sexta-feira, 20 de abril de 2012
Passado ainda próximo
Por vezes sabe bem reler os escritores e os livros de um passado distante, mas ainda assim não tanto que não me recorde dos sinais desses tempos. Estou a falar de "Dia Cinzento e outros Contos" de Mário Dionísio, escritor, poeta, pintor, professor, e tantas outras actividades. O livro é de 1944, embora publicado neste formato em 1967 e reeditado mais tarde nos livros de bolso da Europa América, já desaparecida. Os contos, no melhor estilo neo-realista, mas indicam caminhos para a literatura do futuro. Relatam também uma realidade do país nos anos 40, a ditadura, a pobreza, as desigualdades sociais, a luta e o que muitos abandonaram por ela. Uma imagem de um país cinzento, visto pelo escritor, ele próprio um intelectual e dirigente do Partido Comunista. Para não esquecer, nestes tempos de crise, que a crise não é só agora, embora talvez agora haja menos esperança do que nesses tempos idos, em que se sabia que a queda do salazarismo era inevitável, podia demorar mas viria. A crise era motivada por algo exterior, que podíamos fazer parar à nossa porta, hoje a crise mora no interior de todos nós, corrói por dentro, mina e corrói-nos a todos, desgasta. É bom rever os que resistiram. (Nota: na imagem um autoretrato do autor em 1945)
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