sábado, 8 de março de 2014

O meu 25 de Abril (12)

Ano de 1969 foi ano de eleições. Sim, também havia eleições, mas quase não se dava por elas. Para mim, nos meus 16 para 17 anos, agora no Liceu, após a experiência choque no IIL, estas coisas já não me passavam ao lado. As "eleições" foram a 26 de Outubro de 1969, antecedidas do Congresso Republicano que decorreu em Aveiro em 16 e 17 de Maio. Foram talvez as primeiras "eleições" que acompanhei, tanto quanto era possível, pois a informação era escassa e manipulada, e  as eleições uma total mistificação. Recordo-me que o recenceamento era dificultado, e havia alguns que eram recenceados automaticamente, caso dos funcionários públicos, tidos por tropa de choque do regime. Uma vez recenceados, e foram cerca de um milhão de portugueses em quase 9 milhões, eram as forças concorrentes que faziam chegar por correio os seus boletins de voto aos votantes, pois estes não estavam disponíveis nas mesas de voto. Assim em 1969 houve quatro forças concorrentes, não eram partidos, pois estes não tinham existência legal, e eram a União Nacional, do regime, a CDE, mais próxima do Partido Comunista, a CEUD, dos socialistas, e a Monárquica. Estas forças se queriam que se votasse nelas tinham de enviar os seus boletins aos eleitores, para o que tinham de ter acesso aos cadernos eleitorais, coisa que lhes era dificultada ao máximo, com embustes legais. Assim as pessoas mesmo que quisessem votar nas oposições não podiam pois não dispunham dos seus boletins de voto, e os da União Nacional chegavam sempre. Desta forma votava-se e era fácil saber quem votava e em quem. Como só depois dos 21 anos se votava, para mim era uma miragem. Entretanto havia expectativa por serem as primeiras eleições na primavera marcelista. Puro engano, tudo era igual. No final a UN teve 86% dos votos e 100% dos lugares. O que eu não sabia é que entre os eleitos da UN estavam nomes como Francisco Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Pinto Leite, Miller Guerra, Magalhães Mota, entre outros, que tinham sido convidados como independentes, e que haveriam de constituir a chamada "ala liberal" que muitas dores de cabeça acabaram por dar, tornando-se, como diziam os ultras, "cavalos de tróia" dentro da Assembleia Nacional, e que acabaram por trazer para a ribalta muitas das aspirações das pessoas, com a vantagem de, sendo deputados, as suas intervenções passarem na comunicação social sem cortes. Ficaram célebres os "debates" de Sá Carneiro, com o ultra-montano Casal Ribeiro, e outros fascistóides. Quatro anos mais tarde ía-se repetir a farsa mas aí já sem estes actores. Eram assim estes anos que se aproximavam do meu 25 de Abril.

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