar e recebo em casa uma dessas cartinhas, em que me era aplicada uma suspensão por um período de três meses. Não era invocado qualquer motivo, qualquer processo disciplinar, qualquer procedimento que tivesse levado a essa decisão. Era uma decisão da direcção da escola, ponto final. Embora tendo comigo o cartão mágico que permitia a entrada na escola, se o tentasse ele seria apreendido, assim não tentei sequer entrar. Acabámos por nos juntar várias vezes em Medicina, e acabei por saber que comigo totalizavam cerca de 60 suspensões, as tais segundas linhas, que se juntavam aos cerca de 20 que já tinham sido expulsos no ano anterior. A suspensão era igual para todos, e aplicava-se "apenas" às aulas, poderia fazer exames nas datas respectivas, mas não poderia assistir às aulas nem entrar no Instituto. Escusado será dizer o impacto que tal situação teve nos meus pais, por exemplo. Mas enfim pensei que fosse pior, pois nesta altura já ninguém esperava que um aluno universitário tivesse vida fácil, apesar de uma "vox populi" que o regime alimentava de que os estudantes eram uns priveligiados, e que em vez de estudarem, como lhes competia, faziam agitação política a soldo dos tais interesses inconfessáveis. E assim foi, não podia ir às aulas, mas ía a reuniões, pelo que o pessoal manteve contacto, ía trabalhar, e já agora aproveitei para retirar de casa uns sacos com livros e comunicados menos "recomendáveis" que um colega meu dos CTT guardou, um que nada tinha a ver com a universidade, não fosse o diabo tecê-las. Ainda fiz um ou dois exames, de cadeiras que tinha em atraso, o que implicava apresentar-me à porta, apresentar o cartão, dizer que vinha para o exame tal, o que era confirmado, e era dada autorização de entrada, mas depois de acabar o exame tinha um período curto para sair, senão o cartão podia ser apreendido. E foi assim que os dias foram decorrendo até 3 de Abril, data a partir da qual podia voltar ao convivio dos colegas. Nessa altura já só faltavam 22 dias para o 25 de Abril e o Sales estava por dias.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O meu 25 de Abril (33)

Passo agora a explicar como se transforma uma escola numa prisão, e foi o que aconteceu ao meu Técnico nos anos 73 e 74 até ao 25 de Abril. De facto tudo era permitido para manter a fachada da normalidade, para um sistema que tinha tudo de anormal. Comecemos pelo principio. Para ser prisão tinha de ser fechada, e foi isso que o director Sales Luis montou. Primeiro, como se considerava um democrata, convocou todos os estudantes por carta para uma RGA, que se realizou no estádio universitário, no pavilhão, pois o IST estava encerrado, e onde "propôs" o seu esquema, claro limitou-se a informar o pessoal. A escola estaria sempre de portões encerrados, para evitar a entrada de agitadores exteriores à esscola ( a velha tese dos agitadores a soldo de interesses inconfessáveis), e a entrada far-se-ía pelo portão da Alameda, onde se abria uma barraquinha onde quem entrasse tinha de se identificar e só entravam os portadores de um cartão especial que foi criado e entregue. O cartão era retido, e na saída era devolvido. Assim sabia-se sempre quem estava na escola, e para evitar problemas, foram retirados, ou não foram entregues cartões a determinadas pessoas, os tais "agitadores a soldo". A qualquer momento o cartão podia ser retido o que impedia o aluno de entrar. Este sistema foi implantado no reinicio do ano lectivo em Outubro de 1973, em troca a polícia de choque deixava de estar em permanência estacionada na escola, o que não impediu ainda algumas chamadas da polícia. Reconheça-se que não era o Sales que a chamava, pois parte do poder já não estava nas suas mãos. Elementos de outras escolas não podiam entrar, pois não dispunham do cartão mágico. Assim em Outubro recomecei o terceiro ano de novo, pois o ano lectivo anterior não tinha chegado ao seu termo, no entanto as cadeiras já feitas nesse ano eram consideradas. Os alunos expulsos ficaram de fora, e só o 25 de Abril os reintegrou. Entretanto quase todos os dias havia incidentes, apupos, protestos, meetings, afixação de cartazes, e outras actividades mais ou menos contestatárias. Isto sob os olhos de alguns vigilantes que tomavam as suas notas, o que podia levar a "reter" o cartão e assim impedir a entrada dos mais activos. Foi isso que me tramou !!!

terça-feira, 1 de abril de 2014

Primavera

Fica aqui a imagem da primavera aqui pelo Baixo Alentejo, no que parece não termos o exclusivo. Como não é exclusivo o frio medonho que não nos larga. Exclusivo mesmo é meter o IRS pela internet, ou por outra forma qualquer e ver o resultado. Uma experiência arrepiante que nos é proporcionada, e nuvens e trovoada bem mais carregada do que a da foto. Ali os raios atingem mesmo o alvo e deixam-nos em estado de choque. Depois de arrancarem os pêlos todos, agora ainda tiram a pele.