quarta-feira, 12 de março de 2014

O meu 25 de Abril (17)

Como já se percebeu o meu 25 de Abril fez-se em várias frentes, sendo que a informação e a formação de uma opinião esclarecida, foi uma das frentes que mais valor acrescentou. O regime tudo fazia para fazer face a essa frente procurando impedir a livre informação, não propondo outra informação, mas pela repressão, proibição e criação de index de obras que não podiam estar disponíveis pois "causavam dano", as tais que estavam nos catálogos identificadas com "fora de mercado" e que eram as que tinham maior procura, pois apesar disso encontravam-se em algumas livrarias e alfarrabistas.  Claro que perante tais argumentos a derrota era certa, tudo seria uma questão de tempo. No dominio da formação da opinião em termos de politica internacional, dado o miserabilismo da imprensa, podia-se dizer que não havia uma opinião formada, para além do obscurantismo e do anti-comunismo primário, de um regime que via agitadores em todo o lado, e tudo resumia a guerras de arlequim e manjerona, entre os bons (nós...) e os maus ( todos os outros...)  Para a formação da opinião esclarecida muito contribuiu a edição dos Cadernos D. Quixote, da editora do mesmo nome, que ainda hoje existe integrada agora no Grupo Leya. A criação dessa editora, e o teor progressivo que tinha na altura, deve-se a uma pessoa de grande dimensão, que faleceu de forma trágica e prematura, Snu Abecassis. Os Cadernos D. Quixote editavam à volta de temas da actualidade, cada caderno dedicava-se a um tema, e dele publicavam artigos já publicados na imprensa internacional, ou em livro, dando, acerca do mesmo assunto multiplas visões. Eram pequenos, baratos e de leitura fácil, e os temas iam das Drogas, ao Biafra, Suécia, Bolivia, Guevara, Cuba, a Pílula, Tito e a Jugoslávia, Crises Monetárias, a Grécia, e muitos outros. Não posso dizer exactamente entre que período se publicaram, mas sei que em 1970 já os lia mensalmente, e que se mantiveram até ao 25 de Abril. A chegada da liberdade de imprensa retirou espaço a esta publicação. Eram assim uma espécie de Seleções de Readers Digest, mas em versão pregressista e sem o longo braço do imperialismo americano, que na altura se colava a essa publicação editada pela ITT. Durante anos mantive esses pequenos cadernos que se mostravam actuais para além da data em que se publicaram. A D. Quixote de Snu deixa muitas saudades, publicou outras belas colecções acessíveis a todos, de que mais tarde falarei. Fazem parte do meu 25 de Abril.

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