segunda-feira, 30 de julho de 2018

Fisio Terapias

O meu percurso de vida mais recente tem sido acompanhado por uma fragilidade galopante em que aos poucos a massa muscular, que não era muita, parece fenecer, o desgate insuportável, a sensação estranha de as pernas não suportarem o peso do corpo, e o corpo ser demais para a capacidade das pernas. Lá se vai o equilibrio e muitas vezes só o estar de pé já é esforço a mais. Já há algum tempo procuro fazer fisioterapia e o objecto para mim é ao menos não perder mais esses musculos debilitados. Acontece que nos ultimos tempos tenho feito mais com um professor de ginástica, e aí a vida tem sido mais dificil. Exige talvez esforço de mais, embora o tipo de exercicios sejam normais, como sentar e levantar de uma cadeira. o que seria simples se não tivesse feito 45 vezes, claro que com interrupções. Resultado ao chegar a casa apenas via uma cama, e toda a tarde as dores eram terriveis nos membros inferiores, uma ressaca a esse esforço. Vou procurar continuar mas com moderação, pois não faz parte de mim a palavra abandono ou desistência. Apenas dificuldade. A vida no campo tem destes percalços.

domingo, 29 de julho de 2018

Sandwich em pelicula aderente

Hoje regressei de Setúbal, a tal cidade com que tenho uma relação de amor ódio. Foi muito o lá ganhei foi mais o que lá perdi. Fazem parte da vida esses momentos de frente e verso. Lá ganhei experiência, dinheiro, amizades até amor. Mas lá também os perdi. Nem interessa nada agora, em que o presente importa mais, uma vez que o futuro, o meu futuro, é por demais incerto e sempre percorrendo o caminho na beira o abismo. Fui e regressei, com uma missão familiar, e dela dei conta. Já tinha reparado, mas hoje decidi parar e fotografar. Esta nova moda, talvez novidade apenas para mim, de embrulhar a palha após o seu corte numa embalagem de película plástica branca, assim como se fosse uma sandes de presunta embrulhada numa película transparente. Percebo que se trata de proteger das intempérides, para que no inverno o gado se console com uma sandwich de palha com sabor a verâo, sem humidade ou apodrecimento. Mas os campos ficam com um aspecto deveras industrial, os mesmos campos que há uns meses atrás estavam plenos de flores. As fases do ano, tudo tem seu tempo, e o tempo as suas manias.

sábado, 28 de julho de 2018

Açucar pra mim é medicamento

Neste momento vivemos a época morna em que nada acontece, em que os jornalistas tudo fazem pra procurar tema, não tem futebol, politica parou, escândalo vai aparecendo ou vamos inventando, graças a Deus as desgraças prosseguem indiferentes ao clima e às agendas, para alimentar títulos de jornais. Vem ao caso as cerca de uma centena de mortes na Grécia devido aos incêndios e as histórias de pessoas que apenas se salvaram pois se refugiaram no mar. Ainda hoje a história de um bébe que após várias horas de luta acaba por morrer nos braços da mãe refugiados no mar. A vastidão da desgraça não resiste ás insinuações de fogo encomendado por agentes imobiliários pouco escrupulosos. Mas como aqui em Portugal, no fim prendem-se meia dúzias de doentes mentais, outra de alcoólicos, e fica a justiça feita. Nem sabemos se afinal tudo não passa de maledicência,  fogo é mesmo fogo, uma tenebrosa realidade do verão mediterrânico, que pelos vistos agora contagiou também o norte da Europa. Já não sabemos onde estamos bem, onde há segurança. Aqui na minha vida no campo nem se ouve falar de nada. Hoje quase não saí à rua, e não sairia se não fosse acometido por uma súbita gula de comer um pastel de nata, e fui de propósito comprar. Um veneno para os diabetes, mas como pra mim açucar é medicamento, fico integralmente perdoado. Afinal parece que fui à farmácia e não à pastelaria.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Dois anos um mês e onze dias

