domingo, 30 de setembro de 2012

Secura extrema

Tudo o que se vê aqui estaria coberto de água em ano normal. Resultado de uma ano de secura, talvez a desertificação que avança e o Alentejo já começa a pagar a factura; segundo apurei dos cerca de 150 milhões de m3 que deveriam estar nesta barragem da Rocha estarão 40 mulhões, isto é menos de 25%. Quando se diz no Boletim Meteorológico que "o tempo vai melhorar na próxima semana", não sei se é mesmo isso o que deveriam dizer.

Os ignorantes

Hoje não se fala de outra coisa. O Dr Borges cada vez que fala causa incêndios no país, pelo que deveria ser detido como pirómano pela Judiciária. Agora chama ignorantes aos empresários. Não digo que muitos não o sejam, mas o mal está na generalização, pois no grupo dos que criticaram a TSU estão muitos que sabem muito bem fazer contas (no mínimo), e falaram em função dessas contas, aquelas que Borges não precisa de fazer, pois só tem que receber ( do Estado que ao que dizem lhe paga 25 000 euros por mês, fora as outras remunerações que aufere dos privados, os tais ignorantes...) e nada tem que pagar no final de cada mês. Os ignorantes e os expertos agradecem moderação, bom senso e menos arrogância.

Ainda existe o Inter Rail ? ( 11 )

De partida de Munique para Genebra. O comboio partia de manhã pelas 10h00, e a viagem ía fazer-se de dia com acesso pela janela do comboio às paisagens campestres e montanhosas da Baixa Baviera, e Alpes Suiços. Recordo um momento em que repentinamente, a janela do comboio se abre sobre uma paisagem de um lago lindíssimo, o Lago Constança, onde se juntam as fronteiras de três países, Alemanha, Austria e Suiça. Uma maravilha que se abria para os meus olhos, uma imagem libertadora, para mim, que começava a regressar a Portugal, onde as liberdades eram mitigadas. Ainda hoje essa imagem de há 40 anos permanece na minha memória.

A chegada a Genebra deu-se pelas duas ou três da tarde, e a estação era pequena, nada comparado com a grandiosa Alemanha. O comboio continuava, salvo erro para Lyon, em França. Agora falava-se francês e era mais fácil. A saída da estação dava-se para uma praça grande, rodeada de prédios de média altura. O trajecto para o albergue fazia-se a pé, pois era próximo dali mesmo, tendo passado primeiro pelo posto de turismo, para obter um mapa da cidade, e como era norma, trocar agora os poucos marcos por ainda menos francos suiços. Com estas notinhas no bolso, lá fui à procura do albergue, que encontrei facilmente. Nada de especial, um pequeno edifício, com meia dúzia de quartos, nos quais havia três ou quatro camas em cada um.

As primeiras impressões era de uma cidade organizada, regrada, lembro um detalhe que muito me impressionou, os jornais diários estavam empilhados em caixas, das quais eram retirados ordeiramente pelas pessoas e que religiosamente deixavam o dinheiro numa caixa, lá colocada para o efeito. Confesso que desta vez não roubei qualquer jornal, mas fiquei admirado, e nem imaginava tal sistema no Portugal da altura, e menos ainda no de agora. No final do dia não haveria nem jornais nem dinheiro.

Fiz uma visita pela cidade no dia seguinte. Como sempre não entrava em restaurantes, menos ainda ali onde tude era exorbitante dado o valor da moeda. Comprava num supermercado umas coisas que comia nalgum banco de jardim, ou no local de dormida e assim tudo era mais barato. Visitei a célebre zona do lago, onde se situa um repuxo, no meio do lago, e a zona circundante era muito agradável.

Os suiços falavam um françês esquisito. Parecia que não falavam, cantavam. A cidade parecia uma grande pequena cidade, as dimensões eram humanas, as pessoas simpáticas, ajudavam, havia muitas pequenas lojas, e muita actividade nas ruas. Tudo parecia simples. Longe da ideia da Suiça da grande finança, que já na altura era, mais a Suiça dos relógios e dos canivetes.

A voz da rua

De novo muitos milhares na rua, talvez uma centena de milhar, embora menos do que no passado dia 15. Natural, pois esta era uma manif de uma parte. Por outro lado a manif de 15 de Setembro foi como uma resposta "orgânica", uma resposta da "pele" de muitos portugueses que se sentiram achincalhados pelas proposta desleixadas de PPC, e as declarações "sem alma", do ministro Gaspar, para quem o país não passa de uma folha de Excel e que foram de uma "crueldade" e de uma falta de "sentido político" que provocou a reação epidérmica.
Hoje essa componente pareceu-me ausente. Tudo previsto, organizado, e a cumprir um programa já definido que, como era de prever, vai desembocar numa greve geral. E nessa altura, digamos 24 de Novembro ou data próxima, retoma-se o ciclo, Melhor, a espiral. Esta a lógica política do PCP e da CGTP, seu braço sindical. Se por um lado o seu "enquadramento" assegura a manutenção das massas dentro de um quadro não violento, por outro, a sua lógica reprime a expontaneidade da expressão das pessoas. Quanto à eficácia parece-me nula. Mesmo assim é muito bom que o Governa saiba que não pode governar sem travões. Sorry !!!

sábado, 29 de setembro de 2012

Victor Jara ( 1932-1973 )


Como hoje referiu João Gobern, "teria feito ontem oitenta anos se não o tivessem assassinado aos quarenta". Trata-se de Victor Jara, autor, cantor, chileno, assassinado na sequência do golpe militar do sinistro Pinochet, em pleno Estádio Nacional, que como se sabe hoje serviu de prisão, e de campo de extermínio para muitos chilenos que apoiaram Allende, assim o que não foi o Campo Pequeno, mas ao contrário. Fica-se com o "Direito de viver em paz", coisa que hoje permanece tão viva.

Poesia com tempero

Ontem na Biblioteca Municipal em Ourique, e integrado na Feira do Livro, sessão de poesia e performance com Clara Rosana, Clemente Tsamba e Paulo Duarte, Brasil, Angola e Portugal num percurso pelos poetas da lusofonia, excelentes interpretações e uma escolha que foi do óbvio ao desconhecido, dum projecto chamado "Poesia com tempero". Saliente-se uma excelente interpretação de Poema VIII do "Guardador de Rebanhos" de Alberto Caeiro. Gostei.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Ainda existe o Inter Rail ? (10)

Permaneço mais dois dias na Alemanha em Munique. Decidi visitar o Parque Olímpico, que tinha sido a sede dos Jogos olímpicos de 1972, no ano anterior, e neles tinham sucedido coisas horriveis, a morte de atletas da equipa israelita, em plena residência olímpica. Na altura o conflito israelo-árabe, estava no auge, fazia parte da guerra fria, mas era muito quente. Spielberg, muitos anos depois filmou "Munique" para evocar tal acto.

O parque era enorme, nomeadamente um estádio gigantesco, que julgo ser hoje o estádio do Bayern, e tudo à sua volta era verde, uma dádiva aos habitantes de Munique, que agradeciam tirando partido do espaço. Era um domingo, por todo o lado se viam famílias desfrutando, bandas a tocar, nomeadamente uma do exército americano, que seria uma Jazz Big Band excecional. Por ali se comia bebia, dançava. O povo estava contente, tão longe do cinzentismo do Portugal marcelista, onde se vivia no medo, na desesperança, na guerra, na histeria patrioteira, nos 8 séculos de história, na castração de uma moral de virtudes públicas vícios privados.

Ali carreguei baterias, depois de já cerca de duas semanas fora de casa. Não tinha saudades de nada que ficara para trás, apenas uma lembrança da família, que tinha ficado em pânico, não sabendo qual era a minha ideia, nomeadamente se voltaria. Mas de facto nunca pensei em não voltar.

Voltei no final do dia ao meu albergue cinco estrelas, e era altura de imaginar nova etapa da viagem, o Inter Rail ía correndo, teria de estar em Lisboa antes de 6 de Outubro.

