segunda-feira, 14 de abril de 2014

O meu 25 de Abril (40)

Saiu em 1967 comprei em 1972 (a edição que está na foto e ainda guardo), na Livrelco, onde de vez em quando emergia da profunda escuridão e via a luz funesta da ditadura. Trata-se de O canto e as armas de Manuel Alegre, é o Livro dos tempos do fascismo, e contém todos os cânticos que fizeram a liberdade, Este por exemplo. Boa parte estão na antologia que saiu agora. Mais vale tarde do que nunca.

As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

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