sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Tarde para aprender

Dia de receber, dia importante, em que se cumpre ou se fica com um peso de muitas toneladas. Uma enorme responsabilidade, um compromisso, e eu sou uma pessoa péssima com os compromissos. Faltar a um compromisso para mim é mortal. Felizmente "desaconteceu". Graças a Deus. Saber que pessoas aguardam este dia com ansiedade, que da nossa decisão depende o futuro imediato de gente que ganha muito pouco, que tem também compromissos, gente para alimentar. Nada que mais deteste do que falhar, nada que mais exerça pressão sobre os meus ombros. A minha relação com os compromissos é doentia e jamais deveria ter de os aceitar. Mas as coisas são o que são. Agora para mim é um peso demasiado, e nem sei como a minha vida se enredou num novelo assim, em que tudo se espera e pouco se reconhece. Entrou na rotina. A coisa "até corre bem" e ninguém está preparado para que corra mal. No entanto o risco de correr mal mantém-se, e cada vez os meus ombros são menores para aguentar tal responsabilidade, que poucos partilham, poucos apreciam e quase nenhuns reconhecem. É imenso o sentimento de solidão, quando nos vemos perante uma parede que avança para nós, e nos vemos sem ajudas, sem apoios, sem seguranças, sem margem de manobra, sem planos B, sem alternativas, sem mão onde agarrar, e ainda suportar com as incompreensões, exigências  e idiotices de alguns. De facto a vida prega-nos partidas que não se anteviam. Confiar nas pessoas tornou-se fatal, quase tanto como o "vírus ébola". E sobretudo lido mal com a palavra "não". O problema é que não sei desconfiar, ser opaco, ter várias caras. E agora é tarde para aprender.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Perfeito vazio

Tem dias assim. Queremos fazer exercício e não podemos, ou podemos mas com grande esforço e sempre as pernas muito aquém da cabeça. Queremos falar com uma pessoa e ela não se disponibiliza para nós. Queremos pagar uma quantia mas não temos saldo. Queremos deslocar para ir buscar um papel mas as escadas fazem pensar se não será melhor ficar para depois. Queremos depositar um cheque mas a quantia estava errada. Queremos aproximar de alguém mas esse alguém ignora-nos. Felizmente em casa fiz o almoço que queria e o corpo repousou numa tarde de sono profundo. Tomara nem acordar desse sono. Tem dias  assim. São apenas dias e nada mais. Dias.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Entre pedras e pedrinhas

Esta manhã no ATL fiz a última sessão deste Verão. Desta vez fui poupado pois a minha energia também se descarrega, e apenas porque gosto muito vou sempre participando, mas cada vez menos tempo. Tudo acaba por ter um final, e tenho tanta coisa que me espreme a energia positiva que ainda vou tendo !  Mas o ATL é algo que faço com gosto. Em frente, contra o muro das lamentações. Fico a pensar quando observo algum dos pequenos e noto que o ensino artistico podia fazer deles outra coisa, ou ajudar a serem melhores. Um dos pequenos deste ATL manifestamente supera-se. Começa a fazer algo que nós não entendemos o que seja, mas sente-se que não quer ser ajudado e na cabeça dele já está alguma coisa projectada. Demora a arrancar mas aos poucos começa a ver-se ali uma ideia, bem definida, bem executada, e com um toque pessoal. É arte a nascer, ou como quisermos chamar. Mas certo que nele algo fervilha que se exprime desta forma. No final o resultado é sempre inesperado, e diferente do que se previa ou sugeriu. É a ideia dele materializada. Fora deste contexto nem conheço a criança, não sei se é bom ou mau aluno, empenhado ou preguiçoso, mas sei que as artes podiam fazer alguma coisa por ele, ou ele pelas artes !

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Foto do dia

Recebi uma foto da minha neta na piscina, metida na sua bóia na maior expressão de gozo e prazer que tenho visto nos últimos tempos, mostrando o quanto delira com a "sua piscina", o quanto retira da sua curta vida. Dois anos e picos e vibra com a vida como se se esgotasse tudo num minuto. Como se tudo fosse feito para ser desfrutado. E comprovo que o faz de uma forma que contagia. Sem querer começo a pensar nos sessenta e tal anos, e aquilo que perdemos, a incapacidade de projectar um futuro feito de bem estar e felicidade. As crianças bem nos tentam ensinar mas, burro que sou, não aprendo. Talvez porque permitimos que outros nos imponham a sua vontade, e na verdade somos impotentes para imaginar uma vida para ser vivida ao minuto, tirando partido dele como se não tivessemos mais nenhum. Não, o futuro faz nos pensar e impede-nos de viver livres, o passado das histórias de vida, bem ou mal passadas, interfere, constrange e limita, e o receio impede-nos de arriscar. E o contador vai marcando o tempo desprezado.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Fim de festa

Vou á vila de Garvão várias vezes por semana, há vários meses, ao longo de alguns anos. Aulas de pintura, ATL, apoios pontuais quando me pedem, outros menos pontuais quando a cabeça me impõe, mas em geral de boa vontade. Agora houve as festas da terra, mas mantive-me afastado. Por um lado o meu caracter anti social vem ao de cima, na realidade nem teria companhia, e festa é coisa para se fazer em conjunto, por outro chego-me pouco nas "mines", ainda menos nas "litrosas", arraiais chateiam-me, e touros gosto muito muito, mas é vê-los ao longe a comer a erva dos campos, nas praças ou nas ruas não contam comigo. Assim a imagem que mais gosto é mesmo a que acompanha este post. O fim de festa. Gosto muito desse momento em que se arreiam os andores, as bandeirinhas e as flores de papel  ficam espalhadas "como calha" finalmente livres para irem para onde quiserem. Estéticamente detesto a organização... embora não possa viver sem ela.

domingo, 26 de agosto de 2018

Barriga cheia

Este fim de semana foi da minha neta. Veio de visita e ficou sábado e domingo, enchendo-se de avô e o avô dela. Pulou, saltou, dormiu, brincou com o seu avô e o avô com ela, com muita intensidade e afecto. É uma relação bonita, mais uma incondicional, cheia de pele, em que é manifesto a apelo do sangue. Irriqueta, enérgica, brincalhona, adora os adultos na medida em que estes são o seu brinquedo preferido. O pequeno diabo encanta pela sua graça, pelos seus olhos negros, e pela forma sempre forte como todos envolve, ao avô em particular. Fiquei de barriga cheia, mas também absolutamente de rastos, pois a minha energia já não acompanha a sua energia. Claro nem dou parte de fraco, mas muitas vezes ultrapassa-me e pede mais que aquilo que poderia dar. Não importa, quando o meu afecto é desprezado por outros, ainda bem que existes Maria Francisca para me compensar.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Falar prós seus sapatos

