segunda-feira, 5 de março de 2012

Um político assume-se

Terminada a leitura deste último livro de Mário Soares, aqui uma pequena nota. Se este político não se assumisse não sei quem em Portugal o poderia fazer, isto quando alguns dos políticos preferem dizer que nem sequer são políticos profissionais, apesar de passarem dezenas de anos na política, e boa parte deles em governos, assembleia ou artarquias, isto porque têm a noção da baixa imagem que têm junto da população. Mário Soares, antes pelo contrário assume-se aqui com a imagem que todos deles conhecem.
A parte relativa aos anos antes do 25 de Abril, e a que vai até à primeira presidência é sem dúvida a parte interessante do livro. Não que sejam divulgadas coisas que quem seguiu essa época não saiba já, mas pela visão que transmite de continuidade da sua luta pelo que sempre defendeu, uma democracia, a que outros chamariam burguesa, um socialismo democrático, a que outros chamariam traição aos trabalhadores. Contra esses outros sempre se bateu, e isso fica claro, antes e depois do 25, e o livro mostra também como os seus adversários, prevendo sempre a sua derrota, se enganaram redondamente, por vezes contra os prognósticos que o davam derrotado, seja Salazar, Marcelo ou Cunhal.
Falo à vontade, pois na casa dos 20 anos na altura do 25, vivi aqueles anos de forma intensa, sempre no lado oposto ao de Mário Soares, sobre o qual tinha a pior imagem em 74/75/76. Hoje reconheço o engano, na realidade as ideologias utópicas que eu defendia na altura mostram hoje que faliram há muito, e a nada conduziriam, senão a mais desgraça, guerra civil e miséria social igualitária. Mário ganhaste !!!
Continua a ser uma referência de uma esquerda do "possível", "socialista" na perspectiva social, políticamente um realista.
O restante do livro mostra um presidente que se entronizou, e um ex-presidente que distribui charme em todas as ocasiões, não sem referir ainda as últimas experiências políticas de parlamentar europeu, e de candidato presidencial, que nos procura explicar como pode, sem se entender muito bem, nomeadamente essa célebre candidatura.
Livro de 500 páginas que se lê num ápice, prometendo continuar a intervir apesar dos seus 87 anos. Caso raro neste país.

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