quarta-feira, 17 de junho de 2015

Hélia Correia prémio Camões

Em 1972  comprei um LP de José Jorge Letria, e nele vinha este poema que é um hino, e foi-o no combate contra a opressão em Portugal. Escrito por Hélia Correia, hoje prémio Pessoa. Estou muito feliz com este reconhecimento a uma escritora que nunca se põe em bicos de pés.

Que o poema tenha carne
ossos vísceras destino
que seja pedra e alarme
ou mãos sujas de menino.
Que venha corpo e amante
e de amante seja irmão
que seja urgente e instante
como um instante de pão.
Só assim será poema
só assim terá razão
só assim te vale a pena
passá-lo de mão em mão.
Que seja rua ou ternura
tempestade ou manhã clara
seja arado e aventura
fábrica terra e seara.
Que traga rugas e vinho
berços máquinas luar
que faça um barco de pinho
e deite as armas ao mar.
Só assim será poema
só assim terá razão
só assim te vale a pena
passá-lo de mão em mão.

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