sábado, 29 de janeiro de 2011

"Livro" de José Luis Peixoto

Terminei a leitura de "Livro" de José Luis Peixoto. Apenas gostaria de dar aqui alguns comentários da minha leitura, na quase totalidade feita no hospital. Trata-se de uma história feita de detalhes do velho Portugal pardacento e miserável dos anos 40 aos finais dos anos 60, da vida numa aldeia e da aprendizagem de um grupo de crianças, que desde cedo, e da pior forma tomam contacto com os meandros e as "aventuras" quase sempre dramáticas da emigração, por razões económicas ou outras.


A leitura desta parte do livro é para ler devagar, ir acompanhando a aprendizagem de vida de grupo de crianças, que vivem o pão que o diabo amassou, mas para quem o contacto com a terra, com os animais, com a vida pobre de uma pobre vila, onde quase ninguém obtem o mínimo para sobreviver, a sobreserviência aos poderes que os ignoram, são a sua escola, a escola da vida. A escrita destas página é de uma riqueza de linguagem, de uma simplicidade e de uma beleza que arrepia. (pode haver beleza, na miséria ?)


O livro, fala-nos também da vida nos "bidonville", com traços fortes, sem falsos moralismos ou lamechas, do encontro e desencontro das pessoas, das decisões que tomam, onde o afecto e o sentido de sobrevivência convivem lado a lado. Onde os encontros, mesmo os que são supostos "para a vida", duram de facto uma vida de pesadelo.



O "Livro" termina na actualidade e na perda da identidade, dos que são quase apátridas, de valores misturados e sem direcção definida. Afinal já tão longe do grupo de meninos que vivia sem pais dentro de uma capoeira de pombos, e do dia, em 1948, em que "A mãe pousou o livro nas mãos do filho", e partiu.

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