segunda-feira, 30 de maio de 2011

Uma campanha alegre

Contrastando com tudo aquilo que sentimos, prossegue uma campanha eleitoral de bombos, bandeirolas, arruadas para a TV ver, discursos inflamados acerca de temas de café, gente pouca, ao que parece, quando se abre o zoom, assuntos artificiais, insultos, larachas, e outros despropósitos. De vez em quando lá vem o discurso mais sério, mas raros os políticos que correm o risco de falar do que pensam fazer, preferindo atacar o que os outros dizem ou pensam. E até era fácil, pois 3 dos 5 partidos têm o mesmo programa, o da dita "Troyca", e os outros 2 ficam pelo "não pagamos".

Alguns optaram por esconder dos portugueses o que aí vem, como se os portugueses fossem apenas verbos de encher, e não soubessem já que a tormenta se aproxima a passos largos, é o caso de Sócrates e os seus assessores de pacotilha. Então o tema da TSU é de ir ás lágrimas. Tanto quiseram esconder e afinal em Julho a picada já tem de estar dada.

O Portas continua a passar entre os pingos da chuva, a preparar-se para ficar de bem com Deus e com o Diabo. Já se sente ministro, só não sabe de que governo.

O Passos entre tiros no pé, e marketing político, mas ao contrário, ainda no fim acaba por perder umas eleições em que parece que até o Rato Mickey era capaz de ganhar.

O Diácono Remédios continua a dar lições de academismo e moral pelo país, e Jerónimo, igual a si próprio faz honra em jamais mudar de opinião.

Eça de Queiroz, volta, precisamos que descrevas com a tua verve, estes politicos cegos que querem conduzir a multidão, só pode ser para o abismo !!!!

Andar, caminhar, percorrer o que me separa da esperança

Começo a ter agora um pouco mais de facilidade em andar, e as dores parecem querer acalmar. Hoje fiz cerca de um quilómetro no paredão da barragem, em vez de dormir a "sesta". Estava fresco e uma brisa agradável entrava pela camisa refrescando apresar de serem duas da tarde. Apesar de tudo regressa algum domínio sobre o corpo, apesar dos meus menos de 60 quilos, que se reflectem numas pernas de Olívia Palito, com pouco músculo, e alguma corcunda, deriva de falta de músculo para segurar o tórax. Cá vou a poder dos meus vinte e quatro comprimidos diários, e de mais algumas pipetas e picadas de insulina. Mas importa que me mantenha de pé, física e psiquicamente. "With a little help from my friends".

domingo, 29 de maio de 2011

Duro de ouvir

Eu sei ! A alguém que se reclama da esquerda, ouvir algumas coisas dói. Mas o tempo não está para ideologias, está para soluções urgentes para os poblemas reais que aí estão à porta, e não será decerto com subterfúgios que lá vamos.
Num programa recente da SIC Notícias, Pedro Reis, que não é de esquerda, mas do mundo empresarial, falava das 5 mentiras de José Sócrates, e nas quais devemos meditar, pois detesto que não se responsabilize alguém em função dos seus méritos ou deméritos, seja qual for a sua ideologia (se isso existe naquela cabeça).

Primeira: "A culpa é da crise internacional", não é só, a OCDE há muito avisa que vamos para recessão, ainda antes da "ajuda externa", sendo esta 2,1% em 2011 e 1,5% em 2012, enquanto a economia mundial cresce 2,4% e 2,8% no mesmo período.

Segunda: "As empresas estão bem", nos últimos 10 anos, o investimento em Portugal caiu todos os anos e cairá 10% em 2011 e 6,7% em 2012. (OCDE).

Terceira: "Existe uma política para aumento das exportações", de facto crescerão 6,4% e 7,4% em 2011 e 2012, mas na economia mundial o comércia exportador cresce 8,2% e 8,5% no mesmo período. Perdemos cota.

Quarta: "Criar-se-ão 150 000 posto de trabalho". Perderam-se 300 000, e mais 150 000 pessoas que emigraram, desde 2005, e que nem se fala neles, pois seriam também desempregados.

