"Depois viemos para a rua ver a noite, a cidade, a planície obscura, atravessada longe por um pequeno comboio todo iluminado, como por uma larva estranha. Deitá-mo-nos numa rocha, olhando os astros. Eu falava das estrelas, das gigantes vermelhas, das anãs brancas, das novae, da medição das distâncias, das nebulosas, da nossa galáxia. cuja distância máxima, de extremo a extremo, é de cem mil anos luz, da Andrómeda, a mais próxima, a um milhão de anos luz, dos montões de galáxias, algumas à distância de quinhentos milhões de anos luz, das grandezas relativas, da E do Cocheiro, que é maior que a órbita de Saturno, dizia nomes de um sabor terrível para mim, Arcturo, Capela, Aldebarão, Rigel, Betelgeuse, Altair, falava do aspecto da Ursa daqui a cem mil anos, contava de textos indianos em que se falava de certa polar, o que só poderia ter acontecido há x milhares de anos, contava do "movimento de precessão"...
... em cada 25000 anos o eixo da Terra descreve um cone duplo em torno da perpendicular à elíptica...
... e que há 120 séculos a nossa polar não era a estrelinha que sabemos, mas a Vega; e que daqui a outros 120 séculos será a Vega outra vez...
- Pois bem - disse Sofia - Para toda essa coisa brutal, como inventar uma resposta ? "
"Aparição" de Vergílio Ferreira, 1959
Anos que passaram mas as dúvidas do Homem mantêm-se.
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