domingo, 30 de janeiro de 2011

Finalmente domingo e sol

Aqueles que me acompanham lembram-se dos meus posts relativos aos domingos.

Vidro forrados de película aderente, pouco pessoal, fechos das janelas retirados, supostamente para impedir suicídios ( é verdade num hospital de cardiologia em que muitos pacientes não dão um passo, ou se dão querem sair pela porta), espelhos retirados, suspeito que pelas mesmas razões depressivas de algumas cabeças, os domingos eram uma chatice. A chuva conhecia-se pelo bater nos vidros, o sol por uma luminosidade ligeiramente translúcida.

Assim este domingo alentejano, embora frio mas com sol, está a carregar as baterias pois há muito não o via com os olhos com que os vejo hoje, nem com olhos nenhuns.

De resto a boa sensação de um coração que funciona, que tem um bater tão suave que mal se nota é uma grande segurança, nem requer habituação e comanda sem eu dar por nada.

Bom domingo de sol!!!

sábado, 29 de janeiro de 2011

Caminha-se caminhando


O dia 2 nesta "nova casa" começa a dar sinais de recuperação para o seu excelso ocupante, um "nababo", a quem tudo servem, a um simples sinal. Tem direito a ajuda no banho, comida a tempo e horas, afectos, e passa o resto do tempo de "patas para o ar", a ver se as suas distintas pernas cedem o peso que tem de carregar.


E têm cedido, apesar de algumas dores de costas, e dos ausentes músculos das nádegas, que "partiram de férias para o Egipto" (boa escolha), e que me deixam sentado em cima de ossos!


De facto um homem é animal de hábitos, e felizmente aprende depressa. Pouco a pouco regresso a uma nova mobilidade, em que fazer as coisas "de outra maneira" se "entranha", enquanto não se pode fazer da maneira normal. Adoptam-se estratégias defensivas, outras preguiçosas, todas tendo em comum a ideia de que no passo a cabeça deve avançar antes dos pés, senão pode dar espalhanço. Afinal não é assim que deveríamos fazer na vida todos os dias ?


Tenho aproveitado para "arrumar coisas" nas prateleiras, até onde chega, ficheiros no computador (um pouco mais leves) e ideias na "tola", que é o mais leve de tudo, mas que são dificeis de arrumar por obrigarem a uns "encaixes" especiais... De noite não durmo bem, acordo a meio da noite, e no escritório dedico uma hora a pôr em dia o diário escrito que alimento, com todos os factos do dia, em termos de sintomas e dificuldades ou progressos, e por vezes, faço aí a arrumação de ideias para depois fazer o seu download para os neurónios afectados por meses de atrofio mental.


Que mais posso pedir a um coração que "contratei" à um mês e ainda nem sequer completou o "período experimental" ?

"Livro" de José Luis Peixoto

Terminei a leitura de "Livro" de José Luis Peixoto. Apenas gostaria de dar aqui alguns comentários da minha leitura, na quase totalidade feita no hospital. Trata-se de uma história feita de detalhes do velho Portugal pardacento e miserável dos anos 40 aos finais dos anos 60, da vida numa aldeia e da aprendizagem de um grupo de crianças, que desde cedo, e da pior forma tomam contacto com os meandros e as "aventuras" quase sempre dramáticas da emigração, por razões económicas ou outras.


A leitura desta parte do livro é para ler devagar, ir acompanhando a aprendizagem de vida de grupo de crianças, que vivem o pão que o diabo amassou, mas para quem o contacto com a terra, com os animais, com a vida pobre de uma pobre vila, onde quase ninguém obtem o mínimo para sobreviver, a sobreserviência aos poderes que os ignoram, são a sua escola, a escola da vida. A escrita destas página é de uma riqueza de linguagem, de uma simplicidade e de uma beleza que arrepia. (pode haver beleza, na miséria ?)


O livro, fala-nos também da vida nos "bidonville", com traços fortes, sem falsos moralismos ou lamechas, do encontro e desencontro das pessoas, das decisões que tomam, onde o afecto e o sentido de sobrevivência convivem lado a lado. Onde os encontros, mesmo os que são supostos "para a vida", duram de facto uma vida de pesadelo.



O "Livro" termina na actualidade e na perda da identidade, dos que são quase apátridas, de valores misturados e sem direcção definida. Afinal já tão longe do grupo de meninos que vivia sem pais dentro de uma capoeira de pombos, e do dia, em 1948, em que "A mãe pousou o livro nas mãos do filho", e partiu.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Welcome home !


Estou em casa. Após a viagem de ontem e as emoções de um caminho feito atravessando o Alentejo, que neste momento se encontra verde, aquele verde fresco de erva acabada de nascer, acho que foi boa opção ter feito o regresso numa carrinha de transporte dos bombeiros.

