domingo, 25 de novembro de 2012

Twenty five

25 de Novembro de 1975, uma data que já ninguém recorda perdida nas memórias, cheia de poeira do tempo que assentou e começou a cobrir tudo de um manto fino mas opaco. Por mim, iniciei nesse dia o meu curso para "técnico de exploração" nos CTT, que duraria 6 meses, embora estivesse a estudar no Técnico em simultâneo, mas precisava do emprego, já nessa altura. O curso decorria num andar do edificio dos CTT dos Restauradores, o grupo tinha 3 turmas e cada turma cerca de 25 pessoas. Todos jovens, eu tinha acabado de fazer 23 anos, e tinha casado há pouco mais de um mês. As notícias já há alguns dias indiciavam uma grande instabilidade política-militar, nessa altura os militares tinham um papel de grande relevo. De repente, a meio da manhã, ouviam-se nos Restauradores algumas detonações, alguns disparos de obus. Na realidade eram disparados na Calçada da Ajuda, mas ouviam-se com nitidez.
Sabia-se que havia muito quem entendesse que se devia pôr termo à aventura da esquerda militar, e tal acabou por acontecer nesse dia. Na altura, para mim, foi um drama, o fim de um sonho, que não sei se seria um sonho realizável, nem mesmo se seria um sonho bom, ou um pesadelo. Para muitos outros foi o gesto que permitiu "salvaguardar" a democracia e afastar o espectro de uma ditadura de esquerda, ou uma ditadura popular, como na altura era defendida pela extrema esquerda militar, e civil, UDP, e outros. O PCP não partilhando a tese da extrema esquerda aproveitava para ter na área do poder os seus representantes mas sobretudo para dominar na área militar onde dispunha de muitos adeptos. Nesse dia Melo Antunes disse à noite na TV que "o PCP é um partido fundamental para a democracia", e assim o salvou de uma ilegalização que parecia na ideia de muitos. Esta entre outras razões que fizeram de Melo Antunes um dos homens que mais contribuiu para estabilizar este país quase ingovernável, já naquela altura. Trinta e sete anos depois, embora com outras razões e com outros actores parece que é verdade o que dizia o imperador romano "lá para a Ibéria há um pequeno povo que não se governa nem se deixa governar".
PS: na imagem para recordar Eanes, Neves e Lourenço, alguns dos autores do evento...

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