Quinta: "A dívida estava controlada" e se não fosse o chumbo do PEC4, blá blá blá. Ora a dívida é de 150 000 milhões, mas não está lá o défice do Sector Empresarial do Estado (40 000 milhões) e as PPP ( 50 000 milhões) que no total vai para 240 000 mil milhões, isto é, cada um de nós deve 40 000 euros. è isto uma dívida controlada ?

Justifica despedimento por justa causa. Pensemos nisto, seja qual for a ideologia onde nos situemos. As ideias ajudam, mas não pôem pão na mesa. E não se tinha combinado falar verdade aos portugueses. Se calhar enganei-me.

sábado, 28 de maio de 2011

Não é flagelação abrir os ouvidos...

Ontem estive a ouvir o CD que o Victor me ofereceu, e que saiu recentemente, dos Flajazzados. Trata-se de um grupo da área do jazz, sede em Faro, alguns músicos com carreiras firmes no jazz nacional, caso de Zé Eduardo, Jesus Santadreu entre outros, ao qual o Victor juntou os seus textos. Trata-se de jazz, com textos falados, sendo que o Victor além de escrever dá também a sua voz.

Em alguns temas a música aproxima-se mais do acompanhamento dos textos, noutros do registo de jazz, em todas as faixas existem excelentes solos, sendo que o texto nos surge como tema, mas ele próprio, fruto de alteração da ordem das frases, cria novos textos, com novos sentidos, como se de variações se tratassem.

Este tipo de registo, entre o jazz vocal e o instrumental, é para mim desconhecido, e foi uma surpresa. Embora por vezes, o registo vocal um pouco "pesado" dê aos textos uma carga que no texto escrito não têm, o resultado final surge num registo de acordo com a mensagem a passar que é de grande força, sendo que as palavras são muito directas, eficazes e sem "massa gorda"...

Gosto particularmente da faixa 4, "Uma luz no escuro", texto suportado por guitarra e um magnífico solo de piano, da faixa 8, "Deus anda de lado", texto fortíssimo e uma sonoridade jazzística intercalada com as palavras e da faixa 3, "Triste soldade", muito próxima de uma canção pop, e onde a melhor exposição do texto é acompanhada de solos de sax, guitarra e piano que me agradam especialmente. Estas duas faixas são inspiradas em canções de Bob Dylan.

No jazz, ao vivo é mais interessante, mas para mim não é possível para já. Fica o disco para ouvir e voltar a ouvir. Obrigado.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Tiras de quinésio

Alguém sabe o que é isto? Pois o meu fisioterapeuta, em desespero com a solução das minhas permanentes dores lombares, decidiu aplicar-me "esta coisa". Uma estrela de fitas estriadas, sem qualquer produto químico, apenas cola, sobre a região dolorosa, mera acção mecânica, chinesas, claro, e que supostamente activam a circulação. Verdade é que apesar da dor se manter, tornou-se menos intensa, logo suportável. Também certos movimentos, andar, levantar-me, tornaram-se mais fáceis.
Parece que funciona, ou será apenas um placebo que intui um sentimento generalizado de melhoria, actuando mais sobre a mento que sobre o fisiológico. Quem me sabe explicar esta chinesice ?

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Dont look back ...

Ontem 24 alguém fez 70 anos. Um aniversário é apenas um aniversário, mais um ano de uma vida que vale por si e pelo traço que deixa. Mas quando se fala de Bob Dylan, é alguém que se não imagina com 70 anos... Parece que foi ontem, Cinema Satélite, em Lisboa, alguém se lembra duma salinha pró comprido, entalada no primeiro andar, entre o bar do Monumental e a Avenida, já desapareceu, estava cheia, julgo que tivemos de ficar de pé, ou mal sentados, e nesta sala projectava-se um filme muito escuro. Era preto e branco, na tela uma personagem desconcertante, cantava com a voz que já conhecíamos, arrastada, ácida e roufenha, tudo o que seria preciso para matar uma carreira "comercial". Por vezes puxava una acordes de uma harmónica que pendia no pescoço, e disparava com a viola em contra luz. O filme tinha o título tradução livre, para afastar os incautos, "Meu nome é Bob Dylan", do título original "Dont look back". Boa tradução, para a época. Estavamos em 1971, se a memória não me atraiçoa. Há 40 anos. Tinha sido estreado em 1967, e referia uma tournée de 1965. As coisas demoravam um pouco a chegar ao "jardim". E começava com Homesick Subterranean Blues, cujo video aqui deixo.