A próxima etapa no meu projecto seria Genebra, e estava marcado desde o inicio. Fui marcar a viagem que ficou aprazada para o dia seguinte no final da manhã, Desta vez ía quebrar a regra e viajar de dia. valeria a pena pois íamos atravessar os Alpes, e seria interessante ver a paisagem. Por outro lado o trajecto era curto, apenas algumas horas. Assim deixei as strass as platz e a superioridade dos boches.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O banho higiénico

Esta a água que o Município de Ourique propôs hoje aos seus munícipes para o fresco banho matinal, num dos concelhos onde a factura da água é mais cara. Dirão, foi por causa das obras que fizemos nos últimos dias para reparar avarias. Mas podiam ter purgado os circuitos, e assim evitava este abastecimento impróprio e o custo transferido para os munícipes. Depois não é verdade. Toda a gente sabe aqui que a qualidade da água abastecida na torneira é péssima, muitas vezes com o aspecto que se vê na foto, que as canalizações têm de ser renovadas e que isto já vem de anteriores executivos, que não se atravessaram pois este tipo de obra não dá votos. Pensem melhor. Globalmente o trabalho do Município é positivo mas esta mancha negra estraga tudo. E já agora onde andam as autoridades que fiscalizam a qualidade das águas ? eu sei que a água tem boas análises, mas tal depende do local onde sábiamente são feitas s colheitas...

A arte de ser leitor

Numa sessão de ontem à noite tivemos José Fanha a falar do que mais sabe "A arte se ser leitor". Quando dei por mim estavam 17 pessoas a assitir, 16 mulheres e eu. Teria entrado na porta errada ? ou será que o homem alentejano sente-se menos homem com um livro na mão do que com uma "mine" ? Ironizo, claro...
Fanha o mesmo de sempre. Estive quase um ano com ele no Clube de Leitura de Silves, e sei como gosta de falar, como cita os livros que lê, como associa a história e a arte com a leitura, tendo dela uma visão afectuosa. Ontem, dado que a maioria eram docentes, a conversa foi muito conduzida para fazer ler os jovens, mais do que fazer ler os "leitores", entre eles os professores, que muitas vezes lêem pouco, e mal.
Gostei de o rever. A organização é boa, e tudo parece feito para agradar.
Na foto Fanha mostra um livro que recomenda do Nobel de 1981, Elias Caneti, "A língua posta a salvo".

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Feira do livro em Ourique

Abriu ontem, centenas de livros podem ser comprados, tocados, desfolhados, a preços abordáveis na Binlioteca Municipal Jorge Sampaio. Uma iniciativa condenada a ter sucesso. Comprei um livro para a neta, o maravilhoso "Velho que lia romances de amor", de Sepúlveda. Já é altura de ler coisas um pouco diferentes da vampiragem, lobisomens e almas perdidas. Acho que vai gostar !!! é uma teenager inteligente.

Até a terra treme ...

Ontem pelas 23h houve um tremor de terra por aqui, sentido em Ourique e Castro Verde, 3,8 na escala de  Richter, epicentro a cerca de 14 km de Ourique ( deu na RTP e tudo ...)  Estava a ver a SIC Notícias, o Rui Gomes da Silva dizia que tinham sido "avisados" de que íam prejudicar o Benfica frente aos da Académica, que devia intervir, o Presidente dos árbitros, o Governo, o ministro do Desporto (que não existe...), o Presidente  da República, sei lá, tal que a terra se sentiu incomodada com tais deslates futebolísticos, e como um bidon que rolasse rua abaixo, ouviu-se um rugir, muitos cães a ladrar (aqui todos têm no mínimo dois ), e no final numa sacudidela única a casa tremelicou, como que a dizer Basta  !!! joguem mas é à bola. Hoje de manhã confirmei o acontecido, era mesmo um  sismo, e não tinha sido provocado pelo Benfica.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Que confusão !!!

Hoje reunião de concertação social. O saudoso Ernâni Lopes avisava que em 1984, na intervenção do FMI, tinha dedicado uma grande parte do tempo à concertação. Passos não deu ouvidos e avança de "peito às balas". Agora quer recuperar de uma gestão trapalhona. Mas os "avanços" e "recuos" criam confusão e ninguèm mais se entende, cada um tem uma ideia e interpreta as ideias dos outros pensando que estão a pensar no que de facto não estão. Confuso, né !!!

Uns dizem que o governo recuou na baixa da TSU, mas eu penso que recuou na subida da TSU para o trabalho. Uns dizem que vai cortar um subsídio a todos, mas eu acho que já cortou os dois... uns dizem que vai mexer no IVA, mas outros que não, que é no IRS. Ninguém sabe dizer, se mantiver a baixa da TSU como a financia. Uns dizem que essa baixa é para compensar o chumbo do TC. Mas eu penso que é para reduzir os custos do trabalho.

A ver se a gente se entende. Olha que desta vez até concordo com as propostas da CGTP. Qual o problema de criar imposto sobre as transações financeiras ? Qual o problema de taxar dividendos ? Qual a dificuldade de aumentar IRC, pois só paga quem tem lucros (uma imensa minoria). Não sei é se chega, pois a quarta medida, reduzir em 20% as fugas na economia paralela, parece-me inaplicável. Julgo que o governo deveria inspirar-se nas diversas propostas feitas e não excluir nenhuma possibilidade, sem complexos de esquerda ou direita.

Ainda existe o Inter Rail ? (9)

Estava agora na Grande Alemanha, final de Setembro de 1973, e caí sobre a Festa da Cerveja. Na primeira noite confirmava-se a agitação. Na entrada do albergue vestidos a rigor, grupos de homens e mulheres cantavam os hinos bávaros e o "olaréli" prolongava-se, mas em determinado momento tudo se calou e pode-se descansar. O local era bom e calmo.

No dia seguinte, voltei ás ruas. Visitei a Alte Pinakotech e o Deutsches Museum, para o que tinha de tomar várias carreiras de eléctrico, com as dificuldades que já descrevi quanto a fazer-me entender pelos alemães. Nos museus a situação era um pouco melhor, pois havia quem falasse inglês. foi quase um dia de museologia, e a meio da tarde estava estafado.

Nas ruas viam-se os preparativos da Festa da Cerveja ( a Oktoberfest), ruas engalanadas, com muita gente  vestida "bavaramente" a rigor. O entusiasmo era grande, havia um desfile pelas avenidas principais, onde desfilavam carros puxados por grandes cavalos, e também por bois, que consistiam em pipas gigantescas de cerveja, em forma de carro, desfilavam bandas, onde vi um instrumento bizarro, xilofone vertical, que o instrumentista tocava com perícia. Desfilavam grupos de pessoas, a rigor.

Aproveitei para provar a tal famigerada cerveja, entrando a custo numa das muitas cervejarias, onde milhares de pessoas se comprimiam, para beber. A custo lá batalhei por uma cerveja. As suas dimensões  eram assustadoras, menos de meio litro não havia, e a maioria aboletava-se com canecas gigantescas de no mínimo dois litros, que entornavam em poucos minutos. Comi também uma daquelas salsichas gigantes, afundada em mostarda que parecia dar murros no estômago cada vez que se engolia. Aqui não havia problemas de linguagem, o gesto bastava, para encomendar às empregadas, que corriam dum lado para o outro, trajadas a rigor, e uma banda com três ou quatro elementos dava uns acordes de vez em quando, e as funcionárias dançavam ao som, enquanto equilibravam uma dúzia ou mais canecas de cerveja, num milagre de perícia, a alegria era transbordante, genuina, e ninguém era ignorado, o serviço de uma eficácia apreciável. Ainda guardo as bases ds canecas que se tiravam do balcão, pois ninguém colocava um copo na mesa sem elas.

Saí e ainda visitei a Frauenkirch, a Perfeitura, tudo monumentos que em grande parte a guerra destruiu, mas o esforço e capacidade de trabalho dos alemães e o dinheiro doa americanos recontruiu. Fiquei impressionado. Na igreja retirei um ou dois postais mas não paguei, afinal eles respiravam dinheiro e nós já na altura eramos uns pobretanas. Foi pecado eu sei, mas com o que fizeram aos judeus expiámos todos os pecados que tivessemos cometido contra qualquer alemão.