Recebi há pouco uma foto da neta Francisca com seu baldinho na praia. Como o tempo passa, e utilizando uma sigla agora muito em voga pelos professores, faz hoje dois anos, um mês e onze dias. Gostaria de publicar a foto mas os pais são avessos a estas modernices e querem proteger a pequena. Hoje quero aqui relembrar o que foi a entrada desta pequenina na vida do seu avô, que a adora e de quem ela parece gostar muito. Um verdadeiro presente que uma das filhas  me deu pois, apesar de com as minhas fracas forças já agora tenho dificuldade em pegar, a energia que me comunica , sendo cansaço é também benção. Todos os avôs gostam dos seus netos, assim suponho, mas neste caso eu vivo com especial enlevo a presença dela e a forma tão desembaraçada com que brinca com o avô, a maneira como corre para mim deixando-me babado em todos os sentidos da palavra. Sinto nela o verdadeiro apelo do sangue, uma magia em que os nossos genes parecem reconhecer o que é seu, em que pele conhece a pele, um olhar cruza com o seu olhar. Dois anos um mês e onze dias como o tempo passa, e como aquele sopro de vida se tornou na rapariga do baldinho cuja foto contemplo,

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Arrebatador

Acabei de ler. Quase setecentas páginas num ápice. Um thriller, ou seja um romance de mistério em que a cada momento as certezas se vão e novas pistas se encontram. E no final tudo  muda. Um livro que também segue o percurso da literatura, e o amor entre pessoas muito diferentes. No final o desaparecimento de Nola Kellergan, adolescente de quinze anos desaparecida para sempre há trinta e três anos fica esclarecido, mas antes conhecemos o percurso de uma jovem com mais vida do que se suporia, mais madura e portadora da virtude de fazer os outros felizes. Gostei e recomendo para férias.

Um dia igual à vida

Uma imagem vale muito. Hoje que foi dia dos avós, mais uma iniciativa comercial, mas que muitos aproveitam para lhe dar algum conteúdo. Na Associação fizeram com os idosos uma actividade deveras interessante e que nos deve deixar a pensar. Desde algum tempo que tem sido pedido às familias dos utentes que enviem fotografias dos netos desses utentes, quase todos idosos muitos em estado de grande debilidade fisica. Claro que muitos dos familiares ignoraram o pedido apesar de ter sido explicado o fim em vista. Mas cerca de metade respondeu. E hoje durante a manhã foi feita uma apresentação das fotos dos netos aos avós ali presentes. E o resultado foi bem comovente. Para muitos deles os netos eram desconhecidos, alguns nem sabiam os seus nomes nem as suas idades, outros não viam imagens deles fazia anos, levantaram-se para ver as imagens projetadas mais de perto, para muitos o afastamento era total, e o reactivar destas imagens do passado emocionou. Não estou aqui a fazer julgamentos. Eu sei que a vida muitas vezes separa o que deveria estar junto cria barreiras onde deveria haver compreensão, por culpa de uma nova geração com outros valores, ou sem eles, mas também muitas vezes por culpa destes avós que durante tempo não alimentaram a relação sentados na sua arrogância e falta de afectividade. Nem todos os netos são indiferentes, nem todos os avós são o afecto em pessoa. Afinal somos todos individuos com defeitos e virtudes. Criamos laços mas também os destruímos. Aproximamos e afastamos todos os dias da vida.

terça-feira, 24 de julho de 2018

Incêndios

A situação que se vive agora na Grécia, com mais de setenta mortos em inúmeros incêndios, relembra o que se passou em Portugal no ano passado. Mas ainda mais preocupante os incêndios na Letónia e na Suécia, embora sem provocar vitimas indicam que o mundo está mesmo a mudar. São países frios, com vegetação exuberante e carregados de humidade, quase imunes a este tipo de eventos, sendo que a Suécia, um país rico, nem sequer dispunha de uma frota de aviões para combater fogos, pura e simplesmente porque não era necessário. Isto mostra-nos que o mundo está de facto em mutação climática, nomeadamente no que se refere a um global aumento de temperatura, com impacto nas regiões polares, degelo e aumento do nivel das águas dos mares. Só os ignorantes continuam a tapar os olhos com uma peneira, não vendo a realidade . E a Humanidade comandada por este bando de gente ignorante, sem cérebro, movida por interesses imediatos, caminha alegremente nem se sabe para onde. Penso na minha neta, e do mundo que a espera dentro de trinta a cinquenta anos, do impacto que as nossas decisões ou a falta delas vai ter na sua vida. Quem poderá adivinhar o que será a vida no campo nessa altura, talvez um longo caminho no deserto, carregado de poeira e secura, infértil e irrespirável.