A chegada a casa, o sentar-me no sofá, recordou-me aquilo de que estava desligado há tanto tempo. Havia já algumas coisas alteradas, mas como manter tudo na mesma durante tanto tempo. Passado pouco tempo, a minha médica de família e o enfermeiro de Centro de Saúde chegaram, ele fez-me um penso e ela inteirou-se da situação (isto é o SNS no seu melhor, ou sorte?) Um jantar, como já não comia esperava, embora com os mesmos ingredientes daquelas coisas insípidas que comia no Hospital. A casa é sempre a nossa casa, e é aí que nos sentimos bem e é onde se se encontram os nossos sentimentos, afectos, objectos, coisas que nos fazem bem e fazem de nós aquilo que somos. Esta a parte boa!

Depois os senão !!! A sensação de peixe fora de água, pois agora embora com a ajuda da Maria Augusta, vejo as barreiras a ultrapassar, o estar dependente, agora de um familiar, mas dependência na mesma, que significa, não ser capaz, carregar no outro o que deveria ser eu a fazer. Aquelas tarefas que eram minhas. Devido ao edema, as pernas puxam para baixo, e o peso a carregar é maior, o que dificulta tudo.

Hoje de manhã, tudo já parecia diferente. Acordar de forma serena em casa dá força. Havia então uma barreira a passar, tomar banho; sim coisas simples, mas como entrar com aqueles pés inchados, numa banheira normal, ter de tomar banho sentado, e voltar a sair sem escorregar de uma base molhada sem ter como me segurar que não seja uma mão, também muito fragilizada. Parecia tarefa dificil e perigosa, como passar um abismo numa ponte de tábuas. Afinal tudo correu bem e se passei hoje esta dificuldade amanhã será melhor.

E um pequeno almoço em que comi uma quininha de pão alentejano acabado de comprar? Apetecia mais mas tenho de recordar os meus limites. O restante do dia passei-o arrumando algumas coisas necessárias e montando uma enorme mesa de medicação para poder organizar a sua preparação, É dose, mas é aqui que tem de ser feito, pois durante algum tempo vou-me manter por casa, pois todas as saídas podem ser um risco, pelo menos com o frio que este Alentejo oferece nesta época.

Acredito que a adptação será rápida, e adquirida uma maior mobilidade e com estratégias que coloquem tudo mais perto e acessível com menos esforço, e claro "with a little help from my friends"vai ser possível.
PS: este post foi demasiado egocêntrico, mas poderia ser de outra forma ?

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Ultimo correio de S.Marta


Este meu companheiro pequenino computador Fujitsu vai hoje regressar às mãos da sua dona, pois tudo vai ser arrumado para que parta amanhã. Assim acabaram-se os posts colocados aqui no hospital, e vou passar a escrever a partir de casa.

Esta maquininha foi preciosa, ocupou um pouco dos meus dias, deu informação a quem a procurou aqui, e manteve um canal muito especial com o exterior diferente daquele que é dado noutros meios, e dado que não lia jornais pois a vista ainda não me permitiu, essa ligação era a rádio, que prefiro para mim, por me falar de auricular ao cérebro quase directamente. A televisão afastou-me mais, pois durante um tempo tinha dificuldade de acompanhar som e imagem em simultâneo, e vendo bem, tirando a SIC Notícias, é vira o disco...


Passei de 21 a 29 de Setembro, no hospital de Beja, e de 29 de Setembro até hoje em S. Marta. Percorri um caminho com várias fases, e para todas estabeleci metas, mentalmente, e embora só em pequena parte dependesse de mim, todas foram alcançadas; foi uma dádiva, que não posso jamais esquecer.


A 22 de Setembro foi o "anuncio" de que iria para transplante, embora já há algum tempo estivesse-me a preparar, aceite em S.Marta. Esse dia classifiquei-o de o "mais longo da vida", pois antevi a dimensão do percurso, e a minha fragilidade frente a essa montanha.


A 27 de Outubro foi a "tomada de decisão", pois apesar de aceite, foi necessário verificar através de uma bateria de exames, em que me viraram do avesso, e fizeram o necessário, e retiraram quase metade do sangue das veias, que eu reunia as condições para o fazer.


A partir daí foi a "espera". O mais desesperante de tudo, e o aspecto onde a cabeça e esta maquininha mais me ajudou. Um dia animado, outro caindo mais, mas jamais deixei de ter uma rotina diária de coisas a fazer para me ocupar e não deixar a cabeça fugir para a almofada, para a insónia, para o abandono. Escrevi diário, coloquei posts, procurei ler como podia, e muitas vezes não podia, reduzi visitas a 3 pessoas, pois as visitas acabavam por incomodar. Aprendi a pedir pouco, só mais uma manhã.


Até que existiu essa manhã. Foi a fase da "concretização", que surgiu assim, vinda não sei donde com naturalidade. Relembro a tarde desse dia 26 de Dezembro, com angústia, pois quando me foi anunciada a "vaga hipótese", era vaga, pois a compatibilidade não fora ainda testada. Deitei-me e passei toda a tarde numa espera de ansiedade, de pânico, de medo, misturados. Até que se seguiu a "confirmação". Relembro todo o pessoal da Unidade a desejar-me sorte e a torcer por mim. Até a copeira da ICA, a Dona Ana, me veio dar um toque na cabeça para me encorajar.