La Fontaine e a troyca

O ministro Macedo (o Miguel não o Paulo...), foi buscar La Fontaine e a fábula da formiga e da cigarra. Uns gastam outros produzem. A fábula foi escrita na suposição de que a formiga era o exemplo a seguir. Mas no caso vertente, quem gastou, onde param as cigarras? Seguramente não foram os que ganham salário mínimo ( mesmo que fossem 2 ou 3 salários mínimos), mas sim os que decidiram nas despesas do Estado. Políticos no activo, autarcas, empresas de obras públicas, bancos que apoiaram especuladores, ex governantes, dirigentes regionais, como um que bem conhecemos, e mesmo na divida privada quem gastou e está endividado é a classe média alta. Senhor ministro deixe o La Fontaine em paz, trabalhe e faça trabalhar, cumpra a sua parte que é tomar boas decisões, e já agora economize, e logo verá que as formigas estão prontas a trabalhar se lhes disserem onde, e já agora que não seja no exterior. Não confunda cigarras com manifestantes anti portagens ou anti troyca, e formigas com "gente que se mexe muito bem", mas é à volta do orçamento geral do estado.

domingo, 23 de setembro de 2012

Comer e calar, o coração não deixa

Sou das pessoas que sabe a verdade do que está escrito nesta cartaz. O poder do coração é imenso, e tomá-lo de assalto, como alguns dos nossos decisores querem fazer é difícil. Um povo de cordeiros torna-se num grupo de leões. Basta que se estique a corda, ou se toque numa parte dolorosa do coração, que este reage, pula donde está e resiste ao assalto. É o que se passa agora. Quando o botão da injustiça é tocado, quando os políticos não têm mais em conta a realidade, e decidem sem usar a cabeça, acontece que as pessoas são tocadas, e transformam-se. E aí, cuidado pois não há como fazer parar um coração em fúria. Como dizia alguém parafraseando uma publicidade conhecida, "há uma linha que separa a austeridade da imoralidade", e há mesmo e convém não a ultrapassar. O coração é muito amplo, enorme, e pode aceitar muita coisa (como eu sei bem), mas nada de o forçar a cortar as amarras com aquilo que o violenta. A partir daí, os ministros não vão poder sair à rua, as medidas tomadas são todas contestadas, o benefício da dúvida é abolido, e não se acredita em mais nada. Comer e calar não ! Se é preciso faz-se, mas percebendo como, porquê, com verdade, com justiça, comprende-se que todos colaborem. Agora, mentiras não. Quanto vale o deficit actual ? ninguém diz ! Porquê a dimensão da austeridade 2013 se é só preciso baixar 0,5% no deficit ( de 5 para 4,5%) ? silêncio !!! Porque é que a frota automóvel é toda nova (viram as matrículas e caracteristicas dos carros que saiam de Belém na noite do conselho de estado ) ? não se explica !!! Porque não se taxa as transações financeiras ? Moita, carrasco !!! isto o coração não consente...

Leitor á distância

Sim isso existe mesmo. Agora sou leitor à distância da Biblioteca Municipal de Silves, integrado no seu Clube de Leitura. Ainda aqui falarei um dia da experiência dos clubes de leitura a que pertenci, nomeadamente de Lagoa e Silves. Mas dada a impossibilidade prática de ir todos os meses ao dito Clube, embora no inicio tivesse ido, foi-me proposto que recebesse as obras a ler pelo correio, ou outra via, e enviasse os comentários por mail para serem lidos na reunião. Pode-se ainda acompanhar via Skypie, coisa que não penso fazer, mas nunca se sabe. Veremos se funciona, para já recebi os textos, coloquei uma nota lateral no meu blog, para se saber o que se está a ler, neste caso é Clarice Lispector, dois dos seus muitos contos, a saber "Feliz Aniversário" e " Crime de um professor de matemática", os quais já li, e deixam grande vontade de ler mais, pois esta mulher é uma descoberta para mim, e para todos os que nunca leram nada dela, com a sua acutilância, dureza e femininilidade. Os dois contos estão disponíveis para leitura nos links acima. Em breve voltarei à Clarice.

Manhã de Outono num domingo alentejano

Hoje de manhã acordou assim o Baixo Alentejo. Ontem foi o equinócio de outono, o sol nasceu precisamente a leste, tentei a foto, mas o sol nasceu sob as nuvens e já ía alto quando sorriu.


Hoje, nova tentativa, nova derrota. Está uma promessa de chuva que tanta falta faz agora para começar a acumular água, assegurar regadios, acalmar os campos, dar de beber a animais que por aqui estão por todo o lado. Enfim, boa notícia, o calor abranda, embora ainda ontem o bafo fosse sufocante. Esperemos que o Outono traga água aos campos e... juízo aos políticos.

sábado, 22 de setembro de 2012

Ainda existe o Inter Rail ? (8)

Estou a recordar a minha viagem com Inter Rail de há 40 anos, a única por este meio. Lembro que na altura este bilhete era apenas válido para menores de 21 anos, idade que concluiria no último dia da viagem, pelo que teria de chegar a Lisboa nesse dia, a partir daí o bilhete seria inválido, embora os 30 dias apenas se concluissem 2 dias depois da minha data de aniversário, seis de Outubro.

Na altura o dinheiro era escasso (e hoje ???), e ao entrar no comboio já ía preparado com jantar, pequeno almoço, e um mata bicho, para a noite negra e fria, que de facto ocorreu. A Alemanha foi atravessada a temperaturas muito baixas, tive frio, ía só no compartimento, e os passageiros eram escassos, apenas pelas 7  ou 8 da manhã começaram a entrar passageiros destinados a Munique, como comboio regional, pois a composição era alemã e não dinamarquesa. Como um bom comboio nocturno as paragens eram frequentes, as estações desfilavam. Passava-se em  Odense, Hamburgo e Nuremberg. Naturalmente tinhamos feito a mesma manobra com o comboio no ferry, mas nem saí. Já devia dormir.

Pela hora exacta entramos na gare de Munique ( ainda me lembro em grandes letras Munchen Hauptbanhoff ), uma gare impecável, limpa, lisa, com pouca gente e nenhuma confusão. A confusão era aquele linguarejar arrastado e sinuoso, de que nada se entendia, e mesmo a lingua escrita era imperceptivel, jamais se poderia dizer, "por umas tiram-se outras", pois nada se entendia. Sabia vagamente que me iria alojar num albergue ainda longe, necessário transporte, mas qual, felizmente tinha a indicação do número, mas ao sair da grande porta da "hauptbanhoff", passavam eléctricos em vários sentidos, que paravam em vários locais diferentes, o meu nem sabia por onde viria. Perguntar, ninguém entendia, inglês, se percebiam o que falávamos, faziam tudo para não entender, e dar respostas evasivas. Era a Grande Alemanha, senhora de si, da sua língua erudita, das suas declinações. Ali ou se falava alemão ou ía-se embora.

Utilizando o poder de derenrascanso do portuga, e a minha teoria, "se não sabe porque é que pergunta ?", lá descobri a paragem onde constava o número do eléctrico, só faltava saber o sentido a seguir. Ao chegar, o eléctrico era conduzido por uma matrona próxima dos 60 anos, fardada a rigor, mostrei um papelucho com a morada, ela acenou com a cabeça, vendeu-me o bilhete e arrancou. Não esquecer, que ao chegar a primeira coisa era trocar dinheiro, pois nada como agora, e na troca não apresentar escudos, mas algo mais "forte", com a perda associada. Na Suécia e Dinamarca lá faziam o favor de aceitar as coroas uns dos outros, mas na Alemanha só marcos, e davam maarcos a quem desse moeda forte, escudos era papel pintado.

Faltava agora saber a paragem. Assim, embora o sistema sonoro avisasse que íamos chegar à "benvallidaferrimenfacomunicastrasse", percebia mal os nomes das ruas que eram maiores que a própria rua. Assim por duas os três vezes levantei-me e mostrei o papel à senhora condutora, tendo-me sentado ali no assento mais próximo, até que ela me fez sinal, simpática até, e saí.

Pelas setas foi fácil descobrir a rua, e o albergue, apresentava-se imponente, um edifício do pós guerra, ali tudo o era, pois Munique foi destruída, clássico, eficaz, e em muito bom estado. Entrei, alojei-me, mas já não uma barateza, embora abordável para o pelintra que eu era... O quarto, verdadeiros quartos, com três camas, mas grandes espaços, apenas os banhos eram comuns, numa grande WC, mas com muita privacidade e limpeza. Tudo em bom...

Via-se algum movimento, e a população que ali estava não eram mais os mochileiros, mas homens e mulheres adultos, bem vestidos, que estavam ali como poderiam estar num hotel. e apenas a conhecida boa gestão alemã os fazia ficar num local onde se obtinha a mesma prestação por muito menos dinheiro, e não por serem pobres. Incrível como se borrifavam no "estatuto".

Saí de novo para comprar algo a comer e de novo tomei o eléctrico para a hauptbanhoff, que era o local que eu conhecia. Os transportes eram impecáveis, em Lisboa ainda não havia daqueles, que eram de certeza do pós guerra teriam menos de 30 anos, mas tudo conservado. No decurso do meu dia acabei por descobrir qual o motivo de algum movimento no albergue, incluindo alemães vestidos a rigor com os tradicionais fatos da Baviera, onde afinal estava.  Pois ía começar no dia seguinte a muito tradicional Festa da Cerveja, que ainda hoje se realiza. Vinha em bom momento.