domingo, 22 de julho de 2018

Um domingo no campo

O campo nem sempre é o que parece. Um domingo no campo nem sempre soa a pic nic, a passeio entre as estevas, a percursos pedestres e contacto com a natureza naquilo que ela tem de mais genuino, livre e selvagem. Muitas vezes estamos aqui junto e nem usufruimos, Domingo por casa, mudanças, limpezas, compras, net, almoço, sesta, telefonema da praxe, conversa simples, sono e canseira, como em qualquer cidade, diferente apenas a sensação de liberdade, o terraço virado a nascente donde se pode ver o nascer do sol, e conhecer o sabor da sombra no final da tarde. Entre o campo e a cidade somos nós que fazemos a diferença. Entre o Alentejo e a Orla do Guaiba tem mais em comum, quando as pessoas têm em comum, pensam em comum ou simplesmente conversam apesar da distância fisica. Domingo é domingo em todo lado, e o sol nasce para todos, embora uns tenham mais calor. Questão de latitudes.

sábado, 21 de julho de 2018

A morte é o prolongamento da vida

Vem ao caso uma pessoa amiga que está a passar por momento dificil, ao contactar com graves problemas de saúde de familiares próximos. A probabilidade da morte é sempre uma experiência complicada. Acredito que cada um tem o seu momento, mas esse momento também depende daquilo que fazemos com nós mesmos. Quando não nos ocupamos dos nossos problemas, testamos os limites, exageramos naquilo que nos é nocivo, ou temos uma conduta que nos prejudica. sabemos que estamos a apressar esse momento. Eu próprio tive de conviver com esse momento de uma forma mais directa duas vezes na vida, e confesso que acompanhar o fim de alguém de uma forma intima é arrasador. Já acompanhar o seu próprio fim me parece mais "aceitável". Passei por essa experiência, embora a luz da esperança nunca se tivesse apagado, e sempre pensei para comigo, mesmo nos piores momentos, que a morte seria um processo natural, não seria apenas um apagão, mas uma transformação noutra coisa. Um prolongamento da mesma matéria, para outra finalidade, e para quem estava muito doente, era o caso, seria quase uma libertação, do sofrimento, da imagem do que causamos nos outros, e da nossa própria imagem quando nos olhamos ao espelho e vemos aquilo em que nos transformámos. Outra coisa que julgo ter entendido é que a morte é um processo solitário. Nada nos adianta a confusão, o drama ou a agitação. Nunca perder a esperança, mas aceitar a dádiva.
Não quero fazer teoria acerca de nada, mas esperança é fundamental, e não são os outros que a trazem, muitas vezes é o contrário, são eles que nos ajudam a descrer.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Who kills Nat ?

Havia há  muitos anos uma série de que muitos gostaram, chamada "Tween Peaks", na qual o mistério correspondia a saber "quem matou Laura Palmer ?". Na realidade julgo que ainda hoje ninguém, nem o seu autor David Linch, sabe a resposta a este mistério, pois todos tinham motivos para a matar, muitos aprovaram a sua morte, e todos naquela pequena povoação participaram de certa maneira na morte da jovem que apareceu a flutuar num rio meio gelado que a atravessava. Mas que faz aqui esta referência ? Acabo também de assistir ao gradual desaparecimento, não diria morte, de uma personagem virtual, Nat ! Quem era esta personagem ? Era o "alter ego" de uma pessoa real, como sempre no mundo virtual. Mas estas personagens "alter ego" têm a caracteristica de se comportarem de maneira a que através delas se tem uma passagem estreita para o ego que as controla e as mantém vivas, talvez porque esse ego não se quer assumir abertamente, e faz bem, mas tem alguma necessidade de através de outrem compartilhar ou apenas exteriorizar as vivências que não pode, ou não quer, guardar apenas para si. Tem muitas por aí, sendo aliás uma das mais vulgares posturas no mundo virtual, a saber, tomar a identidade de outrem, por vezes mesmo mudando de sexo, idade ou cor do cabelo. Quando esta personagem se torna desnecessária, ou acaba revelando aquilo que não queremos, extingue-se, mata-se, expira o seu prazo. Até  pode manter uma vida artificial, o que sempre foi,  para que comunique a mensagem que pretendemos fazer passar, e servir de cortina ou apenas cenário. A vida no campo pode ser apenas uma fição, uma manipulação consciente ou até talvez não. É como uma carta que se mete no correio, com destinatário certo mas com uma mensagem errada para que o destinatário acredite.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Certo da incerteza