Seguiu-se a "recuperação" em duas fases bem diferentes. No isolamento, em que tudo me aparecia à frente, dado por pessoas mascaradas de "zombies", mas em que as máquinas me manietavam, e só desejava ser solto. No quarto de enfermaria, em que os primeiros dias de autonomia me custaram os olhos da cara. Mas, adoptando algumas estratégias, fui ultrapassando as dificuldades, permanecendo apenas algum resto, ainda importante de edema nos pés.


E agora entro em nova fase. Aquela que tenho aqui falado nos últimos dias, e que simultâneamente desejo e me assusta, pelas novas barreiras. Mas já ultrapassei tantas, que não será a minha propria casa que me vai vencer.


Tenho consciência que tive uma segunda oportunidade de vida, com este coração, de alguém que morreu e que acabou salvando uma vida onde duas se perderiam. Não sei a quem agradecer, mas lembro-me que sera alguém amado, chorado, que tinha a sua vida normal e caiu para o lado errado na hora errada. Não posso agradecer, mas a gratidão mora aqui em abstracto sem destinatário directo, posso virar-me para Deus afinal.


Não há mais oportunidades e terei de tratar muito bem do coração que me deram, esta talvez seja uma forma de agradecer a quem generosamente, não interditou a retirada dos seus orgãos, e tornou isto possível.


Para todos obrigado e até amanhã em casa !!!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Ponto de impacto

O ver chegar ao fim este "cativeiro", está a gerar um impacto que desconhecia. Agora surgem as dúvidas. Esta noite praticamente não dormi, cada vez que me surgia uma dúvida levantava-me e ía tomar nota para perguntar ao médico, hoje durante o dia. Listei 20 e tal perguntas, desde o uso de máscaras, a saber se posso beber café com leite, ou se ele pensa que no próximo Verão já posso comer sardinhas assadas.

Sinto-me tremer por dentro (um dos medicamentos provoca esse efeito), sinto o estômago como se tivesse levado um grande murro. Começo a perceber aqueles que quando soltos, não sabem que sentido tomar.prisioneiros

Fiz listas de coisas que me podem faltar em casa, lista de material da farmácia, lista para o supermercado, de coisas que não é habitual ter em casa, lista de material a trazer, e a tal lista de perguntas para o meu médico, que respondeu a todas, como seu hábito, com um sim ou um não !

Parece que a minha cabeça antevê coisas, que talvez nem ocorram, até porque que as minhas listas partem do princípio de que irei para casa replicar esta vida de hospital, que vivo há quatro meses, o que não será seguramente o caso.

À medida que as horas passam, a ansiedade aumenta, e as certezas seguidas de incertezas não cessam de aumentar. Acabei o dia lendo um pouco, o que me acalmou; aliás acabei de terminar a leitura do "Livro" do José Luis Peixoto. Hei-de falar dele aqui, mas mais tarde.

As crónicas hospitalares estão a acabar, e passarão a ser outras crónicas, outras impressões, outras vivências.

Que momento tão estranho na minha vida !

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Mais uma grande notícia


Após as dúvidas, os sei lá, os "não há previsões", os "depende, o meu médico hoje disse preto no branco: "Engenheiro (é a única pessoa que aqui me trata assim, mas sinto que é um tratatamento de proximidade), na próxima quinta feira depois do almoço vai para casa". Nem queria acreditar !!!! após tantos meses, ansiedades, medos, pânicos, esperanças, desânimos, vontade de encontrar o botão on/off (sim também me aconteceu, uma vez ou outra, a vontade de encontrar esse botão que Deus, felizmente não nos deu, para fazer off ), ía agora para casa, com o meu novo coração, para bater e estimar.

"Muitos serão os chamados, poucos serão os escolhidos", aplicou-se a mim, fiquei nos escolhidos. Bom que se saiba que 50% dos doentes de insuficiência cardíaca morre em 4 anos, e são cerca de 15 milhões só na Europa. Porquê eu escolhido para uma oportunidade destas? Se calhar não interessa, não há que questionar, se aqui cheguei é porque Deus ainda tem planos para mim.


Agora começa a preparação de saída e o início da nova vida em casa, onde estou certo me sentirei de início "um peixe fora de água", mas creio que a casa, a Maria Augusta, o estar no meio das minhas coisas, da minha comida, do ar do Alentejo, que já não consigo recuperar na memória, as árvores que já mudaram de cor e de tamanho, e também o acompanhamento, mesmo à distância dos amigos, pois grandes visitas, nesta fase inicial são desaconselhadas, devido a contaminações, mas mesmo saber que me lêem, sem outro interesse que não seja saber de mim, pois que outro interesse tem este blog, saber disso tudo enche-me de "combustível" e puxa por mim, aquilo de que necessito, pois a minha capacidade de coordenação esta um pouco afectada, e a minha cabeça necessita de desafios.