Habitualmente coloco os meus posts no Facebook, a partir de coisas que escrevo, ou fotos que tiro, e em geral com base no blog. Isso permite "gerar tráfego" no blog, coisa que, sem me preocupar grandemente, vou acompanhando com frequência, Toda a gente gosta de saber que não está a falar sozinho ou como se diz em bom português "pró boneco". Claro que há posts que guardo apenas no blog e não partilho, por conterem assuntso mais intimos, que pouco interessam aos outros, ou falarem de política, que é assunto meu, ou por manifestamente não terem interesse no grande público dos meus "amigos" do Face, que é grupo heterógeneo, e formado por pessoas que algumas nem conheço pessoalmente, apesar de não aceitar amizades sem uma análise minima. Tenho assim noção do que as pessoas gostam de ver, falo em pessoas mas estou no grupo limitado daquelas que têm amizade no Face. E o que gostam é de fotografias de pessoas, em primeiro lugar, esse é o assunto que gera mais likes e mais contactos. Depois tudo o que tenha a ver com o lugar onde estamos, desde que acompanhado da fotografia da ordem. Sem foto não há movimento, ou apenas muito pouco. Finalmente assuntos que começaram a desinteressar o meu grupo, os temas culturais, livros, música e filmes. Há algum tempo ainda tinham alguma aceitação, mas agora caminha para o zero absoluto. Nota-se a progressão da ileteracia, da incultura e da fútilidade. Depois temos aquilo a que chamo as frases feitas tipo "miss mundo", são frases que toda a gente concorda de banais que são, mas temos de imaginar que nos tempo actuais muita gente é a coisa mais elaborada que consegue ler, e muitas pautam as suas vidas por essa citações, muitas vezes falsas, de pessoas algumas inexistentes, e que repetidas e postadas mil vezes se tornam filosofia de vida, barata, banal e vulgar. Muita gente daí não passa. Esta a minha experiência e decerto muitos concordarão. Caminhamos para um mundo de iletrados especialistas, que pode saber muito de muito pouco, mas não cruzam conhecimentos, ideias ou sentimentos. Triste, mas é assim e não podemos mudar. Só mesmo para pior. Sad !!!

Um livro para férias no campo ou na praia, pois passa-se num poço onde mulheres se afogam

Acabei de ler "Escrito na Água" aquele livro esperado pelos que apreciaram "A Rapariga do Comboio", de Paula Hawkins, sendo esse o meu caso. Não penso que esteja no mesmo nível, mas para mim é bom para uma leitura de férias, e como o "senhor Carlos" está sempre de férias, farta-se de ler, tudo lê desde jornais, livros, rótulos de iogurtes, facturas, sendo esta a menos preferida. Mas "voltando à vaca fria", hoje já se usa pouco a leitura tradicional, pena, mas este será um bom livro para retomar o contacto. Mostra este livro que afinal as situações misticas, lendas, adivinhações funestas, declínio, determinismo, destinos marcados, acabam sempre por ter explicação bem mais prosaica, e no caso de terem por consequência a morte criminosa, estará sempre presente uma das três motivações criminosas de ser humano, o dinheiro, o sexo e a maldade humana pura e simples. É o caso, e afinal escrito na água, na pedra, no papel, no tablet, seja onde fôr, crime é crime, e caímos sempre num dos três motivos anteriormente citados. "Quod erat demonstratum" !!!

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Revista

Como algumas pessoas sabem, ou deveriam saber, o processo muitas vezes vale mais do que o resultado. Não que o resultado seja apoucado, mas toda a actividade que se estruturou para o obter tem muito valor e muitas vezes esse valor nem se reflecte como merece. Lá está de novo o "senhor Carlos" com o seu pendor para a filosofia barata. Pois é verdade, mas não é por acaso que há muitos anos atrás me chamavam "engenheiro psicólogo", talvez porque nada sabia nem de uma coisa nem doutra !!! . Passemos à frente. Esta conversa vem a propósito da simples revistinha que o meninos e meninas do ATL fizeram. O resultado ficou bonito, mas mais bonito é o envolvimento de todos para que esse resultado seja obtido, e principalmente os seus autores. A maneira como tratamos as crianças deveria ser a melhor forma de chegar aos pais, e de os sensibilizar para a importância de certas causas sociais que muitas vezes desprezam. Mas nem todos são iguais, se se chegar a um em dez, já estaremos bem. Ficam para já os pequenos trabalhos que fizeram, as visitas, as saídas, um conjunto de actividades que proporcionam uns dias diferentes a todos. Por isso julgo que vale a pena, e serei sempre um defensor de nos envolvermos e patrocinarmos dentro do possivel esta ocupação de tempos livres.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Raizes

Recebi uma foto simpática de uma das minha filhas que eu chamaria visita às raízes. A foto foi tirada na cidade serrana de Manteigas de onde é originária a família da mãe, e mostra-a á porta dos avós já falecidos há cerca de vinte anos, nem posso precisar. Acontece que os filhos se organizaram para manter a pequena casa em pé, mesmo no centro da cidade, e poderem assim visitar quando entenderem, extensivo aos netos que acarinharam a ideia. Por vezes a casa é utilizada para férias, ou apenas para encontrar uma recordação das raízes, pois parte da sua origem está ligada aquela terra e áquela casa em particular. Mostra que a descendência, que é vasta, reconhece ali parte de si. Penso que num tempo em que estamos muitas vezes urbanizados, em casas impessoais, rodeados de estranhos, é bom ter sempre um referência. afinal ter o seu "quadrado". Não é que ela sirva de rectaguarda fisica, nem pensar, mas saber de onde viemos ajuda a saber para onde queremos ir. Claro falo assim, embora resida agora num local onde esses problemas nem se põem, pois aqui a família tem uma presença forte na vida das pessoas, a estrutura familiar ainda permanece em muitos casos unida, onde quase todos têm familiares próximo. Embora com os riscos de se viver em grupo, coisa que não aceitaria para mim, essa estrutura é positiva e o apoio dela é uma mais valia. Infelizmente é rede a que pouco posso recorrer. Sou mais do tipo anti-social, e nada fácil para mim "puxar palavra" com alguém. É preciso querer muito ...

