Lembro que na altura dos 25 de Abril havia pessoas mais antigas que diziam que ainda havíamos de "comer por senhas" querendo recordar os tempos da guerra que viveram, anos 30/40, em que a comida era racionada, e as pessoas só tinham direito a uma quantidade limitada de alimentos. Era o tempo do contrabando, da candonga, em que algumas fortunas se fizeram a furar o esquema, isto a propósito da confusão que lhes faziam esses tempos conturbados. Ontem voltei a ouvir falar de "racionamento", mas na saúde. Altos comentadores referiram que lá teríamos de chegar, pois o Estado não vai poder pagar o melhor tratamento para todos. Assim vamos ter de decidir a partir de que idade só os que tiverem dinheiro fazem hemodiálise, em que condições se pode propor um transplante, quem se medica com aquele fármaco de preço proibitivo, a quem se coloca uma prótese de melhor qualidade, e a quem se paga uma operação à coluna, a quem se implanta um CDI.
Julgo que é um tema a reflectir, não para se rejeitar a discussão. Mas só depois de se acabarem com os desperdícios na saúde, e de estarmos certos de que as pessoas têm acesso a uma rede de cuidados primários que lhes permita uma verdadeira prevenção da doença, coisa que hoje ainda está longe. De resto a actividade curativa deveria ser quase a excepção, e nesse caso poderíamos graduar os tipos de terapia utilizada. Não me repugna que a alguém com 70 anos não se trate do coração da mesma forma que a alguém com 30 anos, mas só depois de esgotar outras formas de abordar o problema dos gastos na saúde e não como primeira medida. Senão a saúde torna-se numa vulgar mercadoria, coisa que não é...
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