Quero continuar a dar e a saber notícias, e a contar com todos os que me acompanharam!

domingo, 23 de janeiro de 2011

Domingo de todas as rotinas

As rotinas dos meus movimentos matinais cumpriram-se, "arrastando" as minhas pernas pesadas para o cubículo a que chamam "puliban".

As rotinas da preparação de cerca de 12 medicamentos diferentes, dos quais um deles precisa quase de um laboratório para ser preparado, e a rotina de os tomar segundo uma "ordem do dia" escrita numa "instrução de trabalho", como se diz na indústria, também foram cumpridas.

A rotina das refeições tomadas a horas que nos indicam, e jamais são as mesmas.

A rotina de dizer que os portugueses começaram a votar às 8h00, no noticiário das 8h00, manteve-se.

A rotina de fazer os "meus corredores" manteve-se, e de os intercalar com uma passagem no "centro espiritual", uma salinha ao fundo do corredor onde descanso as pernas foi igual.

A rotina de transmitir os boicotes em Enxara do Bispo, Abrançalha, e outros locais de nomes excelente e requerem o cemitério, a morgue ou uma farmácia, não ficou de lado.

A rotina de pedir comentários a candidatos presidenciais que por lei, nada podem dizer, manteve-se igual.

A rotina de dormir a minha sesta, esta boa rotina, não deixei passar.

A rotina do voto manteve-se, mas, meu Deus, será que esta gente não se lembra do tempo em que o voto era farsante ? Se não sabe leia, há muitos livros sobre o tema...

A rotina de no final do dia dar projecções eleitorais e depois fazer arrastar os telejornais com comentários, comentadores e detalhes que são chaaaaaaaaatos.

O resultado eleitoral foi mais uma rotina do dia, foi o já dito, o já sabido, o já percebido por todos, apresentado como novidade.

Enfim, várias rotinas, e uma coisa que hoje não foi rotina. O meu pai completaria hoje 89 anos, se ainda fosse vivo, e o que me deixou não foi rotina. Bem haja. Que saudade.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Alegria e pânico


Reconheço que o meu post de ontem não reflecte, nem de perto nem de longe, o meu estado de alma perante a notícia da minha eminente saída deste quarto. O meu estado de espírito se ficou alegre e livre perante tal notícia, também teve outras "nuances" de insegurança. Faz lembrar aquelas aves que passaram algum tempo em cativeiro, e ao serem devolvidas à natureza, parecem ficar sem norte, sem saber o que fazer com a liberdade que lhes está a ser oferecida, e da qual já nada as faz recordar.


Claro, são soltas e em vez de voarem, saltam para pousar no primeiro lugar seguro que lhes apareça, e só depois, pouco a pouco, se encorajam, para lançar o voo mais alto. O mesmo tipo de reacção se passou comigo ontem. Revi mentalmente esse primeiro salto, e a força de que que necessito para lançar o voo.


Ainda não falei com ninguém do Hospital acerca das minhas dúvidas para os próximos meses. Estilo de vida, comportamentos mais adequados, como resolver situações mais concretas, saídas, visitas, a relação com os outros. Se calhar estou a complicar e tudo acabará por decorrer dentro da normalidade recomendada pelo bom senso. Espero que sim, pois uma nova oportunidade me foi dada, que foi dada a poucos, e Deus deu-ma, e tenho de cuidar muito bem dela.


É um bem muito precioso !!!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Preguiça

Ontem deu-me a preguiça e não coloquei o post diário. Esta é má conselheira, mas dado que muitas vezes tenho dificuldade em gerir a minha ocupação, pois sou gerido por outros, desculpo-me aqui a mim mesmo e penitencio-me perante os amigos que têm a gentileza de vir aqui ler notícias deste estimável imuno-suprimido, brincamos claro...

Noto melhorias de dia para dia, ou então é o meu desejo de melhorar a mexer. Uma coisa é certa, o meu médico, que como já disse é parco em previsões, e ainda bem para não alimentar ilusões, hoje disse-me preto no branco que devo, durante a próxima semana, ir para casa, a manter-se a situação, embora sem referir dia concreto.

Fiquei no sétimo céu, embora saiba que será uma nova adaptação, uma nova realidade. A casa a que regresso não será a mesma donde saí a 21 de Setembro, tem novas barreiras, novas dificuldades, a minha própria cabeça está diferente, e requer que eu a reconstrua na minha cabeça, pois o meu ritmo e debilidades serão outras nos próximos meses, e quero recuperar a minha autonomia e cortar com tantos meses de falta dela.