Só depois comprámos um ou outro disco do tal, o "guito" não abundava. Mas já há muito era uma influência da nossa juventude. Na era do CD completou-se a coleçcão, mas devo dizer que dos 25 CD's originais que editou tenho 9, e o mais recente que tenho foi publicado em 1970, chama-se "Selfportrait" e é duplo. Daí para cá nada! Não que não me interesse, apenas desconheço. Se calhar quero guardar bem fundo a recordação dessa voz roufenha, arrastada e fora de tom, dessa harmónica rasgando silêncios em contra luz. Serei injusto, eu sei, mas é um direito, esse é o Dylan que está nos 70, e é aquele e não outro, que estava na tela escura do Cinema Satélite. "Dont look back", looking back...

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Não somos contra o "sistema" ...



No mega acampamento da Plaza Mayor, assim uma réplica da "geração à rasca", uma tarja chamou a minha atenção, por ser a maior fonte de reflexão, algo que nos devia fazer pensar, mas para a qual ficamos sem resposta. Diz "Não somos contra o sistema, o sistema é que é contra nós!"


E é verdade. O "sistema" que criámos, ou a forma como o aplicamos, é contra os mais jovens, que têm dificuldade em sair da precariedade, pois baseia-se na minimização do risco, despreza a experiência dos mais idosos (e cada vez é menor a idade para se entrar nessa faixa), é contra a participação dos cidadãos na vida política, pois qualquer pessoa nova que entre num partido é um risco para os que estão dentro, e fora dos partidos a participação faz-se em causas, mas o impacto na governação é pequeno, é contra a livre escolha, apesar da defender na teoria, pois tudo transforma em mercadoria, até a política, a educação, a saúde, enfim, endeusa os "mercados", como se a sua actividade fosse clara, transparente e com regras iguais para todos.


É o "sistema" que tritura muita gente na sua fúria de eficácia e eficiência aparente, pois só o que se mede existe, ou só aquilo que se quer medir. Mas há muito mais para além disso.

domingo, 22 de maio de 2011

Eu e as minhas dores ...

Parece a história de um velho que vive para a sua doença. Parece mas não é ! Para as dores tenho de utilizar a expressão popularizada pelo comendador Berardo , "Fuck them".
A sorte de se viver numa vila de província, por enquanto, ainda é ter médico de família, centro de saúde aberto ao domingo, onde nos recebem bem, reconhecerem-me a voz e o nome quando telefono, por quanto tempo será assim ? Claro, viver a cerca de quinhentos metros do local também ajuda...
Hoje tive de me deslocar lá para procurar alguma ajuda para o que me está a atrasar a recuperação. Como sempre quem ali procura, com paciência e boa educação, encontra. Não é nenhum local modelo, daqueles inaugurados com pompa e circunstância, de modo algum, mas mostra que dedicação e boa vontade, fazem a diferença.
Já sei que vai ter de haver esforço, paciência e contenção da minha parte, suportar a dor não é fácil, mas suportar a falta de esperança ainda é pior, e nessa não vou entrar. Vale a expressão do comendador...

Pare, escute e olhe



O documentário de Jorge Pelicano, "Pare, escute e olhe", acerca da triste história da Linha do Tua, foi distinguido com o Prémio Cittá de Bolzano. Passou na SIC Notícias há umas semanas e felizmente gravei. Vi ontem. De uma beleza invulgar, e bem claro acerca da visão que os nossos governantes têm do interior, para além da razão do betão.