A incerteza é uma certeza. Como escreveu Fernando Pessoa "eu que não tenho certeza nenhuma sou mais certo ou menos certo ?"
Imagino uma realidade que se passa longe da vista, que se supõe, que se alimenta do sonho, mas aquilo que é não passa de uma realidade imaginada, que se partilha com outras pessoas, mas que se realiza apenas quando a certeza da presença se sobrepõe à ilusão do virtual.
Esta a dificuldade do mundo em rede, quando se entra nela, há que estar preparado para tudo. Para a verdade e para a mentira, para a certeza e para a ilusão, para a posse e para a partilha, para a ingenuidade e para a esperteza, para sentimentos de euforia ou para a frustração. Não há vida real no mundo virtual. Por definição, tudo se cria, tudo se apaga, tudo se partilha, tudo se pode possuir sem se ter nada, na realidade. Mas quem falou em realidade ?
Quem vive a vida no campo, mas nele não tem raízes, tende a reencontrar o mundo perdido através do mundo virtual, sem ter a verdadeira consciência de que uma mão está cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Não ganhamos nem perdemos, apenas somos companhias de passagem para um "mundo de aventura". No virtual tudo é mesmo virtual. O problema é que com tal facilidade acedemos a ele que começamos a tomar a ilusão pela sua materialidade. Daí á decepção é um passo, apenas um pequeno passo para quem não está preparado.
Na realidade a única coisa certa é que tudo é incerto, e melhor acreditar apenas na metade. Mas em qual delas ?

quarta-feira, 18 de julho de 2018

A ida e o regresso

A vida no campo tem destas coisas. É preciso ir e regressar. Aonde ? Lisboa claro, ou outra qualquer cidade pois aqui apenas o essencial está disponível, mas aquelas necessidades pontuais implica sair. Neste caso aproveitei a ida ao hospital, a que chamo a minha segunda casa, para gastar dinheiro nalgumas coisas de que precisava, resolver alguns pendentes, visitar a neta, e procurar o reforço da sua energia. Boa sensação aquela da neta me ver lá no fundo da rampa e vir a correr de bracitos abertos para o vovô, o que mostra bem como o sangue se reconhece como por telepatia. De resto na ida vamos vazios e no regresso trago a energia, apesar do enorme cansaço, que me é transmitido por aquele afecto bom e incondicional como só mesmo o avô comunica. Era o mesmo com o meu avô, e ainda hoje me lembro como me sentava na sua perna como me tornei sportinguista só porque ele o era. No regresso sabe bem reencontrar o meu quadrado, arrumar as compras feitas, colocar os livros na prateleira, comer o pão que ficou esquecido, fechar a gaveta entreaberta, ou abrir as portadas para entrar a luz. Sim há sempre luz à minha espera, uma porta encostada, uma lâmpada esquecida acesa. Uma mensagem para enviar com a mensagem de sempre: já cheguei a casa.

domingo, 15 de julho de 2018

A poeira

O dia de hoje foi dedicado à poeira. Não a dos dias mas a real que entra por portas e janelas, que vem agarrada às botas, que é trazida pelo vento. Quem vive no campo não se liberta dela. E a poeira é natural mas má para um fragilizado como eu. Afinal sou alguém de saúde débil, e de estado permanente de risco, o risco de um homem a quem Deus emprestou um orgão vital para viver. A minha vida está ligada à vida desse músculo que um dia escapou à morte do seu dono/a.
Mas na poeira muita vezes encontro motivos de júbilo. Vamos ver, um livro que aparece e já não via há anos, coberto de pó e que de repente está nas minhas mãos tantos anos depois a dizer lê-me !!! Uma fotografia, ou muitas, que andavam entregues á sua sorte e de repente trazem para os dias de hoje momentos inesperados de recordação. É o caso. Umas fotos em Santiago de Compostela, em 2000, fazem agora dezoito anos, e recordam momentos bons que se viveram por lá, num estranho hotel, com cama virada à janela, uma foto em particular de alguém que sorri, um sorriso carregado de emoção, o que iria já naquela cabeça, afinal a partida estava eminente. De lá prefiro recordar a beleza da cidade, a imponência dos monumentos, o domínio da pedra, a gentileza da companhia. Alguém sorri em Santiago ! A separação estava eminente, mas sorria, como se apenas o dia de hoje contasse. E afinal assim foi. Estava determinado que eu não saberia aproveitar a leveza. Muitas vezes está tudo ali e não queremos ver. A poeira trouxe agora tudo de novo. E o velho fez-se novo afinal.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Queima das fitas