Que bela notícia tive eu hoje. Graças a Deus parece que um novo pedido meu será concedido.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Retorno

Hoje pela primeira vez saí deste 3º piso, e logo para ir ao 2º, lugar que tanto desejei abandonar. Fui fazer um exame, mas fui a pé e passei junto da Unidade onde estive trê meses. Não resisti, pedi ao médico que me fez o exame e deixou-me lá. Bati e entrei. A recepção do pessoal foi de uma grande cordialidade. Alguns pensavam que já estaria em casa pois tinham-se questionado, e claro, com o ritmo de trabalho diabólico que ali se vive, não dá sequer para me virem visitar ao meu quarto.

Vi com "saudade" a minha anterior cama. Estava vazia, junto a um canto, e a uns arrumos, recordei os momentos lá passados, aqueles 15 dias de infecção e febre que quase me "arrumaram", mas vi também a esperança que ali alimentei, a força de resistir que ali criei, e espero manter, vi a fragilidade a que um homem pode chegar, pensando sempre que não pode ir mais abaixo, que é o fundo, mas afinal ainda existem uns milímetros onde colocar a cabeça abaixo do fundo.

Relembrei que no meio daquela cama e daquele cadeirão passei também "dias felizes", em que li, escrevi, coloquei posts, tive visitas da família que me encorajaram e deram toda a força do mundo, sobretudo nos momentos em que é dificil conter elas próprias o seu desânimo, mas tudo fazem para o esconder.

Revi aquela equipa de pessoal, médicos, enfermeiros, auxiliares, que tanto me deram, para. me manter vivo, e isto não é figura de estilo, mas actos bem concretos.

Só me vem à cabeça uma frase que hoje li, faz parte do Sermão da Montanha: "Porque, aquele que pede, recebe; e o que busca encontra; e ao que bate se abre." (Mt 8:8)

PS: constatei que na cama ao lado, já se encontra um novo candidato a transplante, olhei nos olhos dele e vi-me reflectido.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Neuras


Ontem falhei aqui pois foi um dia de neuras.

Aqui neste local de pousio ando a mando de todas as autoridades, a vontade própria fica abalada, cumprimos os horários que os outros nos determinam, acordamos quando entram porta adentro, o almoço tanto pode vir ao meio dia e meio, como às duas da tarde, vamos a exames quando nos arrastam, seja a que horas for. Tantos meses neste regime que o poeta O'Neil (saudades...) chamou de "voluntariato compulsivo", isto é, tudo isto é feito "porque nós queremos que seja feito assim".

Percebo agora porque diz o povo "Mal por mal antes na prisão que no hospital". Só que na prisão não se fazem transplantes cardíacos, pequeno detalhe.

Mas há um momento em que uma revolta interior vem, em que não se suporta a pressão de não respeitarem o nosso tempo, a nossa pressão, até o nosso cansaço. E aí tudo mexe dentro de nós, ontem cheguei a tal estado de stress, dado o abuso, tremia por dentro. Além disso ser seguido a uma noite muito mal dormida. A cabeça não estava para posts, nem para nada, só mesmo para a almofada, muito antes da hora normal.

Deixemos isso, tem dias.

Hoje novo dia, sinto algumas melhorias no humor e no resto, e parti para novo dia. E tive logo uma surpresa, enquanto de manhã tentava dar os meus passos sozinho no corredor, ainda meio trôpego, aquilo a que chamo "fazer corredores", espreitei ali da janela do refeitório, onde não vou normalmente, e eis que vejo o sol aberto em todo o seu esplendor. Juro, não via sol assim, nem de maneira alguma dese 29 de Setembro de 2010, dia em que entrei aqui, pois como já aqui disso todas as janelas são forradas com película. Não sei se é para não ver se é para não ser visto!
PS: a imagem dá uma ideia do local onde "faço corredores" embora em versão mais moderna, pois aqui tudo é velho. Comparar com a luz do sol vivo para sentir a diferença.

domingo, 16 de janeiro de 2011

A saga das presidenciais


Tenho muito tempo aqui e tenho acompanhado esta campanha. Fui o único português a ver todos os debates...

Entra a chamada "campanha" na recta final. Uma coisa sei de ciência certa, e é a única previsão que eu posso fazer, não vou votar no domingo. Falta-me o dom da ubiquidade. Mas posso fazer outras conjecturas, isto para não se dizer que só falo de hospitais.


Os candidatos são para todos gostos. O que não responde a perguntas e deixa entender que são os outros que fazem a política. Um poeta que vota contra si mesmo. Um leitor da cartilha maternal que vem das culturas de protozoários de século passado e das amplas liberdades. Um homem bom e solidário que está fora da "sua praia". Um megalómano e para fechar o leque um "clown". Estamos bem servidos e dado que estamos à beira do abismo, prontos para dar um passo em frente.


Quantos aos apoiantes, temos três candidaturas em que estes se deslocam nos autocarros do município, aproveitando para conhecer o país, um em que estes vão pelos seus meios, um que se desloca com os seus três apoiantes de comboio. Finalmente um que se desloca de táxi e de carro funerário conforme disponibilidade, com o chauffer dos ditos meios de transporte, que devem ser o seus únicos apoiantes.


