domingo, 15 de julho de 2018

A poeira

O dia de hoje foi dedicado à poeira. Não a dos dias mas a real que entra por portas e janelas, que vem agarrada às botas, que é trazida pelo vento. Quem vive no campo não se liberta dela. E a poeira é natural mas má para um fragilizado como eu. Afinal sou alguém de saúde débil, e de estado permanente de risco, o risco de um homem a quem Deus emprestou um orgão vital para viver. A minha vida está ligada à vida desse músculo que um dia escapou à morte do seu dono/a.
Mas na poeira muita vezes encontro motivos de júbilo. Vamos ver, um livro que aparece e já não via há anos, coberto de pó e que de repente está nas minhas mãos tantos anos depois a dizer lê-me !!! Uma fotografia, ou muitas, que andavam entregues á sua sorte e de repente trazem para os dias de hoje momentos inesperados de recordação. É o caso. Umas fotos em Santiago de Compostela, em 2000, fazem agora dezoito anos, e recordam momentos bons que se viveram por lá, num estranho hotel, com cama virada à janela, uma foto em particular de alguém que sorri, um sorriso carregado de emoção, o que iria já naquela cabeça, afinal a partida estava eminente. De lá prefiro recordar a beleza da cidade, a imponência dos monumentos, o domínio da pedra, a gentileza da companhia. Alguém sorri em Santiago ! A separação estava eminente, mas sorria, como se apenas o dia de hoje contasse. E afinal assim foi. Estava determinado que eu não saberia aproveitar a leveza. Muitas vezes está tudo ali e não queremos ver. A poeira trouxe agora tudo de novo. E o velho fez-se novo afinal.

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