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Interior

Estou colaborando numa pequena instituição que possui uma unidade de cuidados de saúde. Tem um pequeno defeito que lhe deita tudo a perder. Está no interior, diria mesmo, no interior do interior. É que muito se fala agora de Pedrogão, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Pampilhosa. Todos os ministros, lideres políticos, primeiro ministro, presidente, se desdobram em visitas, planos, projectos, infelizmente por razões tristes, estes locais acabam por estar na moda. Mas como diz o povo "há mais Marias na terra". Sendo um alfacinha de gema, vejo com pena a dificuldade que é fazer alguma coisa no interior de BA, onde tudo é dificil, envelhecimento, desertificação, pouca instrução, nem diria pouca formação, pois cursos de formação não faltam a quem se quer tornar em profissional deles. Agora nesta pequena instituição submetida ás mesmas regras de funcionamento de uma situada em Almada ou em Sintra, entra gente sai gente, poucos ficam, poucos se fixam, excepto aqueles que são naturais da terra, e mesmo esses ! Permanentemente com o credo na boca com medo de perder as pessoas, a quem, diga-se de passagem, não se pode pagar muito, para compensar o esforço de estar num local como este. Qualquer assistência necessária é prestada mal, à pressa e custa uma fortuna só em deslocações. Vou dizer uma coisa estúpida, mas nem tem árvores para arder. Assim o ministro não vem, e o abandono é sempre o que paira no horizonte. Talvez se o ministro viesse acabasse tudo na mesma.

domingo, 19 de agosto de 2018

Pessoas

Pela nossa vida passam pessoas, pessoas e pessoas. Umas deixam-nos uma imensa carga, um peso de más experiências, e cada minuto que passámos com elas pareceu horas. Infelizmente quando nos apercebemos disso já muito foi soterrado debaixo dessa carga, e o que da vida poderia ter sido prazer e felicidade sucumbiu sob um mundo de exigências, pressupostos, imposições, para não dizer pior. Laços desfizeram-se por sua intransigência, redes que foram desmanteladas e agora nos fazem falta, vinculos desfeitos, amizades perdidas. Há uma máxima que deveriamos aplicar mas que sempre esquecemos e que é "nunca gostes de alguém que não gosta das pessoas de que tu gostas". Sempre achamos que a ligação com essa pessoa será mais forte e tudo compensará. Errado ! Depois temos pessoas que passam como raios de luz. Tudo foi muito rápido, leve mas muito luminoso, quando pensamos o que fazer com tanta luz, esta apaga-se e fica-se na escuridão. Temos ainda pessoas que nos dão a confiança e a solidez, e estão disponíveis sem se imporem nem pedirem nada em troca, apenas porque estão bem no ambiente que lhes criamos, e geram para nós um ambiente que nos faz sentir tranquilos. Com essas pessoas entramos em portas diferentes de um enorme centro comercial e sempre nos encontramos pois os nossos passos nos conduzem ao encontro. Não estou aqui a falar de frases feitas, como aquelas banalidades com que sempre tropeçamos na internet. Falo de experiência própria pois já encontrei todos estes tipos de pessoas e talvez outras aqui não descritas. Vivi com elas e ainda hoje carrego algumas das dores dessas ligações. Por muito que queiramos o passado não se apaga com o botão "delete", e não é para apagar, pois é uma riqueza e não um fardo. Há no entanto que o domesticar, e colocá-lo onde deve ser posto, a pasta dos processos arquivados. Nalguns casos passar primeiro no triturador de papel...

sábado, 18 de agosto de 2018

Amor incondicional

Para quem tem filhas como eu tenho, e se tenha habituado com o tempo à sua companhia, mesmo que à distância, sabe do que falo. Aquele sentimento de permanente e imensa cumplicidade capaz de tudo aceitar e tudo perdoar. É o chamado amor incondicional, aquele que aceita sempre um copo meio vazio como um copo quase cheio. Ilusão de pai para quem as filhas são como que "eternas namoradas". E nós acabamos sendo "eternos heróis". Acabamos mesmo convencendo-nos de que incondicional quer dizer exclusivo. Errado ! Escaldados pelos trambulhões emocionais, pelas experiências de falhanços e quedas, de voltar a levantar, parece que ali, junto daquelas raparigas, encontramos porto seguro. Ora elas também têm os seus trambulhões e nem sempre representam a estabilidade. Além de que todo o ser humano quer ter a sua vida com tudo a que tem direito, Quem quer ter uma criança tem criança, e aqui falo daquela coisinha fofa em que penso todos os dias, a neta, quem prefere ter cão tem cão. O amor esse permanece incondicional. Mas por mais que se dê voltas, ninguém merece a nossa exclusividade. A vida é uma estrada que tem várias ramificações, a ciência está em conseguir seguir os melhores caminhos. Muitas vezes nem acertamos. Na foto podemos ver os meus "amores incondicionais", as filhas do "senhor Carlos", agora em formato "cerimónia 4.0", e a prova de que o justificam plenamente.

Antigo ??

Andava procurando uma capa para o meu "smartphone", que a minha já se desfaz, ali para os lados de Castro, e decidi ir a uma loja Phone House  num centro comercial, daqueles que nem cheiram muito bem, e cheio de gente na esplanada, gordos, falando alto, enfim um bom ambiente urbano para gente rural. A menina era de enorme simpatia, apetecia mesmo comprar-lhe qualquer coisa... Ao ver o meu aparelho diz ela "Para estes telemóveis antigos já não tenho capas, e será dificil encontrar!" Parece que estavamos a falar de um telemóvel tijolo, dos primórdios da comunicação sem fios, arcaico e sem funções daquelas que não servem pra nada ! Mas na realidade o meu ainda nem fez três anos (faz em Outubro como o seu dono...), e já merece o epíteto de "antigo". Mas que noção do tempo existe agora neste comércio modernaço. Para a simpática criatura eu deveria comprar um novo e aproveitava e levava a capa também. Mas é isto a sociedade do desperdício, incutido pelos interesses comercias nas cabecinhas ocas destas jovens. Um telemóvel de três anos deve durar mais três, no meu modo de ver, se calhar o meu modo de ver é que é antigo, a menos que seja verdade que a sua morte esteja logo programada à partida, como parece ser a prática da Apple. Apetecia-me comprar qualquer coisa à jovem vendedora, pela sua simpatia, mas acabei apenas por trazer umas revistinhas para ver as "fantásticas" promoções e logo decidir. Decidir que não vou decidir claro ! E o telefone "esperto" que se aguente na sua capa miserável, pelo menos mais três anos. A menos que a morte já lhe esteja ditada.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Aceitar

Os últimos dias têm sido de arrasar. Mistura de sentimentos contraditórios, contradições, dúvidas, falsas certezas, rejeição e afastamento. Depois caiu tudo quando a presença de outra pessoa, a mãe, só complica. A paciência vai-se, o tempo é devorado em tarefas do quotidiano, e a saúde afinal nem ajuda. Finalmente no meio de tudo isto a minha organização esvai-se, o tempo contrai-se, a vida esboroa, e tudo aponta para a espiral depressiva. O calor também chateia, e o que poderia ser um belo dia de praia, é apenas um pretexto para a sombra, para a retração e para o inchaço. A questão é sempre a mesma, a solidão de quem põe o braço fora da água, e não sente a presença de qualquer embarcação. Complicado, sim, mas nada que o tempo não acabe por ajudar a resolver. A questão é que tudo foi demasiado rápido, demasiado imprevisivel, demasiado para alguém com principios de vida sólidos, e uma ética estupidamente obsoleta. Claro aceito tudo como mais uma dádiva, mais uma experiência, mais uma prova de resistência que Deus está-me proporcionando. E já foram tantas que nem teria de me admirar. Estou a aproximar os sessenta e seis, e se as estatisticas fossem a lei de Deus só teria mais cinco anos de vida. Felizmente ou não, as estatisticas são apenas estatisticas e Deus está-se nas tintas para elas. Veja-se o meu amigo Vitor, qual seria a probabilidade de morrer aos 64 ? E desde ontem ele lá está, chamado à Sua presença. Vamos aceitar e esperar. Deus tudo vê e tudo aprecia.