Quando se fala tanto de crise, podemos ali ver estampada a imagem da crise, que afinal, fruto de políticas erradas, já estava instalada de pedra e cal por ali há muitos anos. Abandono, agricultura de subsistência, pobreza. Os espanhóis investiram nas linhas de via reduzida, transformando-as num enorme sucesso turistico, sustentável e gerador de riqueza para essas regiões, além de fixar populações, nós encerramos, abandonamos, deitamos betão para cima e escondemos aquilo que temos de melhor, os recursos naturais, cedendo aos interesses da construção de obras públicas. Foi também assim que chegámos onde se vê !



Vá lá agora um jeitinho, aquilo não é só culpa do Sócrates, como se pode ver no próprio documentário. Há mais marias na terra...

sábado, 21 de maio de 2011

Quem ganhou o "debate" ?



Esta a pergunta que todos os comentadores, apresentadores de telejornais, jornalistas e outros "mestres" da comunicação fazem. Como se ganhar o debate fosse um indicador de ganhar as eleições.


Em primeiro lugar era preciso que tivesse sido um debate... Na realidade assistimos a uma troca de golpes estudados pelos assessores, que passaram a pente fino deslizes dos candidatos, e os serviram aos seus patrões numa bandeja para atiram ao adversário, de preferência, desprevenido. Assim como um Carnaval em que se atiram ovos ou tomates. As principais preocupações dos portugueses como sempre não foram respondidas. Como vamos crescer, recuperar emprego, pagar as dívidas, por ordem na casa do Estado, ser governados após 5 Junho, foram perguntas que o pobre moderador nem conseguiu que os candidatos ouvissem, quanto mais responderem.


Mesmo assim não fujo à pergunta, quem ganhou o "debate" ?


Penso que o Passos Coelho ganhou ! Porquê ?


1. Todos pensavam que ía ser esmagado pela artilharia preparada pelo Sócrates e claramente não foi.


2. Conseguiu centrar o "debate" na questão da responsabilidade do actual governo pela situação, e não na discussão das cascas de banana que lhe íam sendo atiradas para debaixo dos pés.


3. Não negou, antes explicou, coisas menos simpáticas do seu programa, aliás o Sócrates ajudou a mostrar que para o bem ou para o mal o Coelho tem um programa e ele próprio só uma vaga ideia, para além daquilo que o FMI impõe.


4. O nosso primeiro ministro puxou dos galões e quis ser participante, candidato, moderador, escolher as perguntas, dar as respostas, e opinar acerca das propostas dos outros sem mostrar as suas. As pessoas não gostam de tanto poder ! Neste ponto o Coelho nem precisou de fazer nada para mostrar que tipo de pessoa tinha em frente. E atenção que eu julgo que estas eleições serão muito centradas no perfil do candidato, e menos nas políticas e ainda menos nas ideologias (tirando o caso do PCP que vai receber os votos ideológicos do costume, para um candidato que é um campeão de simpatia ).


5. Foi eficaz na linguagem, evitando as provocações de que foi alvo, e soube atacar com palavras claras e sem aqueles "rodeios" do costume.


Veremos que consequências nas sondagens, premonitórias (ou não) dos resultados eleitorais. Agora as políticas já as sabemos, e esperamos sofrer, quem as vai executar (se é que vai) é que falta saber. Se a receita resulta, ou se a terapia vai matar o doente, como parece passar-se na Grécia, é que não sabemos. Agora se os políticos "experientes" nos conduziram aqui, e nós aqui chegámos também por nosso pé, melhor os inexperientes...

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A minha avó fumava cachimbo




Entretanto tenho estado a ler o livro "A minha avó fumava cachimbo", aliás já concluí a sua leitura. A autora, pseudónimo Luana Sul, é uma amiga de longa data, médica, oriunda de Angola, e cujo romance, edição de autor é já o segundo. O primeiro de título "Henriqueta branca e preta" não tive oportunidade de ler, por ter sido esgotado.