Ainda existe o Inter Rail ? (7)

Em Lund, na Suécia, passei alguns dias com o meu amigo, e com outros que com ele partilhavam a situação. Comia-se na residência, mas havia que cozinhar, dormia-se no saco cama, mas bem, e não paguei nada. Explorava as possibilidades, mas para mim era cedo, pois tinha ainda anos de adiamento militar, pelo que podia permanecer em Portugal sem ser mobilizado, enquanto tivesse bons resultados académicos. Por ali o meu amigo, dentro das limitações estava integrado.

Dado que tinha passado em Copenhague sem ver a cidade, decidi regressar, e passar um ou dois dias por lá. Fiz a mochila, despedi-me do meu amigo, que só veria muitos anos depois, e voltei a Malmoe, ao jetfoil que tanto tinha elogiado, e de novo me encontrei em Copenhague, onde ao final do dia, me alojei num albergue chamado "Open University", coisa fracota afinal, e onde por muito pouco se tinha um beliche e um banho. Durante dois dias vagueei por lá, visitei alguns museus, o zoo, vi a inevitável Pequena Sereia, que era bem pequenina, a quem mãos criminosas tinham cortado um braço uns meses antes e ainda se mantinha amputada. 

Algo que na altura me espantou, na tal University, os quartos tinham 4 ou 5 beliches e eram mistos, coisa inimaginável para portuga, onde nem as escolas secundárias eram mistas. Respirava de facto um ar que até a mim me custava aceitar. O peso de muito preconceito inculcado.

Quanto ao mais, dias curtos, já caminhava para o fim de Setembro, céu cinzento, e pouca gente na rua após as 17 horas, tudo ía para casa. Durante o dia idosas bem vestidas e de chapéu e gabardine, gozavam as reformas nas esplanadas aproveitando a luz, fumando charutos ou até cachimbo, e bebendo uma carlsberg ou uma tuborg, O comércio parecia florescente, e a cidade era bonita, sem ser luminosa como as cidades do sul.
Estava na hora de partir, e escolher um novo destino, que eu tinha no meu plano já decidido, e que seria Munique. No ano anterior tinham sido os Jogos Olímpicos, os tais do assassinato de atletas israelitas, e tinha-se falado muito da cidade, daquilo que na altura se chamava a Républica Federal da Alemanha, por contraponto com a RDA, a Républica Democrática Alemã, comunista.

Ali havia a barreira da língua, pois na Suécia e Dinamarca o inglês era falado com a mesma facilidade das línguas nacionais, e não na Alemanha.

Fui marcar o meu trajecto, pois havia um comboio directo, pelas 21horas, entre Copenhague e Munique, que chegava no dia seguinte pelas 11 da manhã. Eram 14 horas de viagem, mas a dormida era garantida.
À hora aprazada lá estava, escolhi um compartimento vazio, e eram muitos, e preparei-me para mais uma noite ferroviária. Já fazia algum frio quando o comboio partiu.

Cuidado com os bolsos...

Após uma breve ausência, regresso mas a novela continua. Hoje, no Expresso, admite-se alterações à polémica TSU e forma de a financear. Com algumas coisas concordo, e até já aqui tinha referido, mas a ideia de substituir os 7% para os activos, por um aumento do IRS, parece-me a generalização da asneira. Agora os pensionistas também passam a contribuir para o bolo. Mas afinal não há mais bolsos onde meter as  mãos ???

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Decoro

Espero que os dois P's, o Pedrito e o Paulinho, tenham o decoro de não vir para a praça pública a dar o espetáculo triste que se assiste nos últimos dias. Nós, votantes ou não nas suas agremiações, exigimos que se quiserem partir a cara um ao outro que o façam, mas em casa. O país, contra o que se diz, não aguentaria tal baderna. Veja-se que os juros já sobem.. E depois como podem querer negociar ( se é que querem... mas deviam !) com o Tó Zé, se nem entre eles que governam se entendem. Depois do puxão de orelhas de sábado não podem estar quietinhos ?  e se querem estar agitados, emendem as asneiras feitas.

Feira do livro

Durante a próxima semana decorre por aqui, Ourique. uma Feira do Livro, organizada pela Biblioteca Municipal. O interior também tem direito a este acesso à cultura, pois associada a esta feira existem outros eventos, cujo programa em detalhe ainda não conheço. Sábado também há teatro, e um encontro de coros. Enfim, alguma concentração de acontecimentos quando durante semanas nada acontece. Mas melhor assim. Manter, neste momento uma programação, num município com estas caracteristicas, envelhecido, endividado e onde muito depende do Estado é dose, e percebe-se a dificuldade. Qualquer pequena coisa a fazer tem de ser bem pensada. Daí a minha referência aqui. E já que se organiza que seja um sucesso.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O TSU nami

Nunca em Portugal se tinha visto uma coisa assim. O processo de enriquecimento cultural acelerou. Hoje qualquer "borra botas" (grupo no qual me incluo ...)  fala das PPP, do IVA para a restauração, das "rendas excessivas" no sector energético, das pensões e da sobrevivência da Segurança Social, do memorando de entendimento, da troyca, a unidade "milhão de euros" passou a ser a unidade de medida mais falada do sistema monetário, a última entrada directa para os tops de vocabulário é a TSU. TSU para cá, TSU para lá, todo o mundo se converteu e não quer outra coisa, baixar a TSU, subir a TSU, medida de austeridade, etc etc.
Aqui o "borra botas" de serviço também tem um "modelo", porquê, não tenho direito? para avaliar a TSU. Ora cá vai, e é a sério. Concordo e acho bem baixar a TSU para "algumas" empresas, quais, as exportadoras, as do turismo, e aquelas que produzem produtos que seriam importados. Porquê? porque baixar, pode tornar esses produtos mais baratos, e como concorrem com importação ou são exportados, melhora a situação concorrencial dos mesmos face aos produtos estrangeiros. Discordo que a baixa se alargue a outras empresas como bancos, distribuição, energia, telecomunicações, prestadores de serviços de saúde, entre outros. O problema não está na TSU que deve de facto baixar, até mais, se fosse possível , para essas empresas, mas sim na forma como se substitui essa receita na Segurança Social. Aí que os senhores economistas e financeiros que puxem pela cabeça. Jamais do bolso do trabalhador, mas porque não acelerando e cortando as tais "rendas", aumentar IVA num ou outro produto, aumentar IRC entre outras... Não é simpático mas nisto de dever e pagar nada é simpático. Palavra de "borra botas" !!

Ecos de um fim de semana

Ainda andam no ar os ecos das manifestações de sábado, os incidentes provocados por meia duzia de rapazolas sedentos de emoções fortes, as audiências aos parceiros sociais, e as suas intervenções, a  guerrrilha do PSD com o CDS, e outros jogos florais, a entrevista de Seguro, em que a "matraca" falou falou falou,  e nada disse de útil, mas, como sucede muitas vezes, a minha depressão atingiu o auge ao ouvir ontem o programa "Olhos nos Olhos", com Medina Carreira, tendo convidado Paulo Morais, o ex-vereador da Câmara do Porto, que trabalha agora com a Transparency International. Explicou-se com clareza sibilina como se transforma um terreno com meia dúzia de couves, num projecto imobiliário, fazendo milhões de mais valias, por várias formas, entre outras transferindo para uma entidade bancária um activo supersobrevalorizado, assumindo o banco e depois os contribuintes os prejuízo, explicou-se como se compra por tostões, o que se sabia ou suspeitava que iria ser expropriado pelo estado, ou valorizado por infraestruturas a construir, explicou-se como infraestruturas rodoviárias sem viabilidade se contruiram visando em primeiro lugar o enriquecimento de uns tantos e o financiamente partidário, explicou-se o que já se tinha percebido, que à frente das concessões em regime de PPP estão sobretudo ex-decisores , ministros, secretários de estado, assessores, que tomaram as decisões que agora as beneficiam. De ficar com a cara à banda, nós já sabíamos, mas dito assim... É por aqui que andam os nossos subsídios de férias e Natal, as pensões que foram cortadas, etc.

domingo, 16 de setembro de 2012

O enfarte muda a vida das pessoas

Faz hoje mesmo seis anos que tive o primeiro. Estava a andar de BTT.  Aqui pode-se ler a descrição do que se passou. E o meu comportamente negligente e ligeiro, trouxe-me até ao que sou hoje. Mudou a vida de forma radical e não para melhor, garanto,  felizmente estou naquela pequena percentagem dos que fintaram a morte, graças à excelente assistência do SNS, mas como diz a frase publicitária " pode-se viver com o enfarte, pode, mas não é a mesma coisa". Atenção a sorte não é para todos...