Vida de reformado

Não sei se repararam que ultimamente se tem falado muito em acabar com a reforma compulsiva aos setenta anos. Isto é uma pessoa poder trabalhar para o Estado ou instituições públicas até ao fim da vida no caso de o desejar. No privado isso já sucede. Graças a Deus. Eu detesto decisões compulsivas, o ser obrigado a, provoca em mim um desejo imediato de contrariar, de contornar ou desobedecer. E vejo como homens de grande nível são obrigados a parar, e o Estado e o povão a perderem o contributo de pessoas que queriam contribuir com muito préstimo. Temos vários casos mas talvez o que disparou a discussão foi o do grande cirurgião Manuel Antunes, obrigado a reformar-se, ou do Prof. José Fragata, o homem que me salvou da ruína e da morte, a caminhar também para lá. Agora até eu sou reformado também, embora ainda nem tivesse chegado à idade, e levo essa célebre vida de reformado, em que se joga ás cartas, em que se está a polir bancos do jardim, no caso dos homens, ou a lamber os netos no caso das mulheres. A isto se adiciona no Alentejo ter por perto umas "mines". Mas a minha vida de reformado é um pouco diferente. Pus me a pensar que hoje levantei pelas sete horas, depois de aprontar café da manhã para dois, eu a mãe, saí para ir ao banco tratar de assuntos alheios, depois para outro multibanco onde paguei contas que não eram minhas, aí fui ao Pingo, a mania de comer sardinhas ao sábado, depois fui tratar de comprar um cartão para o telefone, pensei que as sardinhas e outro peixe não gostariam da manhã na mala do carro, passei por casa a amanhar e congelar o que disso precisava, depois fiz quinze quilómetros de carro, era preciso passar na unidade para tratar de papéis, a propósito de papéis, faltavam folhas para fotocopiadora, pelo que fiz mais quinze para vir ao Pingo de novo e outros quinze para regressar, mais umas decisões e umas conversas, aí veio o almoço, desta não tinha do fazer, e tive companhia, ufff, após o que regressei a casa, outros quinze, e no total sessenta quilómetros. Cheguei a casa pelas quinze e só mesmo a cama me chamava. Quais "mines", quais cartas, quais banco do jardim. Á minha medida, nada de comparar com os grandes homens que atrás citei, quem corre por gosto... A isto se chama uma bela vida de reformado... Já lá diziam os outros "arbeit macht frei". Teriam razão ? (para quem não saiba falo da célebre máxima nazi "o trabalho liberta", afixada nos portões dos campos de concentração, libertação num local daqueles... nem a brincar)

A morte saiu à rua

Esta música no título era uma música que gostávamos, mas no dia de hoje tem outro sentido. Refiro aqui a morte de um amigo meu de infância que ocorreu hoje e de que tomei conhecimento agora mesmo na internet. Era Vitor Reia Batista de seu nome, era professor na Universidade do Algarve, doutorado em Comunicação por imagem, especialista em Cinema, e dirigia o curso de Ciências da Comunicação. A doença já o tinha afastado do ensino há alguns meses, tinha 64 anos, menos um ano que eu. Conhecemo-nos em 1968, ele com 14 e eu com 16 anos, e até 1973 partilhamos gostos, experiências, escrevemos coisas em conjunto, até uma peça de teatro que nunca subiu em cena nenhuma, poesia de que era eu mais dotado, pois até publiquei, mas também muitos dias de praia na Costa da Caparica, onde morávamos, só não partilhámos namoradas, nessa altura não se usava, e os hábitos eram mais contidos. Ainda andamos em conjunto em Engenharia no Técnico, mas em 1972 o meu amigo decidiu sair para a Suécia, num dia de Agosto em que começou a pedir boleia na Rotunda do Relógio, e de boleia em boleia chegou á Suécia onde pediu exílio ás autoridades. Não esquecer que estavamos em plena guerra colonial para a qual seriamos arrastados a qualquer momento. Ainda estive com ele em Lund na Suécia em Setembro de 1973 a ver no que dava, mas como não tinha risco de incorporação militar, regressei e o Vitor ficou, voltando em 1975, para integrar o Verão quente. Tinha estudado Comunicação e Cinema na Suécia, e dado o arranque da Universidade do Algarve e ausência de licenciados nessa área, antes do 25 de Abril certos cursos estavam proibidos, como jornalismo, sociologia, cinema, etç etç. E ficou por lá. Ainda nos visitamos algumas vezes poucas, e mais recentemente tinha-me prometido uma visita quando se livrasse "desta porcaria". Referia se ao cancro. Não se livrou e a visita ficou adiada "ad eternum". Era um rapaz de esquerda como eu, mas desalinhado e sem esquerda definida, como eu, mais de causas do que de politicas, como eu ! É já o segundo amigo de infância que me morre. Se calhar eu estive mais perto da morte, mas Deus terá gostado mais do Vitor por isso o chamou. Vitor agora vais ter de comunicar mais com Deus. Que a tua alma agitada encontre repouso. Fiquei muito triste.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

I say a little prayer for you

Foi a notícia do dia, aos 76 anos morreu Aretha Franklin. Uma voz e uma vida que cantou no funeral de Martin Luther King, e na tomada de posse da Barack Obama, tal a dimensão do seu talento. Nos meus dezasete anos em que juntava tostões para comprar uns discos, "Aretha Now" foi o segundo LP que comprei na vida, por influência de uma correspondente belga (quem se lembra das correspondentes...na era do whatsapp ). Boa escolha que fiz e aí conheci melhor o soul, e a voz e interpretação de Aretha. Demorou uns meses a juntar os 180 escudos que custou. Lá dentro entre as doze canções de um LP vinha "I say a little prayer for you", uma das canções mais bonitas de sempre. E a sua voz empolgava. Sabia também o seu envolvimento na luta pelos direitos cívicos, e a sua voz destacada nessa batalha pela igualdade de direitos para os negros. Não sabia que iria evocar esta música no dia da sua morte. Vinha também "Respect", já popularizada por Otis Redding, ligada com essa luta pelo respeito pelo Homem. Recentemente adquiri um conjunto dos cinco CD mais importantes dela, e lá estava a versãp digital de "Aretha Now". Calou-se a voz, ficam os registos para continuar a ouvir . Talvez outros presidentes americanos precisem ! (Na foto a capa desse disco de 1968 )

