sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A morte saiu à rua

Esta música no título era uma música que gostávamos, mas no dia de hoje tem outro sentido. Refiro aqui a morte de um amigo meu de infância que ocorreu hoje e de que tomei conhecimento agora mesmo na internet. Era Vitor Reia Batista de seu nome, era professor na Universidade do Algarve, doutorado em Comunicação por imagem, especialista em Cinema, e dirigia o curso de Ciências da Comunicação. A doença já o tinha afastado do ensino há alguns meses, tinha 64 anos, menos um ano que eu. Conhecemo-nos em 1968, ele com 14 e eu com 16 anos, e até 1973 partilhamos gostos, experiências, escrevemos coisas em conjunto, até uma peça de teatro que nunca subiu em cena nenhuma, poesia de que era eu mais dotado, pois até publiquei, mas também muitos dias de praia na Costa da Caparica, onde morávamos, só não partilhámos namoradas, nessa altura não se usava, e os hábitos eram mais contidos. Ainda andamos em conjunto em Engenharia no Técnico, mas em 1972 o meu amigo decidiu sair para a Suécia, num dia de Agosto em que começou a pedir boleia na Rotunda do Relógio, e de boleia em boleia chegou á Suécia onde pediu exílio ás autoridades. Não esquecer que estavamos em plena guerra colonial para a qual seriamos arrastados a qualquer momento. Ainda estive com ele em Lund na Suécia em Setembro de 1973 a ver no que dava, mas como não tinha risco de incorporação militar, regressei e o Vitor ficou, voltando em 1975, para integrar o Verão quente. Tinha estudado Comunicação e Cinema na Suécia, e dado o arranque da Universidade do Algarve e ausência de licenciados nessa área, antes do 25 de Abril certos cursos estavam proibidos, como jornalismo, sociologia, cinema, etç etç. E ficou por lá. Ainda nos visitamos algumas vezes poucas, e mais recentemente tinha-me prometido uma visita quando se livrasse "desta porcaria". Referia se ao cancro. Não se livrou e a visita ficou adiada "ad eternum". Era um rapaz de esquerda como eu, mas desalinhado e sem esquerda definida, como eu, mais de causas do que de politicas, como eu ! É já o segundo amigo de infância que me morre. Se calhar eu estive mais perto da morte, mas Deus terá gostado mais do Vitor por isso o chamou. Vitor agora vais ter de comunicar mais com Deus. Que a tua alma agitada encontre repouso. Fiquei muito triste.

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