quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Sombra

Uma sombra que se projecta mostra a nossa imagem deformada na chão liso. Numa das muitas estradas aqui do BA, de onde se vê o infinitamente grande e nos sentimos pequenos. Hoje na saída do Pingo Doce alguém pediu-me boleia. Eu nem conhecia a pessoa, mas a pessoa conhecia-me muito bem e até sabia qual era o meu destino provável, destino que era aquele que lhe interessava, a terra onde vivia com a filha, que por sua vez era uma rapariga que ele identificou e que por sua vez me conhecia muito bem, e até era verdade. Dei boleia ao meu ilustre desconhecido. Senti me pequenino.
Pelo caminho fui sabendo um pouco da história de vida, bem parecida com a minha, que gostava dos meus quadros, que tinha admiração por mim, que lá na terra as pessoas falavam de mim, que eu tinha feito um quadro com sobreiros, verdade, que tinha feito outro com a igreja da terra onde vivia, verdade, que tinha formação noutra área, e até sabia um pouco da minha saúde, e que eu partilhava com ele ser diabético, isso disse-lhe eu. Senti-me enorme, e gostei do senhor em causa, Acabei por ver a minha sombra projectada nas palavras dele, e desta vez até que gostei dela. Coisas só possiveis quando se leva a vida no campo. Noutro contexto nem teria dado boleia a ninguém, e se calhar ninguém teria pedido.

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