Vejo candidatos que se enganaram na eleição a que estão a concorrer.


Finalmente sei qual é o candidato que o Eng. Sócrates gostaria que fosse eleito ( mas não digo), e sei ainda, apesar de tudo, como eu iria votar, se fosse. Mas não vou. Tenho pena pois serão as primeiras eleições em que não voto.


Daqui estamos servidos e o país lá segue na "volta à parvónia".

sábado, 15 de janeiro de 2011

Tem dias assim

Não se pense que tudo na vida é uma linha recta. Não é. Temos muitas curvas, avanços, recuos, dúvidas, tonalidades de humor.
Hoje foi para mim um desses dias, em que senti não um recuo, mas algumas dúvidas (relativas, claro). Desde logo, os fins de semana nos hospitais, pelo menos para quem não está numa enfermaria aberta, estas transformadas em feiras, podem tornar-se monótonos e tristonhos. Menos acompanhamento por parte de médicos, enfermeiros e auxiliares em mínimos. Hoje apenas tinhamos por aqui um auxiliar para acompanhar qualquer coisa como 25 doentes. Mas vamos em frente.
Já referi aqui que talvez o problema que me mais me preocupa é o edema das pernas. Regrediu do joelho para cima (coxas), mas está difícil de regredir abaixo do joelho e pés. Sucede que em operação anterior fiquei com uma sotura na perna direita, retirada a veia safena. De ontem para cá a pressão sobre essa sotura deu em alguma saída de líquido através dela, com alguns pontos a ficarem um pouco afectados. Fiquei em pânico. Claro que foi colocado um penso na perna, para reter essa linfa, mas imaginei logo, como irão resolver tal problema. Claro que terá solução mas vi logo ali, a infecção, a gangrena, o corte de parte da perna... Que exagero, que cabeça mais absurda. Mas a escala de valores de análise aqui sob pressão, pode tornar uma formiga num elefante, e estragar um dia de sábado em que a cabeça parece mais vazia, diria oca, e o dia custa a passar.
Tem dias assim, curvos, com rugas e ásperos, e em certos momentos deixamo-nos embeber por eles. Desculpem a meu egocentrismo, mas estou enjaulado há muito tempo e a "solidão absoluta é infértil".
Continuo a ler "Livro" de J.L.Peixoto, donde aliás retirei a frase que cito. Um livro maravilhoso para se ler muito devagar. Mais tarde falarei dele.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Os dois transplantes


Conversando com a psicóloga do hospital, ela esteve projectando um pouco dos primeiros momentos de adaptação em casa, sim já me cheira a casa.

A longa estadia aqui no hospital, o processo de espera traumática por que passei e o transplante propriamente dito, para além dos aspectos físicos apresenta outros. Não de mudança de personalidade, naturalmente, mas muitas vezes de visualização da vida e dos seus valores de uma forma um pouco mais adaptada à realidade que se viveu, e que se vai viver nos próximos meses em casa, que só serão tendencialmente normalizados com a passagem do tempo, e a integração numa vida como era dantes. Demora o seu tempo.

Era como se o transplante físico fosse acompanhado de outro, do foro psicológico, que pode nas diversas pessoas submetidas a estas operações melindrosas, ter várias características.

Falou-me de vários exemplos, incluindo pessoas que rejeitam a sua nova vida, mas um dos aspectos que referiu é por exemplo "a necessidade de agradecer".

Agradecer às pessoas que nos acompanharam, mas sobretudo agradecer a "alguém" que não sabemos quem é, mas para nós que entendemos que passámos por um processo com uma grande lógica, nos parece estar em dívida. Daí uma aproximação de uma espiritualidade nova, ou a recuperação de uma perdida, mas que faz parte da reconstrução da nossa parte mental, e essa parte também tem de ser resolvida dentro da cabeça.

Já tinha pensado nisso aos longos destes meses quando sentia necessidade de agradecer o nascer do sol do dia seguinte, e essa dádiva me era concedida. Veremos como tal se resolve dentro da cabeça.

PS: penso que dia após dia as coisas vão melhorando, a autonomia é cada vez maior, sinto um cheirinho ao Alentejo e ao Algarve.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Um ECG simpático

Durante algum tempo em que estive em espera neste processo, cerca de 3 meses, várias dúvidas se me colocavam. Vou aqui referir uma em particular que assolava o meu espírito. Dado que vou receber coração de outra pessoa, e o tempo entre recolha do dador e transplante é de 2 ou 3 horas, como podem garantir a qualidade do orgão que vão colocar? Como garantem que se trata de alguém sem antecedentes cardíacos, ou outros, ainda por cima alguém que acabou de falecer, que pode ter sido vítima de um acidente de viação (penso que serão a maioria dos dadores), e é um desconhecido? Será que são capazes de testar um orgão já fora do corpo?
Mistério, para mim, mas mais um receio.
Por isso quando após o transplante foi feito o primeiro ECG (electrcardiograma) respirei de alívio. Pois pelo sorriso do médico vi que acertaram. O coração tinha um bom desempenho e afinal algo tinha garantido a sua correcta escolha.
Hoje voltei a repetir um novo ECG, e a minha função cardíaca, que nos meus velhos tempos de coração carroça, não passava de 24%, agora é de 70%, aquilo que possui qualquer adulto saudável com uns anitos. Esta é a função que grosso modo mede a capacidade de bombear por parte do ventrículo e faz a diferença entre meu antigo Fiat Uno com 25 anos, e um Renault Megane acabado de sair do stand. Sorte ou ciência, mas vejo mais ciência que sorte.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Mobilidade