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Ganhar e perder

Todos os dias se ganham pequenas batalhas todos os dias se perdem pequenas batalhas. Mas nem todos os dias se ganham amizades ou se perdem amizades. Não é todos os dias que se conhecem pessoas amigas, mas quando as perdemos fica sempre um vazio. E se as perdemos sem saber que já as tinhamos perdido e qual a razão, esse vazio transforma-se em decepção e em mágoa. Acontece na vida, e temos de aceitar. Os outros têm razões que desconhecemos e se, ao ser-lhes perguntado, não respondem, fica margem para toda a efabulação. Tenta-se perceber, perceber, perceber, e nada. Tenta-se usar a lógica, a matemática, a psicologia, as ferramentas que permitem compreender a alma humana e nada ! Continuamos sem perceber. Aí só nos resta aceitar o desprezo, ler os sinais, compreender os indícios, sem mostrar arrependimento, ou frustração, digerindo a dor, agradecendo o que foi recebido, e procurando colmatar o vazio. Claro, uma pessoa não substitui outra, e a ingratidão destrói. Prova-se assim do mesmo veneno. Se calhar estava mesmo a pedi-las.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Como lidar com a vida quando a vida não nos quer ?

Assisti a algo que não pensava assistir. E felizmente desviei o olhar. Uma criança que vai ser entregue a uma instituição a despedir-se do seu familiar mais próximo. Era mesmo a despedida e por algum tempo uma efectiva separação. Claro casos destes não podem ter boas soluções, apenas as menos más. E no caso esta a menos má. Acontece que não estamos preparados, e aqui tiro o chapéu aos técnicos que lidam com estes casos mantendo o sangue frio e procurando no meio do drama o caminho da vida. Não seria para mim... Acontece que quando a vida nos rejeita como lidar com ela ? Quando a família falha, pais falham ou não podem acorrer pela sua situação concreta, a própria criança falha pois não conseguiu integrar a sua diferença, nem fazer se aceitar, há apenas uma solução que é a sociedade não falhar. Mas conhecendo a situação em concreto não consigo imaginar o que será o futuro para crianças como estas, o que as espera na curva da estrada. Claro ali houve choro e a consciência de que seria um longo adeus. Um adeus sem regresso, mas que se pode transformar numa luz no fundo do túnel, assim a sociedade e as suas instituições não falhem. O problema é que falham muitas vezes. Terminando com um olhar pessoal, eu mesmo algumas vezes sinto necessidade de responder à pergunta que formulo no título deste post, pois essa sensação de não ser querido pela vida faz muitas vezes parte da minha própria vivência. E como lidar então com a rejeição ? Sobretudo como lidar sózinho com a rejeição ? Isso é para Homens superiores. Que traçam caminhos, percorrem, e vão até ao fim independentemente dos outros e das suas contrariedades. É para fortes, não é o caso de uma criança sem defesas ou de um "velhote adoentado"... Melhor esquecer, melhor ultrapassar, melhor julgar-se mesmo um homem superior !!!

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Simplesmente... um pic nic

Hoje na Associação realizaram um pic nic. De manhã pela fresca, o município cedeu o autocarro, a Barragem da Rocha cedeu o local, o sol cedeu o calor, a brisa cedeu o fresco, os meninos e meninas do ATL cederam a sua presença, os idosos de Centro de Dia também, e depois há aqueles que cederam a sua vontade e força para colocar toda esta gente dentro do autocarro. E destes precisa de se falar, pois temos de imaginar como colocar uma pessoa de cadeira de rodas num veículo sem acesso para pessoas com dificuldade de mobilidade, pegar em peso, fazer subir uma escada e sentar, bem como o movimento inverso. Pior ainda será convencer a pessoa que está em segurança, e que no meio não haverá nenhum percalce. Coisas para pessoas especiais, que decerto deram o melhor de si. São coisas do dia a dia. Um pic nic, bahhh, que vulgaridade, como pode ser notícia ? Mas para cada pessoa colocada na sombra das árvores um mundo de vontades tem de se reunir. Tudo simples, tudo certo, mas tudo dificil. Já agora a ideia de misturar os jovens do ATL com os idosos é algo mais do que uma boa ideia. É uma boa maneira de estar na vida.

domingo, 12 de agosto de 2018

O passado e o presente

Assim têm sido os ultimos dias com a permanência da mãe na minha casa. Para passar alguns dias das férias da pessoa que a costuma "acompanhar". Um mergulho no passado, como se esse passado fizesse parte do presente. As situações vividas há mais de cinquenta anos entram na "conversa" como se fossem factos de ontem. Assim se estivermos a falar do medicamento que está a tomar agora para as dores, dirá que sim, que o fulano de tal, tomava isto ou aquilo, e isso é que era bom,  sendo que esse fulano terá falecido há 50 anos. É curioso como a memória de factos passados se apruma, enquanto a do presente próximo se torna difusa, imprecisa, e sem rigor. Talvez a quantidade de factos que ocorrem no presente leve a nada reter, tudo baralhar e tudo confundir. Sobre factos passados já foi feita uma seleção natural e apenas muito poucos factos permanecem retidos, mas estes com precisão. Assim no presente temos quantidade, no passado temos qualidade. Agora para o paciente interlocutor (o filho...) é de rasgar as vestes ! Não será má vontade mas é dificil manter conversa, e conversa é o que mais quer, uma vez que leva a vida sozinha. O problema é que o "senhor Carlos" também. E de repente ser transportado do presente ao passado, e linguarejar em tempos tão diferentes, acerca de pessoas que nunca conheci, acerca de factos banais, como se fossem realidade do dia, é um exercício inacessível a um solitário inveterado, habituado a outro tipo de "diálogos". So help me God !!!

Domingo de Alarcón

Quem me conhece bem, e muito poucos incluo neste grupo restrito, sabe que gosto muito de ciclismo, eu próprio dei umas pedaladas em BTT, quando nos anos noventa esta modalidade chegou a Portugal, e havia na Renault onde trabalhava, um grande grupo de amigos que todos os domingos se juntava para fazer uns passeios na Arrábida, nos trilhos até Sesimbra e regressava, cheios de fome, poeira mas de alma limpa. Ali não se distinguia chefes, subordinados, engenheiros ou operários, era tudo gente das duas rodas. Lembro com saudade o colega Cara Nova, nosso mentor, de quem eu era chefe lá na fábrica, mas ali tinha-lhe respeitinho, pois era ele quem decidia o melhor para o grupo. Penso que terá falecido já. Eu próprio acabei por ter um enfarte montado em bicicleta, mas isso são contas de outro rosário. Sempre apreciei este desporto feito de superação, sofrimento e alegria. Vem tudo isto acerca da Volta a Portugal, que assisto sempre na televisão, e a admiração que tenho por aquela gente que se dedica por tostões, pois ali todos são profissionais, e atiram-se à estrada e às montanhas num esforço diário, num desgaste permanente, dando um exemplo de luta, superação e humildade. Este ano, como no ano passado, Raul Alarcón domina. E não se esconde atrás dos companheiros para estes o levarem ao colo. Tem tido uma posição relevante ganha à custa de trabalho e dedicação. Sendo espanhol, corre por uma equipa portuguesa, o FCP. E dá um exemplo às primadonas do futebol, cheias de mimo, embirrentas logo na primeira contrariedade, exigindo sempre muito dinheiro e um par de botas. Hoje termina, o desfecho é incerto, mas Alarcón já ganhou pela sua força, persistência e capacidade de trabalho. Ainda bem que há desportos que se vencem no terreno e não na secretaria, ou melhor na "tesouraria".

