domingo, 9 de janeiro de 2011

Ano Novo, Coração Novo, Nova Vida


Os meus leitores amigos recordarão a minha última mensagem. Devem ter concluído, que o transplante se realizou, e 15 dias depois cá estou a dar novas para quem as quiser ler. Não vou ser, não posso ser exaustivo, mas cá vão algumas coisinhas. Foi uma prenda de 26 de Dezembro, e só sei que veio do Hospital de S. Maria para S. Marta. A operação foi rápida, das 21h30 à 1h30 da manhã, e às 8h00 estava acordado, apenas com algumas dores.

O meu novo coração funcionava, como se fosse meu, muito melhor. Eu estava ligado por imensos fios e tubos a máquinas que emitiam sinais de vária tonalidade sonora, com as quais decerto certos músicos de jazz fariam um concerto sem pestanejar. Tinha ventilação artificial, que foi retirada pelas 10h, e a partir daí começam uns dias num local chamado "isolamento", onde todas as pessoas que se aproximavam vinham de luvas, toca e bata esterilizada, assim uma câmara de pressão, antecedida de uma entrada onde um enfermeiro dedicado a mim se ía ocupando das diversas operações.

Nos dias seguintes tudo se simplificou. Foram retirando fios, tubos, cateteres, algália, drenos e outros empecilhos, levantei-me logo no dia seguinte para um cadeirão, e tirando algumas dores ligadas ao meu movimento todos me diziam que estava tudo a correr bem. Entretanto a minha nova máquina nem se sentia, funcionava como um relógio suiço.

Estive nesse isolamento 10 dias, até 4 de Janeiro. Passei por lá a passagem de ano, a dormir, e os enfermeiros nem convidaram para a boda, a propósito, comida mais ou menos passada e provocando repulsa, mas enfim, escolhi mal o hotel...

Daí passei para a enfermaria, que no fundo é um quarto de hospital onde não estou em contacto com outros doentes, e onde me encontro agora, já apenas protegido por máscara facial, posso sair ao corredor, andar um pouco, e estou já num regime mais livre. Claro que não me posso esquecer que sou a partir de agora uma nova classe de pessoas: os imuno-suprimidos, com os cuidados que terei de ter com as infecções, resfriados e outras pequenas coisas que não fariam mal a ninguém, mas segundo indicações a fase crítica nesse aspecto decorre apenas entre uns 6 meses e um ano.

Claro que estou sujeito a muita medicação complexa, mas à qual já estou adaptado. Tenho também outras consequências como ter apanhado diabetes e ter agora um edema nas pernas e pés que dificulta para já locomoção, mas parecem ser consequências habituais neste tipo de intervenções. Julgo ter dado uma ideia, embora pobre destes 15 dias, mas digo-vos a todos que jamais imaginaria, aquando do último post, que estaria aqui 15 dias depois a voltar a dar novidades.

A todos os que têm procurado notícias, aos que me deixaram comentários, e devo dizer que nesta fase ultrapassei já 1000 visitas, desde que o blog está activo, desde Junho, agradeço a vossa preocupação, sem a vossa presença, apenas saber que existem, tudo seria mais complicado.

A um deus que ainda procuro quero agradecer ter-me dado o que pedi: ver apenas a luz do dia de amanhã.

Um grande abraço.

2 comentários:

  1. Caro Amigo Carlos,
    Até que enfim.
    Já andava tristonha por nunca mais conseguir ler umas linhas suas.
    Acompanhei (como já sabe) a sua cirugia e o resto.
    Agora estou á espera do "cá fora".
    Continuo de pé o "convite" para uma exposição na Biblioteca de Ourique.
    Só tem que dizer quando.
    Desejo que esse "bate-bate" traga uma carga genética boa e o mantenha por muitos e longos anos.
    Eu acredito no tal Senhor e a Ele lhe agradeço o ter-lhe dado uma oportunidade de continuar entre nós, ver o nascer e o pôr do sol, por muitos bons anos.
    Um Abraço,
    Ana

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  2. Obrigado Drª Ana pelas suas palavras e pode crer que essa carga energética boa chegou apesar do sofrimento por que estou a passar nesta recuperação autónoma e por vezes muito solitária, mas ninguém me pode dar aquilo que só a minha cabeça agora pode conseguir, ultrapassar esse sofrimento e estar bem para a vida normal.
    Um abraço

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