Trata-se de um livro que se lê com prazer, forte de afectuosidade, no meio do sofrimento de um país que tardou a encontrar o seu caminho. Memórias desde a infância da personagem Domingas, preta para os brancos, branca para os pretos, uma criança que tendo na avó preta, a sua referência, vive a felicidade de uma infância nos confins de Angola, alimentando o sonho da mãe Cesaltina, que quer que os filhos venham a ser alguém, longe daquele mundo rural, cheios de limites e barreiras, donde as pessoas não saem e se limitam a replicar as vidas como elas sempre foram.




No entanto a realidade dura da guerra, antes e sobretudo pós independência tudo vai mudar, a esse mundo de equilíbrios instáveis, onde brancos, pretos, mulatos, bem ou mal convivem conhecendo o seu espaço, e vivendo de um equilibrio que a qualquer momento se vai desmoronar.




Para quem conhece, e sobretudo para quem não conhece Angola, é o meu caso, uma pequena odisseia de Domingas, que nos é descrita com uma escrita segura e interessante.




Na foto pode ver-se a autora. Esperemos mais.

Ausência e arte de viver

Desde segunda que tenho estado ausente deste local de novidades, onde o meu umbigo dá notícias de si, e de outras coisitas ao mundo que para ele se deve estar borrifando e bem !

Mas os últimos dias têm tido uma carga de sofrimento físico que não têm permitida a cabeça funcionar, libertar-se de uma letargia, de uma carga que a impede de reflectir. As dores situm-se na região lombar, são intensas, quase incapacitantes, e não há técnica ou mesinha que seja eficaz, e de tudo se tem experientado, desde fisioterapia, a massagem, carradas de analgésicos, relaxantes, pensos quentes, sentado , de pé e deitado. Assim não há arte de viver que resista !

Ontem estive na "minha segunda casa", e de uma radiografia à coluna se conclui que por ali há gato. Parece que as vértebras, não terão gostado da cama prolongada, e da imobilidade e falta de massa muscular, e decidiram apertar-se umas contras as outras, entrando em esforço. e eu que as aguente...

Agora só ortopedista pode dar um palpite, e é o que tem de ser feito. Enquanto lá vou e não vou, mais uma intercorrência para me dar volta à cabeça.

Transplantado sofre... e não necessáriamente do seu novo coração, que vai batendo impávido e sereno, no meio destas pequenas tempestades com que Deus vai "testando" a minha esperança na recuperação. Até agora acho que tem sido "desafio superado" e vai continuar a ser, mesmo tendo de cerrar os dentes .... e apertar bem apertado.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Dominique, passaste-te ou quê ????





Mas o que é te deu, caro DSK. Agora que a "gente portuga" precisava tanto da tua assinatura naquele papelinho do resgate dos 78 mil milhões, é que tu decidiste pôr a assinatura na primeira empregada de hotel que apareceu pela frente, deixando-nos à beira de um ataque de nervos. E ainda por cima deste de frosques, assumindo uma culpa, que em calhando até era só mais uma armadilha do sr Sarkozy, que deve estar a comemorar com bom champanhe francês esta escorregadela, diria mesmo, este trambolhão.




Bolas, o pão do pobre quando cai é sempre com a manteiga virada para baixo...


Memória dos infernos



Portugal inicio dos anos 70, uma viagem entre Albufeira e a Praia das Maçãs, entre o presente e o passado, um psiquiatra, a filha dorme no banco de trás, muitas horas de viagem, e as memórias vão-se desenrolando, memórias de infernos revividas através das planícies e dos locais que atravessa. A memória, ainda presente, dos loucos do Hospital Miguel Bombarda, mas também dos seus "carcereiros" que os isolam da sociedade que os teme, das famílias que os rejeitam, dos experimentalismos que os tornam objectos de "investigação". Memória da guerra colonial, dos outros "loucos" enviados para o combate cujas razões mal conhecem, tal como os do Miguel Bombarda, afogados em cerveja, guardando os seus cadáveres na copa, junto com a manteiga, a farinha e as latas de conserva. Livro de uma grande dureza, linguagem que agride, como pedras atiradas aos vidros da "decência" oficial. "Conhecimento do Inferno" é o terceiro livro de Lobo Antunes, publicado em 1980. Lobo Antunes, penso ser o primeiro grande escritor do pós 25 de Abril, e mesmo para aqueles que deixaram de gostar da sua escrita nos seus últimos livros, (é o meu caso), este livro representa bem o seu universo, e é um livro que vale a pena ler e reler.

