sexta-feira, 4 de abril de 2014

O meu 25 de Abril (35)

Setembro de 1973 embarcava em Santa Apolónia para o meu primeiro e único Inter Rail. Já aqui publiquei diversos posts relativos a essa viajem inesquecível, mas no contexto do meu 25 de Abril, não poderia deixar de a referir aqui. Estava a um mês de completar os 21 anos, na altura idade limite para se usufruir deste bilhete, que permitia viajar em toda a Europa, ou pelo menos na Europa Ocidental, pois nestes tempos, havia uma coisa que se chamava Europa de Leste, que era inacessível a estas benesses, com os seus regimes comunistas, em que o "povo" governava (está-se mesmo a ver...) A viagem foi a minha primeira saída fora deste rectangulo cinzentissimo. Assim de comboio até Vilar Formoso, onde a PIDE passava a pente fino o pessoal, sobretudo os que estavam na "idade militar". Daí a Irun/Hendaye e mais tarde Paris, onde cheguei dia 12 de Setembro, o dia seguinte ao Golpe Pinochet no Chile. Aí fiquei admirado com as repercussões públicas deste evento, coisa impensável em Portugal. Dormi três noites, num "auberge de jeunesse", e visitei algumas coisas que tinha imaginado. O Louvre, o Jardim Luxembourg, a Notre Dame e sobretudo o Quartier Latin, onde o Maio tinha ocorrido há 5 anos, a animação era muita, manifs permanentes na Place S. Michel, e a livraria Joie de Lire, onde comprei algumas obras que jamais chegariam a Portugal, pensava eu. Paris era e facto, coisa que ainda hoje se mantem, uma cidade espetacular, de dia e à noite. Gente por todo o lado, um ar que se respirava em pleno, e uma sensação de liberdade que contrastava com as cidades portuguesas, acabrunhadas, cinzentas e cadavéricas. Este meu primeiro contacto mostrava que a liberdade era possível, e não era o "fim do mundo", o "deboche", de que os politicos fascistas referiam em Portugal. E lá andavam os portugueses nas ruas, a trabalhar nas obras, nas limpezas, nos táxis, a fazer pela vida que lhes era negada em Portugal. Mas o meu destino era Lund, na Suécia, onde o meu amigo e vizinho, tinha combinado receber-me e já era candidato a refractário, onde estava desde 1972, pelo que não poderia regressar a Portugal. Assim depois deste primeiro banho de cosmopolitismo, meti-me de novo no comboio na Gare du Nord, rumo a Copenhaga, onde cheguei depois de uma viagem nocturna de 16 horas, pela França e Alemanha. De Copenhaga iria rumar de barco a Malmoe e Lund distaria uns 30 quilómetros, coisa rápida, e acabaria por encontrar o meu amigo numa residência universitária, rodeado de verde, de bicicletas, já a estudar na Universidade local. Tudo ali me espantava, estavamos em campanha eleitoral na Suécia ( coisa que iria ocorrer em Portugal em Outubro de 1973) e ali pude ver o que era uma campanha em liberdade, coisa de que só ouvira falar. Que pacóvio !!!

2 comentários:

  1. Hahaha! Realmente, agora aqui (em Portugal) as coisas estão bem diferentes, apesar da crise! Obrigada pela partilha.

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    1. Apesar das dificuldades estamos de facto noutro país. A própria Europa é agora outra e muito melhor. Valha-nos isso, infelizmente quem não viveu esses tempos não pode avaliar.

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