Final de ano na USCO, Universidade Sénior, uma iniciativa que procura ocupar gente idoso, dar uma vida com um pouco de mais sentido. As minhas classes de pintura acabaram por integrar o projecto com vantagem de ter uma organização por detrás. É de salientar o que estas três pessoas fazem pela sua terra, não se poupando a esforços, procurando fazer tudo melhor, sem retorno nenhum, muito por vontade própria. E muitas vezes não contam com o apoio que mereceriam. Tem sempre gente que critica, que quer mais, outra coisa, sentada nos seus direitos, espera que os sirvam de bandeja. É assim a vida no campo. Aqui também tem pessoas más, arrogantes, e muito pouco reconhecidas. Mas por cima disso tudo se passa, de forma simples, leve, desligando. Este evento em si tem muito significado, pois indica o poder da vontade de quem persiste. Se fosse fácil não tinha graça nenhuma, costuma-se dizer.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Um atelier numa terra de ninguém

Daria o caso para realizar um atelier de pintura em Garvão, uma vila situada aqui próximo, mas na realidade muito longe de muita coisa, nomeadamente das artes e das ideias. As pessoas têm alguma distância e nem sempre são uma simpatia, mas assim longe de muita coisa que nos traz para a qualidade de vida como esperar demais. O reconhecimento é pouco, e muitas vezes penso se valerá a pena, pois ao longo de cerca de dois anos depois de começar o grupo mudou muito, e agora tem pessoas mais simples e melhores pessoas, mais humildes e querendo aprender. Recordo grupo anterior no mesmo local em que quase me ofenderam, ignoravam, e qualquer indicação era mal vista, pois as pessoas tinham-se em grande conta apenas porque se via serem gente com "teres e haveres". Nós gostamos de apoiar, de trazer alguma coisas de nós, mas nem sempre a nossa dádiva é bem recebida. Chegar a dizer que eu recebia dinheiro da Junta da Freguesia e portanto... eu que tudo levo, gasto da minha gasolina, dou do meu tempo sem pedir nada em troca. Enfim a vida no campo nem sempre é tão idilica assim. É que no campo para além de passarinhos a chilrear também há passarões... Na foto alguns trabalhos realizados !

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Uma estranha forma de demissão

Tem muita gente que se demite. Alguns andam sempre com uma carta de demissão no bolso, ou com uma palavra de demissão na boca que cospem cada vez que as coisas não são como lhe parecem, ou como gostariam que fossem, independentemente das realidades ou das boas intenções. Agora que demitir seja um acto civico tenho mais duvidas. Um acto de participação solidária, dá para rir. Demitir para perguntar o que sempre se pôde perguntar, apenas porque não se quer ouvir ou não se compreende as respostas, ainda mais. É muito estranha a forma de ver as coisas aqui no campo. Tudo tem uma velocidade, um empenho, uma responsabilidade bem diferente. Verdade, hoje somos reformados e nada pode exigir a visão do passado, mas o passado ensinou-nos a não virar a cara e a lutar para "melhorar as coisas". E as coisas têm de ser melhoradas, encontrar soluções. Vamos virar a cara, passar para outros, falar amanhã... sempre amanhã. E a culpa é sempre dos outros. Nós somos sempre perfeitos, mesmo no que não fazemos. Estranha forma de ... demissão.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Mais um ano de actividades