sábado, 14 de maio de 2011

Mais um dia de debate

Um Portas, mestre da arte do "soundbyte", a procurar cavalgar as trapalhadas em que a "explicação" do programa de Passos Coelho se está a tornar. O programa é claro, mas mal servido por uma comunicação errática e sem coerência. Passos Coelho fez o que pôde, e não se saiu mal, apesar de ter de lutar contra as "explicações", as "contradições" e as "interpretações" dadas nas entrevistas de Catroga. Faltou dizer a Portas que se o PSD não ganhar as eleições, e a fazer fé no já dito por Portas (será que é para fazer?), o PP não será governo, não sendo por isso indiferente votar num ou noutro, como quer Portas.
É a política, estúpido...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Um dia mau




Após um domingo simpático, passei ontem um dia péssimo. É dia sim dia não... As dores eram muitas e a mobilidade dificil. A disposição era de cão, o que se reflecte em tudo o resto, implicância, irritação, agressividade. Acontece um dia pior no meio de dias em que as coisas correm bem. Mais uma vez o processo de recuperação não é linear, os avanços e recuos acontecem. Era para mim imprevisível que o transplante tivesse tantas consequências, para além do problema cardíaco propriamente dito, que parece bem encaminhado. Agora os restantes problemas estão por dominar e não vejo bem como o serão no futuro, pois são de outras especialidades. A evolução é quase impercetível, as pernas e os pés nem dá para olhar... as dores lombares são insuportáveis, os diabetes descontrolam, a tombo-flebite não dominada, infecções bacterianas, etc, etc. Não vejo controlar tanta coisa ao mesmo tempo, em tempo útil. Para quando uma vida parecida com "vida" ?

domingo, 8 de maio de 2011

Regresso a uma certa "normalidade"

Hoje retomei as caminhadas na barragem e sinto o retomar das forças após o internamento. No final da tarde a lagoa era de um azul profundo, convidava a que a olhassemos, procurando imaginar aquilo que se esconde por baixo de um ondular ligeiro que a tornava opaca. Estava mais cheia do que há alguns dias, pois o escoadouro tinha água a transbordar.

Em contrapartida já se nota sinais de alguma secura nos campos. As flores já quase desapareceram por aqui, as estevas estão apenas verdes, sem flores, e as "pinturas" nos campos são menos nítidas.

Alguma "normalidade" retorna, embora tenha ainda muita coisa a recuperar até atingir a verdadeira autonomia. Penso, mas não sou capaz de fazer a maioria das coisas em que penso. Ainda há muitas barreiras a ultrapassar, mas, claro, já passei umas bem altas. É uma questão de tempo, e tempo no presente não me falta.

sábado, 7 de maio de 2011

Os empatas ...

Vimos agora que as sondagens para as próximas eleições começam a apontar para a figura do empate "técnico". Não sei se será diferente do empate não técnico.... sei que se trata agora dos empatados, começarem a sua estratégia de dramatização ! Isto é, cada um vai dizer que a solução é votarem em si, pois essa a melhor forma de evitar que o outro ganhe, como se isso não fosse óbvio, mas essa mensagem é destinada a pressionar o eleitorado ao voto útil, procurando travar o crescimento dos extremos. Verdade que com a sua habilidade para o marketing político, isto está a resultar mais com o PS do que com o PSD, mas é um novo passo para mais uma campanha baseada na chantagem e não no debate.

Daqui a pouco estamos a agitar todos os espantalhos, o da direita, o da esquerda, o do regresso ao fascismo, o do regresso ao PREC, o da bancarrota, o da perda de direitos, da perda do estado social, e outras perdas de coisas que já não temos.