Segundo percebo um dos factores mais importantes da minha recuperação é a obtenção da mobilidade, que ele própria vai induzindo melhoria geral. Na realidade tenho sentido uma maior confiança de movimentos, aqui dentro do quarto, ou nos corredores, quando do passeio, apoiado pelo fisioterapeuta. Hoje consegui fazer algo que jamais tinha feito desde que aqui me encontro. Uma fachanha... Tomar banho sózinho, embora sentado, sem o apoio, ou mesmo presença, de qualquer enfermeiro ou auxiliar. Com muito cuidado lá penetrei no cubículo, quase inacessível, sentei-me com cuidado e fui cuidando da higiene, apesar de edema das pernas, que me torna o corpo, do joelho para baixo, como que pesando uma tonelada. Sair de lá foi dificil, mas consegui para me limpar adequadamente e vestir pijama tarefa complexa, apesar de ter deixado a roupa já previamente em posição mais fácil de manusear. Mas consegui.

Sinto também um maior à vontade em todo o movimento aqui no interior do quarto, onde muitas vezes se levantavam barreiras mentais a levantar-me para ir buscar algo.

Claro que a fisioterapia tem ajudado muito, mas a regressão do peso das pernas ter sido lenta, com avanços e recuos. De manhã tudo parece melhor, para o final do dia o peso aumenta, pois não consigo estar de perna estendida o dia todo, pois isso iria meter-me na cama, dado a situação particularmente dolorosa do meu "traseiro", massacrado por horas da posição sentado, sobre a magreza do "dito".

No exterior (quer dizer corredor), faço uns passeios acompanhado para recuperar o equilíbrio, mas curtos e sempre acompanhado pelo toque do fisioterapeuta para que não me estatele no meio do chão. São pequenas grandes evoluções num processo em que parece que estou a reaprender a viver. E será que não estou?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A força da vontade


Este é um título de um filme de homenagem a Hitler (lamento) mas esta frase traduz bem o meu espírito presente. A cabeça comanda tudo e é nela que está a solução. Apesar dos meus problemas acuais, edema nas pernas que me dificulta o andar e os diabetes induzidos pela medicação poderosa que estou a tomar, a vontade de sair daqui é enorme, rever os sobreiros, as casas alentejanas, os campos que suspeito estarem verdes, os velhotes de boné sentados nas beiras das tascas onde se bebem "mines", as pessoas que conheço, os recantos da casa, recolher esses cheiros, ver o Sol, que não vejo há meses, poder espraiar o meu olhar para um espaço com mais de dois metros à minha frente, enfim poder fazer mais ou menos o que todos fazem, sem pensar e sem dar valor a esses bens, de cuja privação, me aumentou o apetite.

Penso que este momento chegará breve, mas para isso a minha cabeça vai ter de suportar o peso das minhas pernas, e aí só a vontade tem força para vencer.

É muito fácil perante a adversidade deixar-se estar na cama, ir pelo caminho mais simples, não reagir. É isso que estou a tentar combater, ir buscar forças nas entranhas que reforcem essa vontade de combater.

Já voltei às minhas rotinas, blog, o meu diário, pois estou a recuperar de cabeça os quinze dias em que não podia escrever, ler, apenas ainda não iniciei a ouvir música, mas vejo um pouco de televisão (a propósito já se viu charada como esta campanha eleitoral ?).

PS: comecei a ler agora o "Livro" de José Luis Peixoto, li apenas dois capítulos, mas suspeito que será um livro inesquecível.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

É bom que amanheça, mas amargo amanhecer

Cá estou de novo. As situação pouco a pouco vai melhorando e é bom saber, apesar do sofrimento, que vamos ver o Sol. Ver é um eufemismo pois neste quarto as janelas estão forradas de alto a baixo com película que tapa, totalmente, qualquer vista exterior; assim temos apenas a vaga ideia de que há Sol, ou chuva quando esta bate na enorme vidraça. Parece feito para gerar claustrofobia... de resto mantém-se a vontade de sair daqui logo que possível, sem pressas, e com tudo controlado.
Agora temos o amargo amanhecer. Todos os dias me tiram sangue e já não há muito onde ir buscar. Pelas 7h00 entram, agulhas e outro material em riste, para um combate com os meus braços, de vários rounds, até conseguirem de lá expremer os restos de vida que ainda me sobraram, sob a forma de sangue. E não há método nesta guerra que não seja picar, furar, magoar, tentar as vezes necessárias. Por vezes passam de uns para outros, ditos mais experientes mas o combate só termina com o poderoso troféu em mãos, 20 cc de um líquido escuro.
Terei de aceitar que se não fosse necessário não se faria, mas que é uma forma dura de acordar depois de uma noite nem sempre bem dormida, é !