sábado, 11 de agosto de 2018

Batatas fritas

O Pingo Doce é o grande centro de encontros aqui do interior profundo. Não há local que atraia mais gente, onde meia vila convive, mostra as crianças, a foto do neto, conversa acerca das pensões, das reformas, de futebol, fala de tudo e de nada. Até a mim, um desconhecido por estas paragens, um peixe fora da minha água urbana, um lisboeta inveterado, mas convertido ao cheiro dos campos alentejanos, isso me acontece. Ainda há poucos dias encontrei uma pessoa na entrada, a que acenei, e de novo na caixa reencontrei e voltei a acenar enquanto fazia um pagamento no multibanco. Reconheci dificilmente, pois habituado a ver essa pessoa fardada, vi a mesma pessoa no seu vestido preto e sapato de tacão, elegante, parecia-me bem diferente. Mais tarde ainda no mesmo dia voltei a ver a mesma pessoa agora na versão pro, até me ofereceu batatas fritas. Fiquei a pensar na vantagem do Pingo Doce para conhecer o outro lado da mesma pessoa. De outra forma não tem pretexto, motivo ou possibilidade. Sem o Pingo esta terra morria de tédio, com o Pingo fervilha de curiosidade. Nem precisa investir em bibliotecas, centros de convivio ou foruns municipais. O Pingo tem os livros, os laços sociais, a cultura junto com as batatas fritas. E quem não precisa que lhe ofereçam umas batatas fritas.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Esperança

A palavra mais certa para um dia em que alguma coisa se renova. Renovou-se uma ideia, nova e velha ao mesmo tempo, de que a vida tem de ter outro sentido. A solidão mata, dizia um livro recente acerca dos laços sociais e da sua importância, e não sei porquê mas a presença nos últimos dias da mãe comigo, acentua a minha sensação de solidão. Provoca-me uma sensação de desconforto e uma permanente pressão que me arrasa e me destrói. A observação é total, a desconfiança é permanente, por mais que insista faz-me sempre sentir que não está na sua casa, até para beber um copo de água me pede autorização, e acreditem, não é por uma questão de educação... Nem imagino o que seria se essa presença passasse a permanente. Mas afinal onde está a esperança ? Está na tomada de consciência, na apertada malha da rede que me prende, e que me renova a esperança de libertação. Pode ser apenas uma ilusão, mas será que as ilusões não fazem parte da nossa vida? Apenas não as devemos tomar por realidades.

Colagem

Dia de colagens no ATL com a ilustração da técnica do guardanapo. Desta vez nada tive a ver, para além da ideia de convidar a Ana Lúcia para fazer uma coisa que já costuma realizar nas sessões da Universidade Sénior. O resultado é bonito, a execução simples e a concentração dos pequenos impecável. Saliento ainda um pequeno pormenor, o da colaboração da Nossa Terra, coisa que apreciei particularmente. Num concelho pequeno em dimensão de meios escassos acho que se alguém faz alguma coisa bem deve partilhar para bem da comunidade. Nada de exclusões, ódios de estimação, invejas, ou outros emissores de energia negativa. Isto na minha simples opinião, que pouco vale. Mas parece-me evidente.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Monchique

A esta terra tem estado ligada a estadia já por duas vezes, em Novembro e Abril, na companhia de uma pessoa que me é querida. Por isso fiquei particularmente perturbado pelo que tem acontecido. Cem quilómetros progrediu o incêndio que veio de Norte para Sul e tudo arrasou, desde a aldeia de Alferce, Picota, rodeou a vila de Monchique e avançou até à zona Termal, onde ameaçou hoteis, zona de banhos e fábrica de engarrafamento. Numa das vezes que estivemos em Novembro estacionei o carro no parque publico em cima do qual tem um miradouro com vista sobre a serra. Na foto podemos ver a vista que se podia ver no passado sábado. São boas recordações de bons momentos ali passados, com pessoa de quem se gosta, pois aquele parque apela a romantismo e sossego, que acabam por ser também destruidas também um pouco neste fogo gigantesco. Apesar de não saber se ali voltaria, tudo me indica que não, agora perante esta situação será ainda mais penoso rever aquele espaço onde fui (ou fomos) felizes. Uma tristeza enorme invade o meu coração, já triste pela incerteza do retorno. Agora pela certeza da catástrofe.

Pressa

Costuma dizer a "vox populi" que a pressa é má conselheira. E é verdade. Da pressa apenas pode resultar precipitação, má qualidade, equívoco, depreciação. Antes a ausência que a pressa, quando estamos a falar da relação entre pessoas. Quando tratamos alguém de forma apressada estamos a desvalorizar essa pessoa, a dar a entender, mesmo que involuntáriamente, que temos outro compromisso mais importante e portanto temos da despachar !!! Aí mais vale a ausência, se não posso dar um tempo de qualidade então pura e simplesmente não dou tempo nenhum e nem presisa explicar. A menos que essa pessoa nos mereça essa explicação, o que pode nem ser o caso. Aliás nem sequer há caso, estou aqui apenas a filosofar em abstrato sobre um assunto em tese, e nada de concreto justifica este post, pois jamais alguém me terá tratado dessa forma tão deselegante. A deselegância nesse caso chamaria deselegância, o que de todo não faz o meu estilo, que é ameno e confiante. A mim também se aplicaria preferir a ausência à pressa, e passaria a ausente. Pois claro !

Sombra

Uma sombra que se projecta mostra a nossa imagem deformada na chão liso. Numa das muitas estradas aqui do BA, de onde se vê o infinitamente grande e nos sentimos pequenos. Hoje na saída do Pingo Doce alguém pediu-me boleia. Eu nem conhecia a pessoa, mas a pessoa conhecia-me muito bem e até sabia qual era o meu destino provável, destino que era aquele que lhe interessava, a terra onde vivia com a filha, que por sua vez era uma rapariga que ele identificou e que por sua vez me conhecia muito bem, e até era verdade. Dei boleia ao meu ilustre desconhecido. Senti me pequenino.
Pelo caminho fui sabendo um pouco da história de vida, bem parecida com a minha, que gostava dos meus quadros, que tinha admiração por mim, que lá na terra as pessoas falavam de mim, que eu tinha feito um quadro com sobreiros, verdade, que tinha feito outro com a igreja da terra onde vivia, verdade, que tinha formação noutra área, e até sabia um pouco da minha saúde, e que eu partilhava com ele ser diabético, isso disse-lhe eu. Senti-me enorme, e gostei do senhor em causa, Acabei por ver a minha sombra projectada nas palavras dele, e desta vez até que gostei dela. Coisas só possiveis quando se leva a vida no campo. Noutro contexto nem teria dado boleia a ninguém, e se calhar ninguém teria pedido.

