terça-feira, 18 de março de 2014

O meu 25 de Abril (23)

  A musica, os autores, os músicos, os "baladeiros", foram uma das frentes mais interessantes na resistência contra o regime. Se num primeiro tempo tinhamos apenas as baladas com letras carregadas de tristeza, revolta ou protesto, nos finais de anos 60, que chegavam a muitos poucos e sem êxito popular, nem divulgação fora das universidades ou algumas sociedades de cultura popular, a partir dos ans 70 tudo se alterou, e essas músicas aumentaram a sua eficácia através de arranjos musicais bem feitos, letras, embora rebuscadas mas de grande eficácia, o que pouco a pouco impôs muitos músicos e deu-lhes uma popularidade ao nível dos "nacional cançonetistas", que distraiam o povão com as suas "larachas". De tal forma que o próprio Festival da Canção RTP foi invadido por música deste tipo e que lograram vencer alguns deles, como a Desfolhada, Festa da Vida, Tourada, entre outras canções que eram um canto inteligente e só por isso se distinguiam. Em 1972 Portugal esteve presente no Festival da Canção do Rio de Janeiro, e foi organizada uma votação num jornal, penso que seria no "Diário Popular", e os votos eram enviadas em boletins colados em postais, e ganhou nem mais nem menos que José Afonso, e logo com uma música nada neutra ou folclórica, "A morte saiu à rua", que tinha saido no LP "Eu vou ser como a toupeira" de 1972. A canção era alusiva ao assassinato do pintor comunista Dias Coelho em Alcantara, e a sua letra não deixava crédito por mãos alheias, nem falava por meias palavras. E lá foi José Afonso representar Portugal, para espanto de todos. Nunca mais até ao 25 de Abril as coisas foram as mesmas, e essas músicas ouviam-se agora com alguma facilidade nas rádios, eram sucesso junto das pessoas e vendiam bem, como agora não se vende. Até Marcello Caetano falou delas numa das suas conversas, referindo que se tratavam de "factores de desmoralização da nação". Vinha de facto aí um dilúvio que ele nem ninguêm conseguia parar.

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