segunda-feira, 31 de março de 2014

O meu 25 de Abril (32)

Após os acontecimentos de Outubro de 1972, com a morte de Ribeiro Santos, jamais houve "sossego" nas diversas faculdades. A minha memória não chega para recuperar todos os acontecimentos de caracter académico, anti repressivos ou mesmo de cariz político que se passaram no Técnico nessa altura. Entrava no ano lectivo 72/73 para o terceiro ano, o célebre terceiro de electricidade, e a sucessão de acontecimentos que conduziram à anulação desse ano lectivo é imparável, qualquer diferendo com professores, avaliações, conduzia a sucessivas RGA, a formas de luta e greve a provas ou exames, mas agora, o conteúdo político era mais intenso e já extravazava a escola. Eu apesar de estar no terceiro ano tinha ainda uma cadeira do primeiro em atraso, Análise Matemática II, que tinha necessáriamente de fazer nesse ano, pois corria risco de prescrição, o que ocorria ao terceiro chumbo, e impedia de pedir adiamento ao serviço militar o que implicava incorporação imediata.  Felizmente acabei por fazer essa cadeira em Fevereiro de 1973, e o pior passou, mas entretanto os diversos acontecimentos, levaram a que a polícia de choque se instalasse de armas e bagagens no interior da erscola, onde chegava todas as manhãs e só saía ao fim da tarde, para evitar qualquer manifestação de contestação. Era a repressão em si mesma, e era a solução "pedagógica " para todos os males. No entanto a contestação continuava, as aulas eram interrompidas, exames boicotados, um grupo de 20 e poucos alunos foram expulsos, durante 1973, o que agudizou as lutas, e tornou o ambiente irrespirável. Para controlar o que se passava nas alamedas do Técnico, o novo director Sales Luís, mandou instalar câmaras de filmar nos telhados, e quando havia ajuntamentos ou contestações ruidosas, o Sales, que até tinha sido um bom professor, mandava um seu acólito subir aos telhados e filmar o que se passava. Mas ainda não se conhecia o comando à distância nem as câmaras portáteis, pelo que dava muito nas vistas e aumentava a fúria da estudantada. Um dia o pessoal "passou-se" subiu aos céus, e eis que a câmara voou do telhado, aterrando em estilhaços no calçadão !!! Foi a gota de água...
Este director, que só saiu no 25 de Abril ficou tristemente conhecido por Bufo Sales. E assim se perdeu um bom professor, amigo de Louis de Brooglie, autor dos manuais de Fisica decentes pelos quais estudávamos, que tinha um assistente que tinha sido o melhor aluno do Técnico dos ultimos anos, António Guterres, que ainda foi meu professor de Física II, único assistente a quem o Sales permitia dar aulas teóricas. Mas a situação só piorava, e em Maio de 1973, se a memória não me atraiçoa, para dominar a situação que nem com polícia lá ia, o Sales decidiu anular o ano lectivo, encerrar a escola e mandar tudo para casa de férias antecipadas. A partir daí começou a comunicar com os alunos através de cartas que enviava para casa, para alertar os pais da situação em que a escola estava, como se todos fossem meninos do liceu. O macacal apanhou-se de férias e foi engrossar a contestação em outras escolas, reunindo as comissões de curso em Medicina, escolhida sempre porque a mistura de escola e hospital, e o seu caracter labirintico, impedia a policia de actuar pois todo o publico entrava no Hospital de S. Maria, e não se podia distinguir os estudantes. Começava agora um perído negro em que o Técnico já não abriria normalmente até ao 25 de Abril, transformando-se sob a batuta de Sales Luis numa escola- prisão. Depois explico como !!!

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