Meditar

Porquê meditar depois da meia noite ? Rever o dia. Rever o que as pessoas foram para nós durante um dia, o que fomos para elas. O dia foi mal escolhido. Passa uma efeméride triste, e em breve outra passará, quando há dezoito anos decidiste partir e eu nada fiz. Agora apenas uma lágrima rola quando penso nesses dias de Agosto, em que tudo se passou, em que muito coisa desapareceu, coisas que tinha por firmes e boas, e afinal nada é firme, nada é o que parece, e isso continua verdade mesmo nos dias de hoje, em que a manipulação, o interesse imediato e a mentira piedosa continuam a fazer parte do nosso dia a dia. O dia até tinha começado bem. Um pessoa disse-me quando me viu "olha o meu pintor preferido !", valorizei, e perguntei porquê, e a resposta saiu pronta "É o unico que conheço. Os outros preferidos estão todos  mortos !". Gostei vindo de uma pessoa que me conhece mal. Mas no mesmo dia pessoas que me conhecem bem, mentem me sem necessidade, manipulam sem precisão, e dizendo valorizar a minha amizade, amachucam-na como papel velho e ignoram. A sensação de imbecilidade toma conta de mim, e apenas apetece retribuir, ou então desvalorizar e aos poucos ir saindo de cena quando vemos estar a mais nela e nela não ter qualquer lugar. Nem deveria estar aqui a falar assim para os meus botões, estarei a sobrevalorizar o que deveria começar a desprezar desde já. Nada tenho a ver com a decisão dos outros, mas tenho a ver com a decisão de me proteger, de não me envolver em causas que me fazem muito mal.




quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Memória

Vinte e seis anos passados, algumas outras pessoas passaram, algumas alegrias passaram, muitas tristezas passaram, algumas novidades chegaram, a Francisca a melhor de todas, pessoas vieram pessoas foram, todas deixaram marca, para o bem, para o mal, nenhuma comparável, pois a inocência inicial não se repete, a marca dos filhos não se repete, a marca dos tempos não se remove, arranca, retira, destrói. Permanece sempre. Não tendo para o saudosismo nem para a valorização dos factos passados. Mas quando se passa por eles, mudamos para sempre. Entretanto quase morri, entretanto quase ressuscitei, pois não se pode chamar vida em absoluto aquilo que hoje me é proporcionado por Deus. Mas é o que Deus quis, e poderia ter querido outras coisas a que me poupou. Assim, vinte e seis anos passados, muita outra gente de que gostávamos também desapareceu, a vida segue o seu rumo, e aceitar como aceitei não significa esquecer.

Talvez a imagem mais conhecida do mundo

Hoje no ATL a criançada dedicou-se a uma tarefa que tem mais de 500 anos, diria 515 precisamente. Desenhou e pintou a seu jeito a Mona Lisa, tela de Leonardo da Vinci, pintada em 1503. Talvez seja a imagem mais conhecida do mundo, a mais vista, a mais apreciada, a mais comentada a que gerou mais controvérsia. Á altura do seu autor sem duvida o "homo sapiens" mais talentoso de sempre. A tarefa era dificil sem duvida, e para muitos tentaram livrar-se o mais rápido possível, para depois jogar à bola. Não tenho como reprovar tal comportamento. Mas mais uma vez contei com a cumplicidade da Daniela e da Joana para manter as tropas concentradas dentro do possível. O resultado foi interessante, apesar de alguma ajuda do "professor", um tal de "senhor Carlos", já ali também conhecido por essa designação. Não ressalvo trabalhos em particular mas dois ou três têm mais aprumo e foram feitos com veia. De resto foi uma coisa boa, mexer em água, em tintas, inventar cores e seguir rumo a uma Mona Lisa imaginada.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Inferno

Faz hoje um ano que tomei uma decisão que tornaria a minha vida num inferno. Mas até no inferno encontramos motivos de inspiração, reflexão, conhecemos amigos, conhecemos melhor "os amigos", e até aos sessenta e cinco anos aprendemos, embora muitas vezes da pior forma. Naturalmente não vou referir qual a decisão, mas devo dizer que o grande motivo da decisão tomada foi eu não saber dizer não. Ter sempre aquela horrível sensação de olhar o copo meio cheio, e o sentimento de "porque não tentar". Já vi tantos impossiveis realizarem-se que nada mais me admira. Depois houve algumas pessoas que me deram empurrão. Dessas algumas já saltaram da carroça, engordando o rol daqueles que acham sempre que tudo se deve fazer, desde que sejam os outros. Depois sempre pensei que vale a pena tentar, vale a pena ajudar, vale a pena procurar o "buraco da agulha". Certo que o reconhecimento não é o forte daquela população, e muitos outros antes de mim provaram esse veneno. Acabaram por encontrar o abismo abrir-se debaixo dos pés, quando apenas procuraram criar alternativas, projectos em prol do bem comum. O inferno aos poucos vai sendo um purgatório, nem por isso menos duro de suportar. Mas já que estamos em linguagem biblica, talvez contribua para ganhar o céu, coisa de que tenho sérias dúvidas. Terá valido a pena dar o meu tempo, o meu conforto, ter prejudicado a minha saúde periclitante, ter deixado por fazer outras coisas que me dariam mais prazer, ter dado a meu nome, envolver-me num caminho cuja saída está distante, incerta e custosa de atingir. Não sei. Outros dirão. Para mim decerto que muito perdi, e que terei de retorno ? Claro está uma questão que um voluntário nunca deve pôr. E calo-me já !

domingo, 5 de agosto de 2018

Partir

O habitual espetáculo de todos os anos, defronte do meu terraço. As andorinhas concentram-se para fazer um voo em conjunto para os locais de destino, os quais desconheço com precisão. Sempre o mesmo ritual, de manhã muito cedo mal o dia nasce. Por aqui tudo isto é natural, feliz e sem complicação. Parece que uma força colectiva as move, sem saber quem manda ou determina, quem gere ou decide, pelo bem comum. A força da natureza simples e ao mesmo tempo tão complexa e inexplicável. Se tivesse um maestro esta orquestra não soaria melhor nem o resultado seria tão perfeito. Um pouco da vida no campo.