Terminou na segunda feira mais um ano na Aldeia de Palheiros, nas aulas de pintura. Estamos quase em cinco anos de colaboração. Como tal foi possivel, quase as mesmas pessoas, umas saem entram outras, o mesmo interesse. É uma segunda feira diferente para todos. Os quadros, a pintura, são apenas um pretexto para as pessoas conviverem e não estarem sós nem em rotina. Mas estas pessoas têm uma vida, muitas ainda têm marido vivo, mas vêm interessadas e sempre com uma visão boa e positiva. A mim faz me bem. Ocupa-me e ajuda-me. O reconhecimento delas é permanente, activo e bem visivel. É para mim um prazer. Gosto de ir lá e venho sempre melhor do que vou. Este ano tudo decorreu no quadro na Universidade Sénior, mas a realidade permanece a mesma se alteração ou novas posturas. Vale a pena. Tenho evitado introduzir novidade nestas aulas. Por exemplo podíamos fazer óleo mas seria mais dificel e implicava novos materiais, Apenas uma ou outra iria aderir. Melhor deixar estar, veremos como variar um pouco. Na foto a Perpétua apresenta o seu ultimo trabalho.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Final de ano

Este ano foi mais complicado devido a alguns afazeres que se meteram pelo meio. Mas mais uma vez se fez o almoço de final do ano, apesar de a Universidade Senior ir organizar um almoço no dia 13, mas como era tradição as artistas decidiram manter. Vou com gosto para este grupo sem manias, pressupostos, grandezas ou embirrações. As pessoas são boas, reconhecidas e interessadas. Chego a pensar como mantêm tanta fidelidade ao pouco que lhes posso ensinar, apenas saber de experiência feito. Na realidade á volta da pintura já fizeram tantas coisa, visitas, desenho, telas grandes e pequenas, telhas pintadas, muitas conversas, muito riso, muitas coisas bonitas, umas mais outras menos, outras assim assim nunca uma má palavra, nunca uma reclamação, aceitam tudo com um obrigado, pessoas diferentes do que encontramos por aí, na sua singeleza, nas suas alegrias que compartilham, nas tristezas que procuram afastar dali. E no fim a figura tutelar da Alice que tudo gere, encaixa, melhora, resolve e faz. Sem pedir nada em troca. Um exemplo para muitos outros que tudo querem mas tudo exigem, que se sentem "donos disto tudo". Só posso agradecer a forma como sou ali recebido, e enquanto puder e me quiserem por lá estou pronto.

domingo, 1 de julho de 2018

Um dificil regresso

Tem sido dificil mas desta será de vez. Penso eu. Tudo tem contribuido para me afastar do blog, e repor a reflexão diária que fazia, que procurava fazer. A minhas recentes ocupações tudo me retiraram e pouco me trouxeram.

Tirando ter ganho a amizade de algumas pessoas que conheci melhor e a estima silenciosa de outras, perdi tempo, saúde, sanidade, massa muscular, visão, serenidade, tranquilidade, muita gasolina, vi a verdade da natureza humana de certas pessoas que tinha por boas, os limites da irresponsabilidade, o resultado da arrogância no poder, e como certas pessoas se comportam em função da conversa de café. Percebo que estou a mais neste filme, e que o voluntarismo em si a nada conduz.

Compreendi também o que é a falta de reconhecimento que me tinha sido alertado.

Depois de tanto trabalho os mesmos problemas de sempre, embora tenha agora  uma situação mais respirável, afinal foi dado ás pessoas um ano de "normalidade". E o que as pessoas mais desejam é que tudo seja normal, terem à sua frente pessoas normais, serem tratadas com normalidade, e a normalidade é o mais excecional contributo que damos para a felicidade dos outros. Normalidade que lhes foi roubada por gente que se tinha por iluminada e superior.

Vou sair deste filme, mas ainda faltam os últimos e mais dificeis episódios. É que muita gente faria melhor de outro modo, mas quando têm essa possibilidade afastam-se.

Vou procurar recuperar a saude perdida, os quadros que não fiz, os posts que não colei, as frases que não escrevi, se me deixarem.

Foi um intervalo na vida, que espero tenha valido a pena. Para salvaguardar o que há um ano atrás era dado como perdido. Ainda assim a salvação não é certa e depende de muitas boas vontades e choca de frente com muitas impossibilidades. Procurei fazer o meu papel mantendo a esperança e a serenidade. Para isso contribuiu eu ser aqui um extra terrestre, um desconhecido que ninguém leva a sério, um homem sem qualidades, alguém que não conta, nem tem nada para ganhar, uma peça que encaixa no lugar que ninguém quer, mas que na sua ausência o edificio ruirá.

Sigo o meu caminho de sempre, e escondo-me onde não me vejam nem se lembrem de mim.