Domingo de manhã, alguém me explica ?

Hoje ao abrir as portadas, voltadas a nascente, deparo com o espectáculo que as fotos descrevem, andorinhas às centenas. Uma hora depois todas desaparecem, e ao dar uma volta pela vila, eis que andam a sobrevoar as ruas, e a visitar ninhos antigos. A dúvida que me assombra, estão de partida, nesse caso de passagem, pois hà meses que não as via por aqui, ou de chegada, pouco provável pois lhe associamos a Primavera e não o Outono. Mas como isto está tudo baralhado não será que até as andorinhas se enganam ?

Ainda existe o Inter Rail ? (6)

16 de Setembro de 1973, chegava à primeira paragem desta viagem, Lund. Tinha entretanto procurado e encontrado o meu amigo. Não adiantando muitos pormenores, posso acrescentar que ele vivia já há cerca de um ano naquelas paragens, como muitos outros portugueses na mesma situação, que não se confundiam com os outros emigrantes, eram individuos com a situação militar não regularizada, pelo que se regressassem ao país, e fossem apanhados, seriam de imediato presos, incorporados na tropa e enviados para a guerra nas colónias, e foi a fazer "erros" destes que tudo acabou no 25 de Abril.
Felizmente que os cometeram... pois desta forma encheram de oposicionistas as forças armadas, pois a mesma receita também era usada com os universitários mais contestatários.
Não precisavam de trabalhar, para já, pois o estado sueco tinha-lhes atribuído uma bolsa, que lhes permitia estudar na Universidade, após aprendizagem da língua, e comprovação de habilitações. Residia numa residência universitária, onde dispunha de um belo quarto, que era pago, e de cozinha colectiva. Tudo estava arranjado, limpo, conservado, ajardinado, e as condições eram as melhores. Lund era uma cidade universitária, uma das mais antigas da Suécia, o meu amigo estudava Comunicação (coisa que em Portugal não se sabia o que era em termos universitários... e se se soubesse seria proibido), e podia partilhar o quarto com quem quisesse. Na cidade o uso da bicicleta era generalizado, em Portugal eram os pobres, operários, agricultores, leiteiros, amola tesouras, gente simples, que a utilizavam, jamais se imaginaria ir para a universidade usando tal transporte, e para mais eram públicas, pegava-se num local e deixava-se noutro, e ninguém as roubava !!!  mas que país extraordinário. Depois sabia-se que na altura, a Suécia era conhecida  por aqui como um país hostil ao regime, e era, mas também pela sua "ampla" liberdade, nomeadamente no domínio dos costumes, e julgo que também era.
Na altura, que coincidência, estavam a decorrer as eleições legislativas no país, tive assim a possibilidade de assistir ao que era uma campanha eleitoral séria, mas limpa e sem exageros, fotografei cartazes, pequenos comícios, o ambiente calmo e sem dramas. Havia apenas uma coisa de que não gostava, não havia sol ! O céu cinzento era permanente, e na altura perlas 4 da tarde já começava a anoitecer. O ambiente geral era de acordo com o tempo, frio, o que não impedia as pessoas de conviverem nas esplanadas ao fim de semana, a beber grandes canecas de um café que era uma mixórdia, segunda coisa que não apreciava. Durante a semana não se via ninguém, casa trabalho e nada mais. Foi nesta cidade que passei 2 ou 3 dias, e conheci o maior contraste. Não se viam pobres, não se viam cães na rua, e aos que os passeavam era imposto uma luva para apanharem os excrementos, os caixotes do lixo públicos eram forrados com saquinhos de plástico, não se via lixo no chão, diziam-me que o povo não era feliz por excesso de cuidados por parte do estado, sim talvez, mas se calhar antes assim, pois em Portugal ninguém se ocupava de nada, as pessoas só tinham deveres e os direitos estavam escritos num papel que tinha sido apreendido pela polícia.

sábado, 15 de setembro de 2012

As manifs

Por todo o lado, a voz das pessoas faz-se sentir. Não vamos pensar que estas coisas se fazem sozinhas, mas a realidade é que é muito importante esta expressão das vontades, de maneira genuina, sem violência, não sendo nitido qualquer enquadramento, o que ainda valoriza mais. O potencial de emoção, o alívio pela partilha das dificuldades que estas manifs permitem, a quantidade de pessoas "normais" que nelas participaram devem fazer pensar. Claro que os problemas não  se resolvem pela voz das ruas, nem o Governo cai por isso, mas penso que os governantes devem começar a pensar em ouvir essa voz, e procurar tê-la em conta quando decidem, desde que tal seja possível. O problema é que ao que parece, nem ouvem a das ruas nem qualquer outra. Por exemplo, existem muitas pessoas que durante anos adquiriram experiência, nas suas áreas, e não são escutadas, nem chamadas a opinar, o que fariam rápido e de borla. Em contrapartida generaliza-se a contratação dos "advisers" ( os célebres consultores ), pagos a peso de ouro, para estudos com os seus modelos patenteados, muitas vezes manuseados por estagiários, contratados em Portugal por tostões, a preparar dados para equipas de consultores que vêm a uma reunião de vez em quando apresentar as conclusões, e cobram milhões.

Até ao fim

Terminei a leitura de "Até ao fim" de Vergílio Ferreira (de 1987). Continuo a ler com prazer, embora reconheça que é um autor que pode não entusiasmar muita gente. A sua problemática teve o seu tempo, lê-lo precisa de tempo, disponibilidade e distância, coisa para a qual não temos paciência nos tempos que correm. Não é do reino do descartável, nem do arrojo ou dos temas fracturantes. O seus temas são do domínio da vida, do pensamento e da morte. Neste livro, um verdadeiro monólogo, Cláudio está a velar a morte do seu filho, jovem, e por aí percorre a relação com as mortes (a Morte...), o que nos leva a questionar as personagens que preenchem a vida e nos morrem. Vou continuar por aqui.

Ainda existe o Inter Rail ? (5)

No imediato o meu destino não era Copenhague. Era uma pequena cidade universitária na Suécia, chamada Lund, onde tinha combinado com o Vitor, acolhimento durante dois ou três dias. Ele já lá estava há cerca de um ano, era por assim dizer alguém que se tinha "pirado" desta mixórdia, refractário era o nome que na altura era dado as estes "rapazolas", como dizia o regime, que saiam do país antes da incorporação militar, por contraste com os que se piravam após a incorporação, e que tinham o nome mais simpático de "desertores". Tinha combinado com ele, pois era meu vizinho há alguns anos. Hoje é ilustre professor na Universidade do Algarve. Estas combinações faziam-se por carta, com semanas de antecedência e pouco ou nada se podia alterar, pois não se podia puxar do telemóvel para avisar, alterar, combinar outra coisa, desmarcar, mudar a hora, o local, ou avisar que estava atrasado. Tinhamos de estar preparados com planos B para o caso de tudo falhar.
E lá fui, de mochila, da estação de Copenhague, após andar meia hora a pé, apanhava-se um barco, no caso um jetfoil, que atravessava o estreito que separava a Zelândia da costa sueca, o trajecto era entre Copenhague e Malmoe. O bilhete estava incluido no preço do Inter Rail. No trajecto para apanhar o  barco deparei-me com uma das ruas onde, de uma ponta à outra se expunham as "sex shops", que via pela primeira vez. Em Portugal tal não existia, embora os "produtos" que lá se vendem também circulassem, mas à portuguesa, por trás, de mão em mão, como se não existissem, de forma dissimulada. Ali estava tudo á vista, entrava quem queria, as montras eram exuberantes, e o pacóvio ficava de olhos esbugalhados, ou fingia que não via, espreitando pelo canto do olho. Tudo parecia ter uma tal normalidade, que afrontava a nossa "cultura" portuguesinha. Afinal dentro de cada um de nós, mesmo os que se julgavam mais abertos, havia um fascistóide pequenino escondido, que a educação do regime nos tinha implantado à nascença. Adiante.
No cais o pequeno jetfoil esperava. Foi embarcar e partir. Eu que morava na outra banda, andava todos os dias nos benditos cacilheiros (não confundir com os catamarãs que hoje cruzam o Tejo), os quais eram atarracados, estreitos, cadeiras "suma a pau", e exalavam um cheiro pavoroso, entre o gasóleo, a maresia e o mijo, ali estava com a minha mochila, naquela nave, almofadada, a cheirar a ambientador de alfazema, e prestes a levantar voo, pois estes "barcos" não navegavam, voavam sobre as águas. Que experiência.
A viagem pouco passou de 15 minutos, dada a velocidade a que se deslocava. Atrás de si deixava uma nuvem de água, e eu deslizava pelas águas do Kattgat, assim se chamava o estreito, como numa pista. Hoje este trajecto faz-se por uma ponte, que na altura não existia.
Chegado a Malmoe, haveria ainda que apanhar um comboio local ou regional para Lund, que ficava a uma curta distância, cerca de 30 km, se bem recordo, coisa que rapidamente ficou resolvida. Coisa interessante que eu constatava, e muitos anos depois confirmei quando visitei a Noruega, as redes de transporte previlegiavam sempre a intermodalidade, ou seja, barcos, comboios, autocarros, tudo a partir de locais muito próximos, evitando deslocações e facilitando mesmo o uso dos transportes públicos.
E dessa forma desembarquei em Lund, numa estação ferroviária simples, do estilo das da linha de Cascais, que eu conhecia. Faltava agora encontrar o meu amigo. Para isso ía a pé, não precisava de bilhete.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Ainda existe o Inter Rail ? (4)