sábado, 4 de agosto de 2018

Dentro da campânula

Sábado nasce escaldante, claustrofóbico, e não apetece sair da campânula onde o ar condicionado ainda permite sobreviver. E esse é o objectivo mais próximo e mais imediato. Uma urgência de sair da rotina mas mantendo a rotina. O dia desenvolveu-se de uma forma estranha. Alto calor, sufocante durante todo o dia. Cheguei ao almoço destruido, e a tarde foi passada em prostração na cama, apenas o ar condicionado tornava o ar respirável. Depois começa a ficar muito nublado. fechou o calor vinha como de um forno aberto. Começaram ventos intensos, quase ciclónicos, e súbito, no final da tarde a chuva, saída nem se sabe de onde. Derrubaram-se vasos, partiram-se as flores e tudo ficou pleno de terra e destroços de plantas. Agora entrou na noite a acalmou, mas o calor sufoca e a temperatura de hoje deve ter ultrapassado os 45 graus. Um horror. Depressivo, e um sinal dos tempos de alterações climáticas. Parece que S.Pedro está guerreando consigo mesmo pra decidir que tempo deve escolher.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

O calor e a persistência

O calor nos ultimos dias tem sido aquilo que temos vivido. Um bafo que nos assusta, sobretudo aos mais fragilizados, idosos, doentes crónicos, crianças, e todos aqueles que se encontram internados em locais onde o ar condicionado não chega, ou onde chega mas por razões várias e diversas nem funciona. Este é o caso do local onde tenho feito algum "voluntariado" nos ultimos tempos. Acontece que perante a ténue esperança de se conseguir pôr em parte a funcionar pude ver a força da persistência que demove montanhas, enquanto muitos se preocupam mais com os seus egos, a sua imagem, ou assuntos de "lana caprina". É bom de ver a força que transborda de algumas pessoas e o que com essa força conseguem fazer apesar das contrariedades permanentes, das dificuldades técnicas ou outras e da incompreensão de muitos. Nem toda a gente é igual e a persistência nem é o meu forte, mas aprecio essa qualidade de pessoas que são capazes de enfrentar as dificuldades sem esmorecer até conseguir, mesmo que no caminho tudo aconselhasse desistir. Parece que o Alentejo não é terra para quem detesta calor, nem pra quem insiste em combatê-lo

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

As filhas do "senhor Carlos"

Hoje visto a pele de pai orgulhoso. Trago aqui "as filhas do senhor Carlos", que são naturalmente as duas do lado direito, sendo que a mais à direita é também mãe da menina Francisca, pelo que já tem um duplicado. Esta foto já estava na net pelo que nada arrisco em a republicar, até para o mundo que me rodeia saiba do que é que o "senhor Carlos" é capaz. Não são a melhores do mundo nem o "senhor Carlos" é o melhor pai do mundo (exceto no dia do pai, claro!). Publico para para verem como sabem rir, e como afinal me contemplam do alto dos seus 40 e 36 anos, com o otimismo de que gosto, pois todos que me conhecem sabem que prefiro sempre o sabor do copo meio cheio. Quem entende os subterfúgios da gramática percebeu que falo de mim na terceira pessoa porque para mim o "senhor Carlos" não sou eu, é mesmo outra pessoa. Aquela que outras pessoas vêm, que as outras pessoas chamam, que outras pessoas batizaram assim aqui no meu mundo rural. Na realidade essa pessoa é outra pessoa, menos senhor e mais Carlos. Há até quem me chame CR, mas essa é uma designação que reservo. Afinal se o "senhor Carlos" apenas deixasse no mundo estas duas raparigas, já teria cumprido cabalmente a sua missão. O resto que possa ter feito são trocos...

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Machado de Assis

Entre os livros que recebi e que tinha arrumados na casa da minha filha vinha uma edição já antiga de um clássico da literatura brasileira publicado em 1881, e clássico da literatura em língua portuguesa, "Memórias póstumas da Brás Cubas", de Machado de Assis, nascido no Rio de Janeiro em 1839 e falecido em 1908. Não sei onde ou quando o comprei, mas resolvi ler e achei um livro excelente. O período em que viveu fica bem retratado neste romance, curto, humorado, realista ao nível do melhor de Eça de Queiroz. Tem 160 capítulos, a maioria de meia página, o que lhe dá uma dinâmica narrativa interessante. Tudo é contado a partir da morte do protagonista e narrador, pelo que se pode dizer que é um romance escrito por um defunto. O humor por vezes é corrosivo e a escrita muito moderna e num português bem particular. Uma surpresa para mim, tinha este livro há muitos anos mas nunca o tinha lido.

Um pesadelo

Passa-se aqui perto. Uma pessoa idosa que pretendemos ajudar, eventualmente encaminhar, e que vive num autentico sub mundo. Tem alguma reforma sem ser muita, mas poderia ter acesso a algum serviço, não quer ! Hoje vi fotos da situação e nem imagino como será a realidade ao vivo. Alguém dorme em cima de um colchão, sem lençóis, o colchão está mais negro que a terra, a sujidade e os restos estão por todo lado, até um recipiente para as "necessidades" cheio, por despejar talvez há semanas. Uma total desarrumação não se entende quase o que são moveis ou detritos. O tal colchão apoia-se numa cama de ferro pequena, e a bordas do dito suportadas por tijolos. A pessoa em causa tem algumas infeções mal tratadas. Um verdadeiro pesadelo como eu nunca tinha visto nem imaginado que existia dentro de casa própria, onde vive, e onde o abandono e a falta de cuidados é total. Tem mais conforto em muitos que vivem na rua. E isto passa-se dentro deste concelho, numa das suas vilas, por detrás de muros e janelas à revelia dos apoios sociais, que estão a falhar. Talvez porque a informação não chegue. Talvez porque a proposta não chegue. Talvez porque o papel não chegue. Talvez porque o dinheiro não chegue. Talvez porque a vontade não chegue. Talvez porque tudo tenha chegado mas tenha partido como chegou porque a vontade da própria pessoa se impôs ou talvez a falta dela.

Um sonho

Hoje iniciei actividades no ATL de Verão, com um grupo muito ordeiro e organizado, mas cheio de criatividade. Aos meninos e meninas foi proposto um trabalho de recriação de um quadro do pintor Pablo Picasso, "O sonho" de 1932. Muitos dos trabalhos procuraram seguir as pisadas de Picasso outros não tanto, mas todos tentaram. Uma manhã diferente das outras, mas este ano tem havido de tudo, graças à boa vontade de alguns e o interesse dos pais. No quadro "O sonho" pode se ver a amante do pintor na altura Marie Therese Walter, jovem de 22 anos, tendo Picasso já 50 anos. A carga erótica está bem presente, embora essa não tenha sido a vertente mais explorada, as cores são simplesmente uma maravilha. Aí os nossos pequenos artistas entenderam a mensagem. Mas muito claramente distinguem-se ali alguns com uma veia artistica acentuada, pena não se explorar mais tarde esta componente tão importante da nossa vida. Ficam alguns exemplos. Na canto inferior direito está uma cópia do original.