quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Aparição

" Fecho o album acendo um cigarro. Para lá da janela atinjo a linha azul do horizonte que se desvanece na tarde. Penso, penso. Não, não penso: procuro. Outra vez, outra vez. Não, não quero "saber", sei já há tanto tempo... Mas nenhum saber conserva a força que estala no que é aparição. Porque o escrevo de novo ? A verdade é que nada mais me importa. E , todavia, um estranho absurdo me ameaça: quer ser, ter, e uma aparição não se tem, porque não seria aparecer, seria estar, petrificar-se. Queria que a evidência me ficasse fulminante, aguda, com a sua sufocação, e aí, na angústia, eu criasse a minha vida, a reformasse. Mas uma reforma, uma regulamentação é já do lado de fora. Quem é fiel a uma certeza e a pode ver quando lhe apetece ? "

"Aparição" de Vergílio Ferreira, 1959

Aparecer é revelar-se, a revelação de si a si próprio, aparecer não é saber, não é ter ou estar, é ser.

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