Dia 14 de Setembro de 1973, 22h00, Gare du Nord. Estava agora de partida para Copenhague. Ainda hoje qualquer "interailer" sabe que as viagens, se possível, fazem-se de noite. Poupa-se o valor de uma noite, e quando os comboios são confortáveis, dorme-se bem. Naquela altura era assim, e os comboios, fora de Portugal, eram bons e não andavam superlotados. Tinha passado um dia inteiro de mochila carregada, pois tinha deixado o albergue pela manhã, tinha ido até S.Michel, que passou a ser, para mim, um local de eleição. Muitos anos mais tarde recordei no local, várias vezes, estes dias, em que conheci Paris pela primeira vez.
Na viagem íamos atravessar a Bélgica, Holanda, Alemanha e finalmente "aterrar" na Dinamarca. Para quem nunca tinha saído do burgo, era uma aventura, em solidão, ou com as companhias de ocasião. Não era como agora. Hoje os jovens aos vinte anos já viajaram imenso, já conhecem países de todos os lados do Atlântico, já andaram de avião, de carro, de mota, já fizeram escalada, já fumaram charros, etc, etc, naquela altura raros se encontravam a viajar, e ainda menos portugueses, que nesta idade tinham como preocupação principal a guerra, onde estavam mobilizados à força.
O trajecto ía demorar algumas horas, a chegada estava prevista para as 14h00. Por volta das 11h00 chegámos a um porto, Travemunde, ainda na Alemanha, onde o comboio foi embarcado num ferry. Fiquei banzado... Na realidade Copenhague situa-se numa ilha, a Zelândia, e na altura não existia ponte que a ligasse ao continente europeu, como existe agora, pois hoje vai-se de TGV directo.
Assim a parte final da viagem era feita de ferry e nós dentro do comboio. Durante esta parte da viagem, que demorava uma boa hora, éramos convidados a sair e visitar o ferry, que naturalmente dispunha de uma área comercial, como nunca tinha visto, foi a primeira "free shop" que visitei na vida, ainda por cima sobre as ondas. Fiz umas compritas, curtas, dado o parco orçamento, e o pouco valor que os escudos representavam na altura, ao trocar pelos marcos ou pelas coroas. Uma garrafita de whisky, que ofereci depois ao meu pai, e ainda hoje, 40 anos passados, lá anda por casa. Entretanto da amurada do ferry começava-se a ver terra e havia que voltar ao comboio. Feita a amaragem o comboio retoma a marcha e pelas 14h00 lá entrava na gare de Copenhague ( Kobenhavn ), a tarde já ía alta.

Que se lixe a troyca...

Por mim que se lixe. Mas já agora, a ver se arranjamos outra que nos empreste uns dinheiritos para pagar as pensões, os subsídios de desemprego, os salários da função pública, os custos da saúde, os da educação, e outras minudências, e já agora, se faz favor, a um juro simpático, né ?????

Grace Kelly (1929 - 1982)

Passam hoje 40 anos sobre a morte de Grace Kelly. Actriz clássica, como já não há. Uma vida de sonho. Princesa do Mónaco, numa época em que as princesas não eram do povo, pois as revistas cor de rosa ainda não comandavam os tops e as consciências. No cinema, e isso é o que me interessa, ganhou Oscar para melhor actriz em 1955, e filmou sob a batuta de Hitchcock, em particular recordo "Janela Indiscreta", onde contracenou com James Stewart.  Uma beleza arrasadora.

Convenceu ?

Para já a entrevista não convenceu, mas esforçou-se. Até deu para no final atirar um rebuçado para o meio da multidão, a ideia de que o corte salarial e das pensões é ... temporário. Só que diz quando tira mas quando a repôr diz que será "gradualmente a partir de 2015" .... Quando à TSU veio dar razão a Manuela, isto é, a medida funciona porque ele "acredita". Ou então o Belmiro que baixe os preços. Estamos já a ver isso a acontecer, e no mesmo dia desce o gasóleo, a energia eléctrica, o gás, o pão, e outros produtos. Será ? A baixa da TSU é assim tão miraculosa ? Eu cá não acredito em milagres. E porque é que a baixa de salários aumenta a competitividade ? Nunca teremos possibilidade, nem queremos, ser a China, a India ou o Paquistão da Europa. Tudo perguntas sem resposta. Agora cuidado, não atire o bébé com a água do banho. Com esta barafunda, conseguiu em poucos dias desbaratar alguma da confiança conquistada, alguns consensos, e ficar cada vez mais isolado. E isso não é bom para ninguém preocupado com o seu país.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Prudência e bom senso

Por pouco que goste de Manuela Ferreira Leite, não me impede de concordar com o conteúdo da entrevista que deu ontem na TVI, onde foi muito critica para algumas das acções que este Governo pensa aplicar. Chegou ao ponto de questionar os deputados a corrigir estas medidas no Orçamento, ou até que ponderem o seu voto pois segundo ela "não compete ao PR lavar a consciência dos deputados". Mas sobretudo disse que falta "prudência e bom senso" a quem decide com base em modelos macroeconómicos ou como disse alguém "faltam cabelos brancos"...

Ainda existe o Inter Rail ? (3)

Dois ou três dias para a minha primeira visita a Paris, em 1973. Noite bem dormida no meu albergue, e ía começar a tirar partido do investimento feito, a saber, 1990 escudos no bilhete e 5000 escudos para as despesas de um mês, isto é, cerca de 10 euros e 25 euros respectivamente, total de 35 euros para uma volta de um mês na Europa....
Fui então ver a cidade. Grande, agitada, gente na rua, ouvia falar português nas obras nas ruas. Tinha um mapa precioso do Metro, que em si, era o primeiro espectáculo a que assistia, e tudo me admirava. Um pacóvio!
Visitei o Louvre, o Jardin du Luxembourg, a Torre Eiffel ou o Arco do Triunfo, pela primeira vez, o Quartier Latin, as livrarias, nomeadamente a "Joie de lire", na Rue S. Severin, das Editions Maspero, que já conhecia de um ou outro livro, e onde comprei algumas coisas que jamais estariam em Portugal. Esta era uma referência das editoras de esquerda e tudo ali se encontrava disponível, para minha admiração. Havendo pouco dinheiro por ali se comia umas sandes num tunisino, que fazia sandes picantes com atum, onde ele aplicava com um pincelão sebento, um molho que queimava a boca. Para o jantar comprava uns sumos, umas sandes, bolachas. E por ali ficava, a olhar as paredes, as lojas, os cartazes, tinha havido o golpe no Chile, e por todo o lado se via a contestação em liberdade, aquilo que eu só conhecia de ouvir falar. Já a conhecia em Portugal, mas aqui era diferente, não era preciso esconder, fugir ou dissimular.
Depois havia a luz, à noite. Quando regressava ao albergue vinha cheio de tudo o que via. Estes dois dias passaram rápido, e como no retorno teria de passar de novo por Paris, deixei mais algumas coisas para mais tarde. Tinha de tratar do meu caminho, ía mais para Norte, e tinha de tratar de marcar a viagem. assim na Gare du Nord, marquei para o dia seguinte, 14 de Setembro, 22h00, a viagem Paris Copenhague. E ficou claro que no dia seguinte andaria todo o dia de mochila carregada às costas.

À janela... sem filosofia

Uma janela urbana, aqui na vila de Ourique. Pela primeira vez pinto uma janela com alumínio, mas gosto do desenho geométrico que apresenta. É bonito e não tenho nenhum preconceito contra alumínio em si, mas sim contra o que é feio, e passo a Alberto Caeiro   " Não basta abrir a janela / para ver os campos e o rio / não é bastante não ser cego / para ver as árvores e as flores / é preciso também não ter filosofia nenhuma ".