Tudo se prepara para uma campanha de insultos, de chicana e de falta de elevação, para que as ovelhas tresmalhadas se concentrem debaixo dos guarda-chuva dos auto-proclamados vencedores antecipados, procurando fazer esquecer um passado de incompetência, ou de inexperiência (coisa que no caso vertente me parece preferível...)

Afinal o programa de governo já foi apresentado na passada quarta-feira, pela chamada troyca, e mais do que votar em partidos, teremos de olhar mais para as pessoas e a sua credibilidade ou falta dela. Esta é uma receita que temos de engolir, como eu engulo toda a medicação da folha terapêutica, por mais amarga que seja, e não me consta que mudar a cor dos medicamentos mude alguma coisa. Agora o que faz diferença é tomar tudo certinho, a horas certas, e nas dosagens certas. Assim o que afinal temos de escolher é alguém que nos garanta isso, pois os "experientes" mostraram que se enganam nas receitas e quem paga é o mexilhão...

sexta-feira, 6 de maio de 2011

De novo "home sweet home"

É verdade, ontem regressei, mas ainda vim a arrastar antibióticos para casa, e terei dos tomar mais sete dias, ao todo quinze dias de levofloxacina. Vinha um pouco crispado, depois daqueles dias, ao todo treze, de nova estadia. Passar os melhores feriados no hospital já se tornou um "bom hábito", pois evito andar no meio dos engarrafamentos de trânsito, mas tem outras desvantagens e outros riscos.

As bactérias minhas amigas não me largam, e aproveitam a minha imuno-insuficiência para dar largas à sua imaginação, e desde pintas no corpo, a manchas nas pernas, inchaços e borbulhagem, tudo inventam para tornar a minha vida mais colorida.

Esperemos que me dêm umas tréguas por agora.

Tirando isso tudo bem. Usufruo de novo da minha música, dos livros, da boa comida de casa e do apoio de quem se gosta e gosta de nós.

As brincadeiras das bactérias mandamos às ortigas.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O mesmo post em neo-socratês

Como se sabe ontem foi inaugurada uma nova forma de comunicar que eu chamaria de neo-socratês, que valoriza o que "não se vai fazer". Assim este post traduzido poderia ser assim:

Amanhã não estarei no Hospital de Marta, mas não vou para o Porto. Não estarei pior da bactéria que me atacou na perna, pelo que não se justifica continuar no Hospital. Posso garantir que de regresso a casa não irei de avião, como foi dito por alguns jornais, etc etc.

Parece tudo mais claro não parece ?

O caminho de regresso

Amanhã, a tudo se confirmar, terei alta e regressarei a casa. Claro que o caminho de regresso é o mesmo que me trouxe para aqui, e pode voltar a trazer mal seja necessário.

Já sinto necessidade de respirar outro ar. Treze dias de internamento para dar cabo de uma bactéria já me custa, embora não haja outro caminho.

Em casa vou ter de encontrar um precurso em que a doença não se torne no alfa e o ómega da nossa vida. Não é fácil, os homens são piegas e lidam mal com a doença e a dôr, mas eu já estou doutorado "honoris causa" nesta temática, e tenho cada vez ter mais claro para mim que nem tudo se resume a um corpo fragilizado e a uma alma perturbada pela sua própria incapacidade. Acho que já dei provas de capacidade para enfrentar com toda a força e usar "o animal que espeta os cornos no destino", nas palavras de Natália Correia.

De regresso ao Alentejo, já é um bom começo.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O conhecimento do inferno

Tendo terminado de ler o livro que trazia de casa, do João Tordo, pedi que me troxessem uma edição muito antiga do livro do Lobo Antunes, que tinha comprado em 3 de Maio de 1981, e ainda não tinha lido. Nas suas primeiras edições trata-se de um livro da editora Vega, desaparecida entretanto, com uma edição muito fraca, com erros ortográficos e feito sem edição electrónica, que não existia na época, mas que tem uma capa extraordinária que hei-de fotografar e colocar no blog quando regressar a casa, nada parecida com as edições de capas liofilizadas, todas iguais, como que inspiradas num missal.


