Em 1968 fiz 16 anos. Nada compara um jovem de 16 anos nesse ano já ido, com um jovem de 16 anos dos nossos dias. Naquela altura as preocupações eram outras, e quando falo de um jovem de 16 anos hoje estes jovens têm uma maior igualdade entre si, o estilo de vida é mais normalizado, no bom e no mau. Naqueles anos não era assim. Muitos aos 16 anos trabalhavam, poucos estavam na escola, o nível de escolaridade era baixissimo, o nível cultural e de conhecimento do mundo diminuto, mas no domínio dos valores estaríamos melhor, "o respeitinho era muito bonito", defendia-se "pobrete mas alegrete", a autoridade de pais, familiares, professores era indiscutivel, e no horizonte o espectro da guerra despontava, pois em breve estaria lá. O ano no IIL terminara e ía voltar ao Liceu de Oeiras. Durante o verão o tempo decorria lentamente, nesse verão descobri um livro e um escritor que haveria de me marcar durante alguns anos, estou a falar de Jorge Amado. Não passo sem contar como cheguei lá, pois isso é o mais interesante. Nesse ano fui pela primeira vez à Feira do Livro. Pouco se podia comprar pois o meu pai ganhava pouco e a mãe estava em casa. Trouxe de lá um catálogo de uma editora já desaparecida a Europa América, e nesse catálogo anunciava-se que se podia fazer uma compra de dez livros, escolhidos do catálogo, e pagar em mensalidades. E, após falar com os pais, a contragosto lá aceitaram a ideia, isso de crédito não se sabia o que era, e a prestações comprava-se um frigorifico, mas livros ??? Assim foi, escolhi dez livros, o meu pai assinou um papel que lá estava, enviei e fiquei a pagar 18 escudos todos os meses nos correios. A escolha tinha de ser criteriosa, e no meio veio Jorge Amado, Jean Paul Sartre, Alves Redol, entre outros. Jorge Amado vinha representado por um clássico que li num instante nesse verão e me impressionou muito, "Gabriela, Cravo e Canela". Até aí pouco mais teria lido que Júlio Dinis, Camilo ou Eça, que se lia no Liceu, mas isto era outra coisa, tinha um gosto diferente, era uma linguagem nova, e aí começou a minha ligação com Jorge Amado, que me levou mais tarde a ler mais, até culminar na leitura dos "Subterraneos da Liberdade" (em 3 volumes), mas só depois do meu 25 de Abril, pois naquela altura estava "fora do mercado", assim apareciam nos catálogos os livros que estavam proibidos, e estes 3 livros estava proibidissimos. E assim durante este verão começou uma relação com o livro que se mantém até hoje. Assim quando muito mais tarde a primeira telenovela brasileira em Portugal foi "Gabriela" eu seria dos muito poucos portugueses que sabiam o que era, e já a tinha lido há muito tempo. Esta e muitas outras leituras fizeram o meu 25 de Abril, aquele que se passou na minha cabeça. A imagem que coloco é a do livro que li, 1ª edição em Portugal de 1966, uma bela capa, das poucas capas desta obra onde não aparece a Sónia Braga ...
Sem comentários:
Enviar um comentário