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Memória curta

O deputado Galamba, do alto da sua "sabedoria", agitando o seu brinco, irritou-se. Este "escolhido" de Sócrates disse , em tom de arruaça, que Gaspar é "irresponsável e vai levar o país para o abismo" ou coisa parecida. Não sei se tem razão, até pode ter, o que seria grave, mas uma coisa sei, o seu guru fez isso, e parece que o jovem Galamba já se esqueceu, pois senão deveria falar com mais respeitinho. A gente não gosta desta arrogância na Assembleia. Por mais dificil que seja não se perde assim a compostura quando os telhados são o que se sabe.

A fome deu em fartura

Depois do vazio comunicacional das últimas semanas, eis que o Governo acordou. Da pior maneira, com a comunicação de PPC, seja na versão institucional, seja na versão piegas... qualquer das duas casos de estudo, de como não fazer. Dado o fim de semana de reflexão vem agora a maré cheia. Conferência de imprensa de Gaspar, entrevista na SIC, Moedas no Crespo, hoje Gaspar na AR, na versão privada, e na versão pública, Relvas lá das profundezas também tem algo a dizer, Portas diz que vai ouvir primeiro para falar depois, e não falando falou, Cavaco, farto de dar tiros no pé, fala não falando, amanhã PPC regressa, com entrevista, julgo que na RTP. Uma verdadeira catadupa de "informação", mas será isto "comunicação"?
Pois por mais que se fale ficamos sempre a ver o mesmo filme. E o filme é que as medidas vão para os mesmos, que não se sabe se é eficaz, e que muitas são definitivas, ou seja não têm a ver com a crise, têm a ver com o "modo de ver". Verdade é que temos agora melhores condições do que antes, por muito que isto pareça "incompreensível". Veja-se, o BCE tem agora outra flexibilidade, os alemães acabam de aceitar o que sempre recusaram, Barroso até já tem "coragem" de dizer o que pensa, pelo que há outra blindagem contra a espéculação, e melhores condições para vir a aceder aos "tais" mercados, de que precisamos para sobreviver. Haverá razão para esta fúria comunicacional, que nos quer convencer que os sacrificios têm de ser "forever" ? em nome de quê ?

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Outra política é possível ?

Ouvi a conferência de imprensa do ministro suporífero. E dos seus secretários. Percebi algumas coisas, não percebi outras, desconfio de muitas. Mas, parafraseando a CGTP, "outra política é possível " ? (o ponto de interrogação é meu)
Após o anúncio das medidas na sexta feira e as explicações dadas, tenho ouvido muita conversa fiada, muitas declarações altissonantes, muito boas intenções, muitos apelos, muitas convocações para eventos de contestação, muitas frases fortes de líderes fracos, muitos auto-elogios, de quem já tinha dito, previsto, preconizado, anunciado, informado, falado, indicado o caminho, apresentado a solução. Tretas !!!
Na realidade, poderiamos ter seguido outro caminho, sim, mas o resultado não seria diferente. O que se vê é que PS, no Governo foi a vergonha que envergonha os próprios socialistas, deixando o país afundado. Jamais enquanto houver memória esqueceremos. Quando houve que defender o PS, de que lado ficaram o PCP e o BE ? Depois nunca PS, PCP e BE fizeram algo em comum, ou deram qualquer sinal de quererem apresentar uma solução para o país, independentemente dos apelos, da vontade ou da indicação nas urnas por parte dos votantes. Nem parece que vá ser diferente. E se fosse o que seria ? Renegociar, não pagar ? Assim pergunto, posso até não gostar de PPC, niunguém poderá apreciar tais políticas que nos roem por dentro e por fora, mas poderemos honestamente dizer "Outra política é possível?". Duvido.

Ainda existe o Inter Rail ? (2)

Prossegue a minha senda pelo Inter Rail. Após atravessar "veloz" a Espanha chegamos a Irun pelas 8h00 da manhã. Havia dois colegas de viagem, para além dos emigrantes, com quem cheguei à fala, um americano loiro e despenteado, que ía de Portugal para Londres, e uma jovem, filha de emigrantes, que regressava a Paris para ir ter com os pais. Conversámos um pouco durante a noite, dormir é que não. O chão podia ser uma boa cama, a noite um bom tecto, o cheiro, intenso, uma mistura de suor, sebo, caldo de galinha, urinol, tabaco (nesta altura só era proibido fumar no fundo do mar...), acompanhava um sentido de enjoo.
Ao chegar a Irun, havia que abandonar o comboio que nos trazia de Lisboa, pois havia, e ainda há, a mudança de bitola que impede o prosseguimento para França. O pessoal, com as malas, cestos, garrafões, sacos, caixotes, galinhas presas pelas asas, projectava-se para a gare, com as mulheres, as avós, as crianças, os bébés a gritar, o sono em falta, o vinho em excesso, o tabaco a mais, os restos da comida, procuravam posição para entrar no novo comboio que chegava agora para nos levar a Paris. A composição da SNCF era bem mais apresentável, mesmo assim, do mais fraquinho que por lá havia, a concluir após ver o que viria a seguir.
As pessoas galgam as escadas de acesso e procuram lugares num comboio, limpo, espaçoso, embora velho. Dali até Paris ainda vão decorrer algumas horas de viagem, que decorrem de forma mais confortável. Para mim era tudo novo. Jamais tinha saído do país, e só sabia do que ouvia falar. Conhecia bem a situação do país, nomeadamente a política, e a colonial, pois nessa altura já estava na universidade, ambiente onde a consciência política já era elevada, ao contrário do que se passava no país "real".
A viagem era suavizada com recurso a alcool, jogatana e tabaco. Tudo muito animado, tudo sabendo o que era esperado à chegada, trabalho nas obras, ou nas "usinas". Para mim era turismo. De Paris ainda iria para Norte, até Lund na Suécia, onde me aguardava o meu amigo Vitor. Ía experimentar esses ares, onde se respirava de outra forma.
Por volta das 4 da tarde chegamos a Paris, gare de Austerlitz. Tinha estudado no mapa o que fazer ao chegar. Deveria ir para um albergue de juventude, que já tinha identificado, na Porte de Montreil, pelo que teria de tomar o metro, fazer as mudanças necessárias. Às costas a mochila que pesava um pouco. O americano veio comigo, pois nada tinha previsto, a "piquena" tinha os pais à espera e despediu-se de nós. Procurámos o metro e após longo percurso e duas ou três correspondências, saímos. Quando subimos as escadas para o exterior já era noite. Ao chegar à rua, embora tudo estudado, punha-se um problema. Ir para a direita, para a esquerda, para a frente ou para trás. Para que lado ficava o albergue ? Acabámos por tomar a decisão correcta e o albergue acabou por aparecer num excelente edifício. Tinha valido a pena ter tirado o que na altura se chamava o "cartão de alberguista internacional", que na altura se comprava no CITU. Ía finalmente conhecer países a sério, diferentes deste lego ridículo que era o Portugal marcelista.

Os onzes de Setembro

Cumprem neste dia 39 e 11 anos sobre 2 acontecimentos passados no mesmo dia. Derrube e morte de Salvador Allende, derrube das Torres Gémeas e morte de mais de 3000 pessoas. Têm em comum a mesma palavra: terrorismo. Um grupo de fanatizados, de direita ou de esquerda, nada sabemos, que actua em nome de algo de maior, de valores que são apenas a forma como interpretam a defesa dos seus interesses ou de grandes interesses que os manipulam. Os EUA manipularam para derrubar Allende, da mesma forma como foram vitimas da manipulação da Al-Qaeda. Como sempre o terrorismo não leva a lado nenhum e o tempo recoloca tudo no seu lugar.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Regresso ao meu itinerário

Isto é apenas uma informação sem relevo, mas após interrupção de cerca de três meses, a partir de amanhã regresso ao meu "dicionário". Se alguém estava a seguir e quiser retomar o contacto agradeço o interesse.