O livro é "O conhecimento do inferno", e relata a experiência do nóvel psiquiatra, pelos corredores do Miguel Bombarda, junto dos doentes mentais ali enclausurados. É actual pois acaba de ser definitivamente desmantelado este hospital ou cadeia, não se sabe. Já agora para a minha médica de família, se ler este post, não estou a fazer comparações com situações actuais que esteja a viver, pois não mordo as canelas de ninguém (só eventualmente canelas virtuais), nem aqui há psiquiatras que aprendem com os loucos (o que não lhes ficava nada mal...)


Aqui os cardiologistas aprendem com os nossos corações, que são orgãos bem mais racionais que os nossos cérebros. Ou não será ?


No entanto tenho de reconhecer que embora não tenha conhecido o inferno, estive algumas vezes lá à porta para comprar bilhete. Felizmente estava a lotação esgotada.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Não dói ...

Entre alguns dos meus sintomas dos últimos dias tem sido uma pressão, por vezes dôr ligeira, no peito, lateralmente. Escusado será dizer que me preocupa, apesar de poder não ter qualquer relevância. Hoje ao comentar com o meu médico, descobri algo de novo, pois ele disse-me com a maior convicção "Coração não é de certeza !!!" e meio confuso perguntei "Mas porquê doutor?" e ele respondeu-me "O coração transplantado não dói !!!"

Afinal era algo que desconhecia, esta ausência de dôr, que no fundo não me deixa muito descansado, pois dôr significa alarme, e isso é preventivo face ao risco.

Mas também não me admira que não doa, pois como pode doer um orgão que afinal não estará ligado aos centros nervosos. De certa forma melhor para mim.

Será que também há colunas vertebrais que não doem, pois se houvesse "comprava" uma.

domingo, 1 de maio de 2011

Ausências

Como já se deve ter entendido, deixei esta semana em branco, pois regressei à minha segunda casa, isto é, estou de novo internado em S.Marta desda sábado 23. Agora uma bactéria bastante furiosa atacou-me a perna direita, e deixou-a com algum mau aspecto incluso duas pequenas feridas e muita vermelhidão.

Tive, por precaução, de vir fazer um tratamento de antibióticos, antecedido de hemocultura para ver qual o ilustre agente patológico. Parece que as coisas já estão a melhorar, mas de mais uns dias por aqui não me safo. Entretanto hoje descobri que este fóssil computacional, que está no refeitório da enfermaria funciona, e acede à internet. Boa !!!

Estou sozinho na enfermaria do costume, dos transplantados, o que me livra dos viciados da TVI, repetidores de histórias iguais, egocêntricos, ressonadores, visitas furibundas, intrometidos, e outros espécimes hospitalares, mas também me impede qualquer conversa.

Vou lendo e escrevendo, ouvindo música, vendo a SIC Notícias, mas muito também repete demais, mas como tenho muitas dores lombares, a posição de leitura nem sempre é fácil, no sofá.

Agora que descobri este computador, enquanto funcionar vou vir aqui deixar posts, pois já estava há muito sem dar novas, não que o mundo não possa passar sem elas...

Entretanto acabei de ler "O Bom Inverno", romance de João Tordo, vencedor do último Prémio José Saramago. Não muito normal na nossa literatura, um thriller, com muito suspense, muito bem escrito passado com um grupo acusado de um crime, acossado por um homem que quer fazer justiça pelas suas mãos, e onde se procuram e questionam as razões que cada um tem para viver, as suas pulsões, o que os conduziu ao beco sem saída. Trata-se de um bom enredo, apesar de tudo não muito original, dado já conhecer alguns romances cuja base estrutural da narrativa é a mesma. Claro que o tratamento da história aqui envereda pela luta pela sobrevivência, e pelo papel de uma personagem principal, que procura conduzir uma negociação impossível, pois à partida todos estão condenados. Interessante e uma literatura muito clara e limpa, e rara entre os nossos escritores.