sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Vida de reformado

Não sei se repararam que ultimamente se tem falado muito em acabar com a reforma compulsiva aos setenta anos. Isto é uma pessoa poder trabalhar para o Estado ou instituições públicas até ao fim da vida no caso de o desejar. No privado isso já sucede. Graças a Deus. Eu detesto decisões compulsivas, o ser obrigado a, provoca em mim um desejo imediato de contrariar, de contornar ou desobedecer. E vejo como homens de grande nível são obrigados a parar, e o Estado e o povão a perderem o contributo de pessoas que queriam contribuir com muito préstimo. Temos vários casos mas talvez o que disparou a discussão foi o do grande cirurgião Manuel Antunes, obrigado a reformar-se, ou do Prof. José Fragata, o homem que me salvou da ruína e da morte, a caminhar também para lá. Agora até eu sou reformado também, embora ainda nem tivesse chegado à idade, e levo essa célebre vida de reformado, em que se joga ás cartas, em que se está a polir bancos do jardim, no caso dos homens, ou a lamber os netos no caso das mulheres. A isto se adiciona no Alentejo ter por perto umas "mines". Mas a minha vida de reformado é um pouco diferente. Pus me a pensar que hoje levantei pelas sete horas, depois de aprontar café da manhã para dois, eu a mãe, saí para ir ao banco tratar de assuntos alheios, depois para outro multibanco onde paguei contas que não eram minhas, aí fui ao Pingo, a mania de comer sardinhas ao sábado, depois fui tratar de comprar um cartão para o telefone, pensei que as sardinhas e outro peixe não gostariam da manhã na mala do carro, passei por casa a amanhar e congelar o que disso precisava, depois fiz quinze quilómetros de carro, era preciso passar na unidade para tratar de papéis, a propósito de papéis, faltavam folhas para fotocopiadora, pelo que fiz mais quinze para vir ao Pingo de novo e outros quinze para regressar, mais umas decisões e umas conversas, aí veio o almoço, desta não tinha do fazer, e tive companhia, ufff, após o que regressei a casa, outros quinze, e no total sessenta quilómetros. Cheguei a casa pelas quinze e só mesmo a cama me chamava. Quais "mines", quais cartas, quais banco do jardim. Á minha medida, nada de comparar com os grandes homens que atrás citei, quem corre por gosto... A isto se chama uma bela vida de reformado... Já lá diziam os outros "arbeit macht frei". Teriam razão ? (para quem não saiba falo da célebre máxima nazi "o trabalho liberta", afixada nos portões dos campos de concentração, libertação num local daqueles... nem a brincar)

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