Ainda existe o Inter Rail ? (1)

Há 39 anos iniciava na Estação de Santa Apolónia o meu primeiro e único Inter Rail. Rumo a Paris, o primeiro e único Inter Rail, a primeira de muitas visitas à cidade Luz, que ainda hoje me maravilha. Estavamos na véspera de um dia que iria marcar o mundo, a queda e morte de Allende, e a subida ao poder de uma figura sinistra que marcaria a História pelas piores razões, Augusto Pinochet. 11 de setembro de 1973, golpe no Chile. Haveria de chegar a Paris e veria as reacções do mundo ao golpe, mundo que nada tinha a ver com o "portugalzinho" de que tinha acabado de sair e ainda vivia o estertor do marcelismo. O trajecto ía de Santa Apolónia, 12h55, até Irun, onde se mudava de comboio, em Hendaye, a mesma estação mas já França, e daí a Paris Austerlitz daria para chegar pelas 16h00, isto é mais de 24 horas, de uma experiência nauseabunda, num comboio onde se dormia no chão, se bebia vinho pelo garrafão, se levava canja de galinha e arroz de cabidela, e se comia umas sandes de torresmos sentado na sanita do WC, atascada e a pedir limpem-me ... Por toda a linha da Beira Alta os emigrantes entravam, e sentavam-se onde calhava pois o comboio atascava de gente, e dificilmente velhotas e crianças tinham lugar, quanto mais os adultos. Pela meia noite chegava-se a Vilar Formoso, a PIDE vinha cumprir a missão de vigilância, os mais novos eram vistos por dentro e por fora, pois estavam em idade militar e não podia aceitar-se fugas ao dever patriótico. As cadernetas militares vistas à lupa, as autorizações de saída apalpadas, como ouro. Passava-se a Fuentes de Oñoro, e mantinha-se tudo. O comboio, agora com duas máquinas a vapor, rumava agora veloz por terras de Espanha e tudo seguia igual. Gente combatia o sono. Jogava-se a bisca lambida ou a sueca e alguns já cantavam o "zumba na caneca". Era este o Portugal "Low Cost"...

Um fim de semana de reflexão

Tivemos o fim de semana para digerir o que nos foi anunciado na sexta feira, que já sabíamos na quinta ía ser anunciado, mas que na quarta suspeitávamos que iria ser aplicado, pois na terça já estava aplicado e não tinha ainda sido anunciado, pelo que a situação da segunda feira passada é igual á de hoje, pior só o aumento de 7%, a tal taxa que é imposto, mas é taxa porque o CDS não aceita subida de impostos, e como é um partido confessional acredita que baptizando as palavras se resolvem as más consciências. Parece complicado ? esperem o que está para vir, pois o que agora vai ainda não dá para pagar o deficit de 3% de 2013.
Ainda assim gostei da intervenção de ontem do "professor", apesar de não contestar as medidas, ao contestar o "plano de comunicação" acabou por dizer das medidas "o que Momé não disse do toucinho".
Digeridas as medidas, dados uns "arrotos" de azedo, e deixando a azia tomar conta, agora o "bom povo português" vai estrebuchar, mas que podemos fazer, quem deve paga, mas a todos compete pagar, e não apenas aos suspeitos do costume. Vamos ver, se as receitas estão a baixar, ao aumentar os impostos, isto quer dizer que a solução está esgotada. Não poderemos ir buscar a outros lados, uns tostões nas PPP, uns guitos nas "gorduras", ou o Estado já fez a dieta ? Não parece...

Espreitar pela janela

Uma pintura de uma janela em Ourique, e na rua principal, boa maneira de começar a semana. Procurei melhorá-la pois está um pouco desmoralizada e a precisar de recuperação urgente, mas na pintura, omiti esse lado da realidade. É autocensura ... mas parece que a foto está mal focada. Que azelha !

domingo, 9 de setembro de 2012

Surpresa na manhã de domingo

Ao passar na estrada pareceu-me ver, e afinal era apenas uma ilusão. A pequena aldeia estaria à venda? Aquela imobiliária que tudo vende iria vender a simpática Chada Velha, situada num local de sonho, no interior da albufeira do Monte da Rocha, aqui em Ourique ? Não, afinal tratava-se apenas da apropriação de uma chapa sinalética pública, por um privado pouco escrupuloso, coisa de pequena monta, quando comparada com algumas "apropriações" que por aí andam, ou diz-se que andam.

sábado, 8 de setembro de 2012

Festa da Senhora da Cola

É este fim de semana em Ourique. Gostava de lá ir mas não dá. É a festa religiosa mais importante do concelho. Quem puder passar por lá encontrará muito da alma alentejana.

Lá se vai a esperança, Passos passa ao ataque

As medidas anunciadas ontem são desesperantes. Pôr os trabalhadores privados a pagar mais 7% para a Segurança Social, e poupar 5,5% às empresas, quando se sabe que boa parte dessa poupança não vai aumentar o emprego, não vai melhorar a competitividade, excepto dalgumas exportadores, mas vai direitinha para o bolso desses empregadores, até porque o contexto não é favorável, pois mesmo que melhore a competividade, não há procura interna, e com estas medidas cada vez há menos. Escutem o Prof Adriano Moreira da cátedra dos seus 90 anos. Cuidado com a "fadiga fiscal". Quanto ao resto fica igual, isto é ... mal.

Visita na casa amarela

Só agora retomo. Na realidade após a visita na casa amarela fico em papas durante dois dias. Tudo correu bem, e até me foi retirado mais um dos medicamentos que tomava já há algum tempo, o que eu chamava "o meu querido prazol", que há 3 anos me protegia de todos os outros medicamentos, enfim um "metamedicamento".  Mas esta visita cansa muito, pois após a volta a S. Marta, onde todas as capelinhas são visitadas, chega as 10, 10h30, e nada mais para fazer até às 3 da tarde, quando chegam os resultados. Mal sentado, mal apoiado. e lá se aguenta o passar das horas. Acaba por ser desesperante. Mas tem de ser. e Já disse o que acontece quando tem de ser.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Segunda casa

Hoje passo o dia enfiado na minha segunda casa. Mais frequentes que as visitas da troyca são as minhas visitas a S. Marta para controlo "do memorando de entendimento", em que me emprestaram um coração perante determinadas condições, e o programa consiste em confirmar que se cumpre. Tem de ser. E aquilo que tem de ser tem muita força. Até porque Deus sabe o que faz...

terça-feira, 4 de setembro de 2012

As reentrés

Nada se disse, não porque não haja para dizer mas porque com a troyca em casa, ela que fale primeiro... De facto já nada esconde o fracasso em algumas das metas, e PPC deixou isso transparente, apesar de se cumprirem as medidas, já nada disfarça que o PS nada tem a contrapropor, uma politica "muito diferente" que passaria por implementar as mesmas medidas mas por outros agentes...  e o Bloco não passa da demagogia académica. Falta agora Jerónimo que aguarda pela Festa. Assim as ditas reentrés não marcam o inicício do ano político, mas sim o fim das ilusóes. Agora voltámos de férias e temos mais do mesmo, é que se está a dizer. Entretanto os ministros técnicos continuam a dar cartas e são afinal eles que marcam o ritmo. Macedo, Crato, Gaspar, Alvaro, permaneceram nos seus postos e continuam a fazer propostas e a implementar algumas políticas públicas, dando a cara pelo que é mais dificil. Afinal onde está o primado da política?

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Um blogue que me impressionou

Descobri através de Pedro Rolo Duarte, mas é um blogue do jornal Público e que tem como nome "O desemprego tem rosto" e publica todos os dias um nome um rosto de uma pessoa desempregada e um pouco da sua história. Um grafismo que nos toca.

domingo, 2 de setembro de 2012

Uma manhã de domingo

Ourique, rua principal, Café Central, um banco para partilhar, uma caixa inteira para dar de beber à dor e passar a noite mais animada. Provavelmente o Café não vendeu nenhuma delas, vieram dalgum supermercado. Não é por acaso que as instituições mais populares daqui são o pão alentejano, a linguiça e "mine". Neste caso nem de "mines" sa trata, mas algo maior e em grande quantidade. Bom proveito. Dez da manhã as ruas estão desertas, pudera !!!

As plantas espreitam a luz

Em Santa Luzia, dei com esta janela em que são dois vasos de flores quem aproveita a luz e o sol do Alentejo. Acordaram cedo. O azul das bandas é o azul do Alentejo, assim um ultramarino, a que misturo veridian e um pouco de branco, para dar o resultado que se vê. As cortininhas da parte superior já é uma invenção minha, pois no original não estavam. Mas não ficam lá mal. è uma sugestão para os proprietários.

Uma janela para entrar o sol

O original encontra-se em Garvão, mas não digo onde. Uma pequena casa com as janelas ao invés, quer dizer, para mim, mais larga que alta, o que é anormal, e umas cortinas que tomaram o destino nas suas mãos. Achei interessante, porque se trata de uma casa modesta mas que guarda a imagem da pequena casa alentejana. Fica aqui mais uma janela.