Debates televisivos

Temos vistos os debates? Não sei exactamente qual tem sido a audiência, mas já ouve quatro debates referentes às eleições de 5 de Junho.

Agora há um hábito que se instala, um dos participantes em vez de debater com o seu interlocutor, debate com outro que não está presente. Já se sabia que os políticos não respondem às perguntas que lhes fazem, ou como dizem, "a senhora faz as perguntas eu dou as respostas", agora a novidade é que não só não respondem, ou respondem ao que querem, como falam com pessoas ausentes. Aconteceu com Passos, no debate com Jerónimo, e ontem com Sócrates, no debate com Louçã. Trata-se no mínimo uma grande falta de chá para com o seu parceiro de debate.

A propósito de Louçã, como pode um homem preparado e inteligente, um catedrático, defender que um país não pague o que deve. Ou isto é o Burkina Faso ?

A propósito de Sócrates, quando se diz "não estou disponível para governar com o FMI", isto será uma frase tão complexa que tenha de ser explicada ? Ou o que tem de ser explicado é a falta de princípios ? Porque não se inspira no seu "amigo" Zapatero em vez de se inspirar no outro amigo "Chavez" ?

domingo, 9 de janeiro de 2011

Ano Novo, Coração Novo, Nova Vida


Os meus leitores amigos recordarão a minha última mensagem. Devem ter concluído, que o transplante se realizou, e 15 dias depois cá estou a dar novas para quem as quiser ler. Não vou ser, não posso ser exaustivo, mas cá vão algumas coisinhas. Foi uma prenda de 26 de Dezembro, e só sei que veio do Hospital de S. Maria para S. Marta. A operação foi rápida, das 21h30 à 1h30 da manhã, e às 8h00 estava acordado, apenas com algumas dores.

O meu novo coração funcionava, como se fosse meu, muito melhor. Eu estava ligado por imensos fios e tubos a máquinas que emitiam sinais de vária tonalidade sonora, com as quais decerto certos músicos de jazz fariam um concerto sem pestanejar. Tinha ventilação artificial, que foi retirada pelas 10h, e a partir daí começam uns dias num local chamado "isolamento", onde todas as pessoas que se aproximavam vinham de luvas, toca e bata esterilizada, assim uma câmara de pressão, antecedida de uma entrada onde um enfermeiro dedicado a mim se ía ocupando das diversas operações.

Nos dias seguintes tudo se simplificou. Foram retirando fios, tubos, cateteres, algália, drenos e outros empecilhos, levantei-me logo no dia seguinte para um cadeirão, e tirando algumas dores ligadas ao meu movimento todos me diziam que estava tudo a correr bem. Entretanto a minha nova máquina nem se sentia, funcionava como um relógio suiço.

Estive nesse isolamento 10 dias, até 4 de Janeiro. Passei por lá a passagem de ano, a dormir, e os enfermeiros nem convidaram para a boda, a propósito, comida mais ou menos passada e provocando repulsa, mas enfim, escolhi mal o hotel...

Daí passei para a enfermaria, que no fundo é um quarto de hospital onde não estou em contacto com outros doentes, e onde me encontro agora, já apenas protegido por máscara facial, posso sair ao corredor, andar um pouco, e estou já num regime mais livre. Claro que não me posso esquecer que sou a partir de agora uma nova classe de pessoas: os imuno-suprimidos, com os cuidados que terei de ter com as infecções, resfriados e outras pequenas coisas que não fariam mal a ninguém, mas segundo indicações a fase crítica nesse aspecto decorre apenas entre uns 6 meses e um ano.

Claro que estou sujeito a muita medicação complexa, mas à qual já estou adaptado. Tenho também outras consequências como ter apanhado diabetes e ter agora um edema nas pernas e pés que dificulta para já locomoção, mas parecem ser consequências habituais neste tipo de intervenções. Julgo ter dado uma ideia, embora pobre destes 15 dias, mas digo-vos a todos que jamais imaginaria, aquando do último post, que estaria aqui 15 dias depois a voltar a dar novidades.

A todos os que têm procurado notícias, aos que me deixaram comentários, e devo dizer que nesta fase ultrapassei já 1000 visitas, desde que o blog está activo, desde Junho, agradeço a vossa preocupação, sem a vossa presença, apenas saber que existem, tudo seria mais complicado.

A um deus que ainda procuro quero agradecer ter-me dado o que pedi: ver apenas a luz do dia de amanhã.

Um grande abraço.